UMA VISITA AO MEMORIAL DA AMERICA LATINA

É sábado à tarde e acredito seja um bom dia para visita ao Memorial da América Latina, um grande e bonito espaço paulistano.

Já fiz minhas pesquisas, vou munida de dados teóricos, mas vou conferir algumas coisas que sei de vivencias in loco.

Uma olhada geral:
- monstruosamente grande no centro de uma cidade em que cada metro quadrado já tem construções. Hoje, a volta toda é de “palitos” de concreto.

No espaço, construções das mais variadas formas arquitetônicas; longe umas das outras o suficiente para não se perder nada das formas mas não perto o suficiente para manter uma integração maior.

Uma constatação:
- nem uma viva alma circulando entre as construções e as palmeiras que estão desoladamente sozinhas. Nenhuma pessoa. Pelo menos do lado maior porque o Memorial é divido por uma rua de transito apreciável.. Para uni-las há uma passarela que pela desolação e vazio causa medo. Principalmente nos dias de semana. Não convida a atravessa-la.

O Memorial já tem quase 20 anos. Foi inaugurado em 1989 durante o governo de Orestes Quércia. Como todo governante ele quis deixar para a cidade a sua marca em uma obra faraônica. Aliás, todos têm essa mesma idéia. Aí convocou Niemeyer, já com 82 anos e muita fama. Deu-lhe muito espaço que foi totalmente arrasado ficando uma “mesa” plana de cerca de 80 mil metros quadrados (cerca de sete campos de futebol). E aí o arquiteto distribuiu as várias construções: salão de Atos, Biblioteca, Pavilhão da Criatividade, Auditório Simon Bolívar, Galeria Marta Traba,... E outras que foram foram sendo terminadas e utilizadas.

Freqüentei muito o Memorial a partir de 1989 quando a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo se apresentava no auditório Simon Bolivar. Então conheci bem esse local e fui conferir alguns dados. Não me deixaram entrar. Disse o segurança que estava fechado. Insisti. Só queria dar uma olhada. Não deixou.

Sou teimosa, obstinada. Andei mais de 100m e fui até a administração. Argumentei como se fosse uma turista estrangeira que não pudesse ver uma obra de arte. Claro o funcionário de maior hierarquia entendeu, telefonou e voltei os 100m para o auditório. Aí o segurança me acompanhou, abriu correntes e portas. E eu me dei conta que não me lembrava do tamanho absurdo do imenso foyer com as rampas de acesso. Muito muito grande. Painel sinuoso de 10m x mais de 2m. quase desaparece no monumental saguão.
Mas, o que eu fui ver mesmo foi o que eu sempre chamei de “galinha dourada” e que na verdade recebeu o nome de Pomba de seu escultor Alfredo Ceschiatti. Não me lembrava que ela fosse tão grande. Tem 3m de envergadura por mais de 2 de altura. Ficou esse tempo toda na minha memória como caracterizando esse espaço. Embora agora saiba que é uma pomba, para mim continuará sendo “galinha dourada” porque é amarela porque é de bronze e porque parece mais uma galinha. Vá ver.

Consegui entrar no auditório para conferir outros dados que mesmo estando em minha memória fui conferir nas minhas anotações.

Quando o auditório foi construído, o palco era um grande circulo cercado pela platéia em toda a volta. Visão megalomaníaca inspirada em teatros europeus, onde o publico realmente lota as acomodações. Não era o nosso caso. A orquestra ensaiou várias posições e sempre ficava de costas para uma parte da platéia que “pingava”. E a acústica era ruim. Por quê? Não sabíamos.
Só não ouvíamos direito.

Lembro-me de uma vez em que, para um concerto foram colocadas caixas acústicas enormes. Causou, arrepios: CAIXAS ACUSTICAS EM UM CONCERTO!!!!

Solução: o palco e a platéia foram divididos ao meio e aí sim ficou de tamanho adequado.
Mais ainda. Em uma das laterais do auditório há um painel, um mural de aproximadamente 800 metros quadrados de Tomie Ohtake. Lindo, com quatro cores de tapeçaria, privilegiando curvas em um desenho com unidade visual.

Em uma das apresentações da orquestra, ainda no começo da década de 90, notamos retângulos pretos na tapeçaria. Fariam parte dela? Não parecia. Era discrepante. Curiosos, perguntamos: eram saídas do ar condicionado. recortados na tapeçaria. Nesta visita recente conferi essas aberturas que são várias, mas uma delas está fazendo uma intervenção completamente anômala na tapeçaria. SEM COMENTÁRIOS.

E mais: ao dividirem palco e auditório também dividiram o painel. Tirando toda a unidade. Constatação real de algo que estava incomodando na memória.

Na volta de outros 100m, sem encontrar ninguém, passei pelo pavilhão da Criatividade. Vale à pena ver várias vezes e reservar um espaço só para escrever sobre ele.

Aproveitei para ver algumas obras de arte espalhadas pelo exterior. Todas elas muito grande para acompanhar a determinação de arquiteto (Niemeyer) e antropólogo (Darcy Ribeiro)

De todas as mais impressionante é sem dúvida A Mão, com 7 metros de altura e o “sangue” que escorre do mapa do continente sul americano em baixo relevo, realmente é deprimente.

A visita foi mais do que uma constatação de fatos de um tempo quase de inauguração, uma volta ao passado pessoal, de um tempo de boa musica em que o grande Eleazar de Carvalho comandava uma Orquestra Sinfônica do Estado que não tinha morada fixa, mas tinha já uma garra que continua até hoje.

Vale a pena ir ver de novo. O Memorial da América Latina.

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