MUSICA EM AGOSTO -segunda quinzena

No sábado, 16, ouvimos no CIEE a Orquestra Bacheana Jovem conduzida por João Carlos Martins. Para quem não sabe a sua história, procure lê-la.. A Sinfonia nº Um de Beethoven, a mais mozerteana de suas sinfonias foi executada no capricho por jovens instrumentistas, ensaiando os passos no mundo artístico. A apresentação de uma pianista de 85 anos sensibilizou os presentes que nem se importaram se ela tocou bem ou mal, mas admiraram a sua garra. E aí João Carlos Martins executou ao piano Adios Nonino de Piazzola, do jeito que ele pode. Hino Nacional num arranjo dele foi ouvido com ele e a orquestra. Teve que conceder à platéia dois bis em um esforço hercúleo de quem saiu de um hospital para a sala de concertos.

No domingo 17, minha agenda tinha o concerto da OSESP no Ibirapuera, tocando a sempre querida Carmina Burana. Fui de carro para ser mais fácil. Não consegui chegar. Todas as entradas do parque estavam fechadas. Por causa do concerto? Não fiquei sabendo.

Não fiquei brava, não me estressei e fui fazer o que precisava e não estava encontrando brecha de tempo: supermercado. Aqui também se come.
Em casa o jeito foi colocar o CD da Carmina Burana e “fazer de conta” que estava no parque. Um plano dois é sempre bom de ter.

Meio dia liguei o computador e uma noticia que me surpeendeu: O Teatro Cultura Artística pegou fogo hoje de manhã e um dos espaços de nossas andanças musicais (meu e do Ayrton) foi a sala de concerto desse teatro. Muitas e muitas vezes estivemos lá. O carro ficava no estacionamento ao lado da Igreja da Consolação, nós dois íamos comer nos simpáticos restaurantezinhos da rua ao lado e de lá para o concerto. Lá pelas 23 horas ou mais, pegávamos o carro e me lembro que o Ayrton dizia: “Dirige vc. Eu estou cansado e amanhã tenho cliente às 7h.” Mesmo com um dia cheio de trabalho nunca deixávamos de completá-lo com musica.

E subíamos a rua da Consolação, comentando e compartilhando as emoções da musica ouvida.
Que saudades. Qualquer flash de lugar conhecido me trás lembranças e elas, longe de me darem tristeza me dão alegria pelo tempo bom e compartilhado que vivemos.

Muitas vezes vimos reger o grande e carismático Eleazar de Carvalho. Até aos ensaios da orquestra tínhamos acesso. Tínhamos que ir comprar os ingressos no começo da tarde e muito briguei por isso, porque era impossível pegar fila para os ingressos, voltar para casa e retornar para o concerto.

Ainda bem que o belo painel de Di Cavalcante que ocupa toda a fachada do teatro, e tem 48mx8m não foi atingido. E isso serviu para iniciar um movimento pela restauração do teatro.

E na terça, 19, depois de um dia cheio ainda fui ao Municipal ver a ópera Ariadne em Nachos, de Richard Strauss. Ópera diferente, uma ópera dentro de outra. Quase tudo está explicado no programa (agora tarifado no Municipal). A primeira parte, chamada de prólogo foi meio cansativa, não só eu como muita gente cochilou embora a movimentação cênica fosse grande.

Mostrava os bastidores, a montagem dos cenários para uma ópera e contou com a presença no palco de muitos funcionários do teatro. Uma delas, que tem cabelo vermelho foi imediatamente identificada *por mim” e fez muito bem o seu papel. Foi difícil nessa parte identificar a Ariadne. Nessa parte falou-se sobre o mito Teseu e Ariadne e sua história ligada ao Minotauro. E o significado do fio de Ariadne. (vc conhece a história? Se não conhece é uma boa motivação para procurar saber);

A ópera mesmo, com um só ato foi mais tranqüila e o ponto alto foi (para mim) o final quando a alegoria do mar foi muito feliz, com moças movimentando um imenso “lençol” azul, simulando ondas. E os protagonistas, ele bem “prateado” num ponto mais alto simbolizando o Olimpo (?) pareciam mesmo dois deuses gregos. Principalmente Baco.

Engraçado mesmo foi quando Baco pisou na cauda do vestido de Ariadne. A cauda despencou sem cair e a calma no enfrentamento da situação fez com que pouca gente percebesse. Ariadne arrancou essa cauda sobreposta, jogou-a no chão como se isso fizesse parte da cena. Em nenhum momento o “acidente” perturbou o canto. A soprano japonesa dominou a cena.

Terminado o espetáculo, Constantina (lá da aula do Terron) que estava também no teatro com a neta quis ir aos bastidores. Eu só tinha feito isso uma vez e gostei. Os artistas, principalmente os principais, despem a aura e ficam “gente”. Todos são agradáveis e risonhos certo pela missão belamente cumprida.
Cheguei em casa meia noite porque Constantina e o marido (Adolfo Melfi, um gletiano que já foi reitor da USP) fizeram a gentileza de me trazer até aqui.

Na sexta, 22, na aula do prof. Terron tivemos uma opereta de Strauss, O Morcego. Vista quase na integra, agradou, relaxou e tornou a tarde de sexta de puro lazer. Kiri Te Kanawa como a prima dona e Plácido Domingo regeu. Mocinho ainda com muito cabelo e todo preto, nos diz que a gravação é de outros tempos.

Domingo tenho um pouco de remorso. Entre a abertura de uma exposição sobre Carmem Miranda que seu Hugo (lá do Páteo) organizou e a apresentação da OCAM não tive duvidas. Adoro Seu Hugo, mas entre Carmem Miranda e Mozart eu não tenho escolha. Outro dia abraço seu Hugo.

No Masp dia 24, com OCAM (Orquestra de Câmara da USP) ouvi a Sinfonia Concertante para violino de Mozart. Sempre Mozart, inconfundível menos no segundo movimento de uma bela melodia calma que nem parecia do agitado Mozart.

No dia 29, na Apreciação Musical do prof. Terron quase toda a aula foi tomada por uma opereta de Offenbach - Orpheu no Inferno. Uma chanchada, debochada, deturpada. Minha opinião pessoal. Respeito muito o mito de Orpheu e Eurídice como um dos mais belos da mitologia greco-romana. Uma história de amor além da morte. Já vi o mito em opera de Monteverdi, de Gluck,; Orfeu Negro de Marcel Camus, Orfeu de Jean Cocteau, e Orfeu de Carlos Diegues baseado no Orfeu da Conceição de Vinicius de Morais. Tanta coisa boa não podia ter sido estragada pelo deboche de Offenbach; Fiquei brava.

Felizmente à noite, no CIEE Eudoxia de Barros no seu recital acalmou meus ânimos. Executando Mozart, Chopin, Liszt, Prokofief e muita musica brasileira de Mignoni, a Nazareth, Zequinha de Abreu e Osvaldo Lacerda. Fui dormir em paz.

E no dia 30, a glória. Izzi a doce izzi que mereceu um comentário à parte e já postado.

No domingo, encerrando agosto, Municipal com a pianista Cristina Ortiz roubando a cena em uma interprestação muito pessoal das Variações para Piano e Orquestra sobre uma Canção Infantil de Dohnnányi que eu nunca tinha ouvido, nem ouvido falar, mas gostei demais. Cristina Ortiz é uma virtuose que se deixa envolver completamente pela musica e vive cada nota nas expressões corporais . No corpo todo. Ela, maestro e orquestra formam uma unidade que nem sempre se ouve e vê.

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