MUSICA EM SETEMBRO

Setembro começou morno em termos musicais. Ou fui eu que estive ligada em outras coisas? O certo é que só começou para mim no dia 14 com uma apresentação no mínimo interessante. O Teatro Municipal apresentou a Orquestra Experimental de Repertório de Jamil Maluf com um programa duplo diferente. Na primeira parte o sempre querido Gershwin e seu Americano em Paris e na segunda parte um concerto sui generis em que à Orquestra se juntou banda de rock para apresentar A Saga de Clara Crocodilo escrita para a então Orquestra Jovem Municipal em 1983, por Arrigo Barnabé.
25 anos depois essa nova apresentação foi um sucesso e foi bisada quase na integra.
Para quem não sabe ou não se lembra, minhas pesquisas me informam que:
Arrigo Barnabé nasceu em Londrina, PR, em 14 de Setembro de 1951. Em São Paulo, cursou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (1971 a 1973) e a Escola de Comunicações e Artes (1974 a 1979), onde fez o curso de composição, no Departamento de Musica. Ainda na década de 1970, participou do Festival Universitário da TV Cultura com a musica Diversões eletrônicas. Lançou seu primeiro LP, Clara Crocodilo, em 1980.
Com trabalho singular na musica brasileira, tem composições de características que vão do dodecafonismo a atonalidade. Sempre na fronteira entre o erudito, contemporâneo e o popular, na década de 1990 escreveu quartetos de cordas e peças para a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo.
A letra da Saga de Clara Crocodilo, significativa na época em que foi composta

São paulo, 31 de dezembro de 1999. falta
Pouco, pouco, muito pouco mesmo para o
Ano 2000 e você, ouvinte incauto, que no
Aconchego de seu lar, rodeado de seus
Familiares, desafortunadamente colocou
Este disco na vitrola, você que, agora,
Aguarda ansiosamente o espocar da
Champanha e o retinir das taças, você,
Inimigo mortal da angústia e do
Desespero, esteja preparado... o pesadelo
Começou. sim, eu sei, você vai dizer que é
Sua imaginação, que você andou lendo
Muito gibi ultimamente, mas então por
Que suas mãos tremeram, tremeram,
Tremeram tanto, quando você acendeu
Aquele cigarro... e por que você ficou tão
Pálido de repente? será tudo isto fruto da
Sua imaginação? não, meu amigo, vá ao
Banheiro agora, antes que seja tarde
Demais, porque neste mero disco que você
Comprou num sebo, esteve aprisionado
Por mais de 20 anos, o perigoso marginal,
O delinqüente, o facínora, o inimigo
Público número 1, clara crocodilo...

Quem cala consente, eu não me calo
Não vou morrer nas mãos de um tira
Quem cala, consente, eu desacato
Não vou morrer nas mãos de um rato
Não vou ficar mais neste inferno
Nem vou parar num cemitério
Metralhadora não me atinge
Não vou ficar mais neste ringue

Ei, você que está me ouvindo, você acha
Que vai conseguir me agarrar? pois então,
Tome...
Já vi que você é perseverante. vamos ver
Se você segura esta...
Meninas, vocês acham que eles querem
Mais?
Querem sim!
Você, que então é tão espertinho, vamos
Ver se você consegue me seguir neste
Labirinto.

Clara crocodilo fugiu
Clara crocodilo escapuliu
Vê se tem vergonha na cara
E ajuda clara, seu canalha
Olha o holofote no olho,
Sorte, você não passa de um repolho

Onde andará clara crocodilo? onde
Andará? será que ela está roubando algum
Supermercado? será que ela está
Assaltando algum banco? será que ela está
Atrás da porta de seu quarto, aguardando o
Momento oportuno para assassiná-lo com
Os seus entes queridos? ou será que ela
Está adormecida em sua mente esperando
A ocasião propícia para despertar e descer
Até seu coração... ouvinte meu, meu
Irmão?

Foi cantada pelo próprio Arrigo Barnabé nesta apresentação de 14 de setembro de 2008

Programa tão interessante teve na seqüência a ópera de Carlos Gomes “COLOMBO”
Com uma belíssima cenografia, mostrando uma profissionalização cada vez maior de nossos artistas “tupiniquins” agradou muito. Dá um grande orgulho saber que nossa cena cultural está evoluindo sempre.
Nesta ópera, de uma maneira sutil, - não sei se foi a intenção e todo mundo entendeu - no final, Colombo foi recebido como herói pelos reis Fernando e Isabel, mesmo tendo roubado e escravizando índios da América onde ele chegou. Bom visual da opera, enfatizou o contexto da época.
Nesta ópera, de uma maneira sutil, - não sei foi a intenção e todo mundo entendeu - no final, Colombo foi recebido como herói pelos reis Fernando e Isabel, mesmo tendo roubado e escravizando índios da América onde ele chegou. Bom visual da opera, enfatizou esse contexto da época. Colombo não era tão bonzinho assim.
Mas, vamos à musica e não à interpretação social. Foi boa, coral sempre maravilhoso e os interpretes maiores à altura.

Terminou às 23 horas, vim de metrô em duas baldeações e um ônibus e cheguei em casa à meia noite. Valeu.

Perdi a musica de sábado, 20 no CIEE mas com chuva e frio fui prestigiar Lunna e Marco Antonio em um primeiro sarau de musica e poesia na casa deles. Diferente. Coisas “caseiras” da Lapa, gente jovem tentando a vida artística.

No domingo não perdi o Municipal à 11horas. Tocou a Orquestra Sinfônica de Santos. Bem menor que a “nossa”, mas afinadinha. A abertura de O Barbeio de Sevilha é sempre agradável ao ouvido. E, a Sinfonia Novo Mundo de Dvorak, se não com a majestade de uma grande orquestra, agradou bastantes (aplausos demonstram)

Semana muito cheia não me deu tempo de pensar em musica. Mas na sexta feira, 26, o programa foi completo. Fátima, minha vizinha atenciosa, é assinante da Sala São Paulo e não podendo ir ao concerto de sexta, gentilmente me deu os convites. Lugar privilegiado (balcão mesanino – central) eu não queria e não podia perder. Felizmente, um amigo da aula de Terron, muito atencioso, me fez companhia. Ele também gosta de musica erudita, conhece e saber curtir. Fiquei satisfeita porque tive com quem partilhar um belo programa. A Sinfonia Concertante de Mozart com orquestra e quarteto de sopro-madeiras (oboé, fagote, clarineta e flauta) foi muito bem apesar do oboista atrapalhado. A peça seguinte, de peso, mas de um autor russo desconhecido para mim, demonstrou claramente a supremacia da Sala São Paulo sobre o Teatro Municipal na acústica. É realmente excepcional.

No domingo,28, Municipal com a Sinfônica e soprano Eliane Coelho em canções de Strauss, muitíssimo aplaudida, Webern e uma bela Sinfonia de Schubert fecharam o programa. À tarde ainda no MASP, com a OCAM (Orquestra de Câmara da USP) Programa muito pesado, não apreciei devidamente. Acho que estava cansada e o programa de sexta supriu totalmente a minha fome musical.

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