TRAZER O MAR PARA SÃO PAULO?? considerações de Henrique Raffard em seu livro "Alguns dias na Paulicéia"


Henrique Raffard (1851 - .....) era filho do Cônsul-geral da Suíça no Rio de Janeiro  e recebeu educação literária em Genebra e Paris.  Sua vocação maior era para homem de negócios e foi um notável empreendedor.

No Brasil, Raffard estava associado a empresas comerciais inglesas entre elas a São Paulo Central Sugar Factory of Brasil Limited para a produção de açúcar e álcool em Capivari, interior de São Paulo. Ele foi encarregado pela firma que representava, de escolher uma cidade onde a empresa pretendia abrir uma filial. Resultou na instalação em São Paulo de uma casa comercial e em Capivari, da Vila Raffard. (2,5km de Capivari), onde fundou o Engenho Central de São João de Capivari, em 1883.

De suas andanças pela cidade de São Paulo em 1890, ficou um pequeno livro “Alguns dias na Pauliceia.” Bom observador, embora sofrível escritor, tem observações de compreensão clara. Economicamente objetivo, ilustrador claro do caráter primário da chamada ciência econômica, torna este pequeno livro um manancial de informações sobre a cidade do fim do século XIX e já com aberturas para a metrópole do século XX.  Vale a pena ser lido.

Entre as múltiplas observações de Henrique Raffard, escolhi uma (pags. 105 -106) pela curiosidade – cópia adaptada dessas páginas do livro.

Em São Paulo a criação de uma alfândega é bastante desejada. Essa ideia não é nova mas foi por mim lembrada em 1880 ao então Secretário da Assembleia Legislativa Paulista, que aprovou-a e me dirigiu a um deputado afim de apresentar o projeto. O argumento maior era impedir o contrabando em larga escala durante o trajeto de Santos à capital paulista.
 (...) Haveria mais uma vantagem no aludido melhoramento, qual seja de dispensar o aumento de pessoal na alfândega de Santos pela parte do serviço que seria feito em São Paulo.
(...) Ouvi falar bastante em tornar a São Paulo porto de mar (trazer o mar para São Paulo???)  e apesar de conhecer o interessante folheto há muitos anos publicado pelo engenheiro Porfírio de Lima (1)  que imaginou uma série de comportas entre os dois pontos a ligar, tenho minhas dúvidas sobre semelhante plano, não só considerando a altitude da Paulicéia e o custo das obras a fazer, com principalmente o preço  pelo qual ficaria o transporte dos artigos transmitidos e a real dificuldade de se poder  atender  satisfatoriamente ao sempre crescente movimento de importação. Muito diversas são as condições do projetado Paris – port de mer, cuja execução talvez breve será realidade (??)

(1)   - Na década de 1850 tomou assento na Câmara Municipal por vários anos (1857-1862) JOSÉ PORFIRIO DE LIMA, um dos dois vereadores engenheiros da época imperial Na verdade, Porfírio, embora considerado engenheiro civil, havia cursado a Aula de Arquitetos Medidores, de Niterói, um curso equivalente ao do Gabinete Topográfico, de São Paulo, que formava engenheiros práticos, quase simples agrimensores. No início, além de atuar como edil, fez, informalmente, as vezes de engenheiro da Câmara, executando planos e orçamentos de obras públicas e elaborando pareceres. Após a reorganização do serviço dos engenheiros em 1861, Porfírio, que detinha o cargo de engenheiro da Província, foi designado chefe do 1 º Distrito de Obras Públicas, em que se incluía a Capital.



  

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