UMA CIDADE - BUIQUE - UM ESCRITOR - GRACILIANO RAMOS
UM POUCO DE LITERATURA PARA VARIAR DE TANTA MÚSICA
UMA CIDADE - BUIQUE UM ESCRITOR - GRACILIANO RAMOS
BUIQUE - O
escritor GRACILIANO RAMOS foi a mais
famosa personalidade brasileira que já residiu em Buíque, município do Agreste
pernambucano, distante 285 km do Recife. Nascido em 1892, em Alagoas, aos dois
anos de idade ele mudou-se, com os pais, para a Fazenda Maniçoba (hoje Fazenda
Pintadinha).
A
Fazenda Pintadinha é uma área de 200 hectares, localizada no distrito de São
Domingos, a 21 km de Buíque (por estrada de barro), Conserva ainda em bom
estado (e com algumas características originais) a casa onde Graciliano Ramos
viveu.
O
atual proprietário das terras tem consciência do valor histórico da casa e não
permite que ela sofra alterações em sua estrutura. Da construção original, as
únicas partes alteradas foram os pilares que sustentam o telhado do terraço:
eram de madeira e hoje são em alvenaria.
No seu
livro INFÂNCIA Graciliano Ramos descreve com genialidade a cidade de Buique e
parte do texto merece ser transcrito:
Buíque (PE) tinha a aparência de um corpo aleijado:
o Largo da Feira
formava o tronco; a Rua da Pedra e a Rua da Palha serviam de pernas, uma quase
estirada, a outra curva, dando um passo, galgando um monte; a Rua da Cruz, onde
ficava o cemitério velho, constituía o braço único, levantado; e a cabeça era a igreja, de torre fina, povoada
de corujas.
Nas virilhas, a casa de Seu José Galvão
resplandecia, com três fachadas cobertas de azulejos, origem do imenso
prestígio de meninos esquivos: Osório, taciturno, Cecília, enfezada e D. Maria,
que pronunciava “garafa”.
Na coxa esquerda, isto
é, no começo da Rua da Pedra, o açude da Penha, cheio de música dos sapos,
tingia-se de manchas verdes, e no pé, em cima do morro, abria-se a cacimba da
Intendência.
Alguns becos rasgavam-se no tronco: um ia ter
à Lagoa; outro fazia um cotovelo, dobrava para o Cavalo-Morto, areal mal
afamado que findava no sítio de Seu Paulo Honório; no terceiro as janelas do
Vigário espiavam as da escola pública, alva, de platibanda, regida por um
sujeito de poucas falas e barba longa, semelhante ao mestre rural visto anos
atrás.
(...)perto da escola instalavam-se o quartel
da polícia e a cadeia. No corpo da guarda o destacamento local bocejava,
preguiçava nas tarimbas, e José da
Luz, cajuzo, pachola e risonho, cantava. ]
A vida social se
concentrava no largo, ponto de comércio, fuxicos, leitura de jornais quando
chegava o correio. Nos sábados armavam-se barracas, fervilhavam matutos. Nos
domingos eram exercícios espirituais: missa extensa, confissões, casamentos,
batizados, injúrias abundantes de Padre João Inácio.
(...) De ordinário a
gente da rua, excetuados os três meses de safra, descansava seis dias na
semana.
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