PACIÊNCIA......palavra repetida nas mensagens de otimismo

  

Nestes meus quase 90 dias de isolamento sobrevivo pelas mensagens sempre carinhosas que recebo dos amigos.  E a maioria das mensagens terminam com CALMA – PACIÊNCIA.

E a palavra PACIÊNCIA acordou meus neurônios e como sempre um flash de memória acontece.

Desta vez me levou há 76 anos atrás, nos idos de 1944 quando eu cursava ao quarta série ginasial.  E a palavra desencadeou uma frase

Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? que traduzida diz “Até quando Catilina abusarás de nossa paciência?

E eu voltei no tempo, nas minhas aulas de Latim (sim, tinha Latim no ginásio) e meu professor inesquecível CELESTINO CORREIA PINA

Ele falava e repetia essa frase - e a terceira do verso (acho que não gostava da segunda frase)

  Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia? que traduzida diz

A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?”

 

Muito sábio e culto, prof. Pina nos ensinava de onde vinham essas frases.

Das  Catilinárias (uma série de quatro discursos célebres de Cícero, um  cônsul romano  pronunciados em 63 a.C. É  uma denúncia contra a conspiração pretendida pelo senador Lúcio Sérgio Catilina,

 

E eu me pergunto? Como é possível lembrar tão fielmente essa frase. Acho que foi o professor excepcional que a gravou na minha memória.

 

CELESTINO CORREIA PINA Tinha uma vastidão de conhecimentos linguísticos usando o Latim para explicar palavras em português. Exigente, era um professor temido pelos alunos. Ele não admitia silabadas, - erros na pronúncia das palavras. Três silabadas cometidas durante o mês valiam uma nota Zero.

Foi ele que nos fez cantar na cerimônia de formatura do curso ginasial no Ginásio Paulistano, no final de 1944 o Hino Nacional em Latim. E eu também me lembro de parte da letra homométrica  “Audierunt Ypirangæ ripæ placidæ

                                                                     Heroicæ gentis validum clamorem,”

Tínhamos a letra em mãos porque ninguém saberia de cor. Hoje é fácil conseguir a letra inteira pelo Google pesquisa.

Foi difícil encontrar dados de um prof. tão especial. Em 2002 recebi de Maria do Rosário Domingues Antzuk (?) e posso então identificar Celestino Correia Pina com nascido em Cuiabá em 1906 e vindo para São Paulo em 1929. Aqui bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito - USP e licenciou-se em Letras Clássicas e Português pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras -USP.  Deu aulas de Português e Latim nos mais renomados   Ginásios da cidade.   Faleceu em 1983.

No tempo em que foi meu prof. de latim e português, era um “jovem” de 36 anos.


 

Nota - Mesmo passados mais de dois mil anos, quando se trata do abuso de bens públicos por parte de políticos, frequentemente são repetidas as sentenças acusatórias de Cícero contra Catilina, declaradas em pleno senado romano:[

 



 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

QUARESMEIRA OU MANACÁ DA SERRA?

EU E A USP

SETE ANOS