EU E A POESIA

Poesia não é minha praia. Não me ligo muito a esse tipo de literatura. Corrigindo:  tipo de poesia mais moderna.

Procuro uma explicação.

Durante os muitos e muitos anos de vivência, no meu subconsciente estão marcados o que eu conhecia como “poesia” : ritmo, rimas, métrica. ...

Penso em poesia e me vem à memória o que minha tia Nena me ensinou quando eu tinha uns 2 a 3 anos. (1932-33). Já em 2000 ela me repetiu e eu transcrevi.

MEU BRASIL

Como são lindos, os passarinhos

que tem seus ninhos nos palmeirais]

Cantam nas matas, mil alegrias,

E melodias sentimentais

 

Como são belas, as borboletas

Que irrequietas, de flor em flor

Num voo constante, em torno dela

Sobre as mais belas, se vão dispor

 

Terra de sonhos, tardes amenas,

Noites serena, terra gentil

Que formosura, quanta beleza

Na Natureza, tens ó Brasil!!!!

 

E mais tarde, quando eu já tinha uma irmã, meu pai nos cantava duas trovas espanholas:

Se quieres que te cante              

la Seguidilla

Llema-me la  guitarras

De pelaillas

 

Nota  - Seguidillas – Dança característica da região de Sevilha - Espanha

            Pelaillas – amêndoas envolvidas em casca de açúcar

 

A dormir se vá mi nêne

que viene la reina moura

buscando de casa em casa

qual é el miño que llora

pra meter-lo em lá capaça

 

Nota – cantiga de ninar politicamente incorreta que gera medo.

 

E aos meus cinco anos meu pai usava um dos dois únicos livros que nós

tínhamos - Antologia Nacional (ou Brasileira) e me lia:

 

MEUS OITO ANOS – Casemiro de Abreu

Ai que saudades que eu tenho

Da aurora daminha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais

           (...)

E muitos e muitos anos, quando eu já entendia mais outras poesias, outras rimas voltam à memória:

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

 (...) Luiz de Camões

 

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

(...)Olavo Bilac

 

Quando eu nasci, raiava

o claro mês das garças forasteira

Abril, se abrindo em flor pelos outeiros

nadando em luz, na oscilação das ondas

(...) Vicente de Carvalho

 

 

As poesias foram mudando ao longo do tempo. E eu também. E ao longo dessa minha longa vida:

 

Conheci poesias do Brasil colonial com Gregório de Matos

Que falta nesta cidade? -Verdade.

Que mais por sua desonra? -Honra. Falta mais que se lhe ponha? –

Vergonha. demo a viver se exponha,

 por mais que a fama a exalta, Numa

cidade onde falta Verdade, honra, vergonha

                                (...) Gregório de Matos

 

Do Romantismo no Brasil com poesias de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves.........

 

                        Ó Guerreiros da taba sagrada

                        Ó guerreiros da tribo tupi

                        Falam deuses nos cantos do Piaga

                         ó guerreiros, meus cantos ouví

                                     (...) Gonçalves Dias

 

                        Se eu morresse amanhã, viria ao menos

                        Fechar meus olhos minha triste irmã

Minha mãe de saudades morreria

            Se eu morresse amanhã

                        (...) Álvares de Azevedo

 

Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.

                        (...) Castro Alves

 

 

                       

 

 

 

 

 

Do Realismo brasileiro Machado de Assis é o representante

 

Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher

(...) Machado de Assis.

 

O Modernismo brasileiro tem Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes

O chão é a cama para o amor urgente,

            amor que não espera ir para a cama.

Sobre tapete ou duro piso, a gente

compõe de corpo e corpo a úmida trama

 

E para repousar do amor, vamos à cama

            (...) Carlos Drummond de Andrade - O Amor Natural

 

De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

                        (...) Vinicius de Moraes

 

E no pós-modernismo temos Manoel de Barros, Guimarães Rosa, Haroldo de Campos

                            A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

             (...)      Manoel de Barros

 

o instante
é pluma

seu holograma
radia estável

como quem olha pelo cristal
do tempo

feixe fixo

          (...) Haroldo de Campos

 

E para conhecer as novas poesias daqui e de outros mundos, fiz cursos na Casa da Rosas sobre as fontes básica da lírica moderna – Baudelaire século XIX e no século XX as vanguardas – Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo......com Fernando Pessoa,  Carlos Drummond de Andrade...

 


             O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

                        (...) Fernando Pessoa

 

            O chão é a cama para o amor urgente,

amor que não espera ir para a cama.

Sobre tapete ou duro piso, a gente

compõe de corpo e corpo a úmida trama.

 

E para repousar do amor, vamos à cama

            (...) Carlos Drummond de Andrade - O Amor Natural

 

E conheci uma receita de como fazer uma poesia dadaísta com Tristan Tsara poeta romeno representante do Dadaísmo

Pegue um jornal

Pegue uma tesoura

Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema

Recorte o artigo

Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e

meta-as num saco

Agite suavemente

Tirem seguida cada pedaço, um após o outro

Copie conscientemente na ordem em que elas são tiradas do saco

O poema se parecerá com você

E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa

ainda que incompreendido pelo público

                                   

E em 2008 ainda na Casa das Rosas ou no Museu da Língua Portuguesa fiz curso de SURREALISMO E A POESIA E A CIDADE com Claudio Willer. Desses cursos e desafiada a escrever alguma coisa que refletisse o que tinha aprendido saiu uma  “produção” que é tão grande e sem graça , que não cabe aqui. Fico devendo. 

 


Do meu “passeio” pelo mundo da poesia, acabei sabendo que  conheço um pouco de poesia, embora minha prioridade seja a prosa.  Poesia depende de quem a interpreta. Apenas lida, não atinge o meu emocional    

 SÓ JOLANDA GENTILEZZA ME FAZ OUVIR POESIA.  https://youtu.be/G_8Ffv6oyko 

Comentários

Renato Rosinholi disse…
Olá Neuza, bom dia, tudo bem? Adorei o seu texto sobre as poesias e gostaria de sugerir o canal 'Mundo dos Poemas' no Youtube, é bárbaro! Vou deixar o link aqui pra você escutar algumas poesias, tá?

Link: https://www.youtube.com/c/MundoDosPoemas

Boa e abençoada semana pra todos nós!

Abraços!

Obs: conheci seu blog através da reportagem da Revista Piauí 'Lições do Tempo' da estagiária Camille Lichotti. Edição 180 de Setembro de 2021.

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