LAPA - MEU BAIRRO POR ADOÇÃO

50 anos de Lapa me dão o direito de me dizer lapeana. Novamente moro em um bairro que se iniciou como saída de São Paulo, agora para o interior do estado. Um bairro por onde se passava – Emboaçava.

Entre rios se iniciou o bairro com uma fortaleza, no ângulo formado pelos rios Tietê e Pinheiros. Chega logo uma capela, a ermida de Nossa Senhora da Lapa e ao redor vão se agrupando casas e propriedades de jesuítas.

De 5 casas e 31 habitantes em 1765, Emboaçava, ou a fazendinha da Lapa como era conhecida, passou a atrair gente pela qualidade do barro e aparecem olarias, embriões de cerâmicas maiores e indústrias iniciantes. E a Lapa de Baixo se configura. Logo se estende para além dos trilhos da estrada de ferro São Paulo Railway, alavanca do progresso do bairro.

Cheguei à Lapa quando ela já era “grande”, mas ainda periferia. A Igreja da Lapa ainda está aí e por pouco eu não testemunho a difícil colocação de seus sinos nas torres, o que aconteceu em 1948. E eu cheguei em 1954.

Ainda conheci o bonde da linha Penha - Lapa que desapareceu em 1965, a linha Vila Mariana – Lapa que durou apenas um ano, de 1962 a 1963. A linha mais “idosa” foi a Lapa – Praça do Correio, que viveu exatos 57 anos, “morrendo” em 1966. Era o 35 e só tinha “camarões”. Foi um deles que, na Av. Francisco Matarazzo entrou na traseira do nosso Citroën 1951. Convivi com o bonde Lapa – Vila Anastácio, o bonde “família”, que esperava pelos retardatários e que o depoimento de uma moradora me fez ciente de que o motorneiro até parava para tomar café em uma das casas da rua Barão de Jundiaí.

Conheci a Lapa do cine Tropical, na rua Roma, do cine Nacional na rua Clélia, onde hoje esteve o Olympia.

Meu primeiro espaço lapeano foi a rua Faustolo, por onde passavam todos os ônibus que iam para o interior, e vez por outra algum perdia o freio e voltava ladeira abaixo. Acordei uma vez com um deles dentro do quarto.

Conheci a Lapa do Colégio Campos Salles com um prédio só, na central rua Doze de Outubro, e com a “fazendinha” como era chamada a parte que fazia frente com a rua Nossa Senhora da Lapa.

Fui acompanhando o que surgia: Ceasa, em 1966, Mercado da Lapa, em 1954 .... Escolas aumentando e engrandecendo o bairro. Biblioteca tendo seu prédio próprio em 1966. Aprendi a conhecer ‘lendas” de lugares, como o cemitério que é chamado cemitério da Goiabeira porque foi construído num local onde havia um manancial de goiabeiras. Tomei conhecimento de que o Centro de Saúde da rua Roma na verdade se chama Centro de Saúde Dr. Albert Schweitzer, coisa que quase ninguém sabe.

Durante quase 30 anos contribui para aumentar o conhecimento dos jovens lapeanos com minhas aulas e conheci muita, muita gente.

Com trabalho e dedicação conseguimos passar da Lapa propriamente dita, para um lugar mais agradável de morar, a City Lapa, com suas ruas largas, residenciais por excelência, e contribuímos para o verde desse lugar plantando pequenas árvores que hoje tem alturas apreciáveis.

Foi na Lapa que meus filhos nasceram, cresceram, se tornaram cidadãos, se casaram e tiveram seus filhos.

Foi o bairro do nosso tempo produtivo, do “fazer” de nossa vida, do “viver” a vida em sua plenitude.

Continuo na Lapa, sem o alguém precioso que me trouxe para cá, mas me identificando com o bairro.

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