COMPLEMENTANDO OUTUBRO CULTURAL

Esse programa do SEsC foi tão bom que teve m comentário à parte.

Sexta feira, 23 de outubro de 2009. Quase meio dia. .Avenida Paulista.
Transito por essa avenida já curtindo por antecipação a coisa boa que me será oferecida.

Enquanto atravesso a avenida, de ônibus e a pé, já vou sentindo prazeres. É o meu “caminho da roça” no bom caipirês. Conheço cada árvore, cada prédio, o perfil dos circulantes. Se o transito está congestionado, ótimo. O ônibus anda devagar e me dá tempo de rever cada pedaço da avenida.

As calçadas alargadas já começam a ser insuficientes e a massa humana que anda de cá para lá e de lá para cá, fez uma pausa no trabalho e sai à rua para o almoço e a socialização. Gente bonita. Branca, mulata (de todas as tonalidades) negros puros (pequena fatia da população –porque a maioria já se misturou), roupas formais, informais, esquisitas, geralmente coloridas; saltos altos, altíssimos, confortáveis e rasteiras; botas, botinhas, botonas de plataforma para o trabalho. Mas, o que chama a atenção é o denominador comum de um povo alegre. E quando a pé, mergulho também nessa alegria coletiva.

Chego ao meu destino. Sei aonde vou, mas cultura está concentrada naquele pedacinho da avenida: Itaú Cultural – (nº149), Sesc (nº 119), Casa das Rosas.(nº 37) É só decidir o que se quer. Hoje eu vou ao Sesc.
Ontem uma palestra sobre “a musica vocal italiana do Renascimento e Barroco”. Hoje o complemento musical das palavras. Tem sido sempre nessa seqüência: palavra – musica, no projeto “Finaescuta” que o Sesc oferece GRA-TU-I-TA-MEN-TE ao publico passante da avenida até ao que vem de longe.

No simpático teatro auditório que vai se enchendo com o pessoal que trocou o almoço por musica, brilha sozinho o cravo branco e decorado. Instrumento pouco conhecido já ganha a simpatia pelo seu visual agradável. Logo mais seu dono, Alessandro Santoro vai mostrar do que são capazes interprete e instrumento quando a sintonia é perfeita.

Teatro já cheio, o recital começa. O primeiro impacto visual: Patrícia Endo a soprano: linda, muito linda com o vermelho dos cabelos simbolizando sua chama interior, o azul do vestido contraponteando com o vermelho dos cabelos que os olhos claros realçam ainda mais. E, detalhe: ela se desloca e se apresenta descalça. Deve haver uma razão simbólica. Alguma explicação?
Ela cantou árias de Caccini, Monteverdi, Frescobaldi, Scarlatti e outros.
Produção esmerada apresentou slides com tradução para que se pudesse entender o significado da poesia. E a cada peça, a projeção de uma obra de arte correspondente ao tempo do compositor.

Sempre tem uma peça e uma imagem da qual eu gosto mais. Desta vez foi a interpretação dramática do “Lamento de Ariadne” de Monteverdi. Perfeita, envolvente, dramaticidade grau 10, Falta o ar pela emoção, angustia, desespero do personagem, passados para o publico. Só quem conhece o mito de Ariadne* entende bem o porque desse lamento. Felizmente a peça seguinte foi de uma alegria e graça contagiantes, quebrando o impacto depressivo da peça anterior. A imagem mais significativa? Aquela que ilustrou o madrigal “Primavera”. Não o quadro de Boticelli que todo mundo usa quando fala em Primavera, mas, um quadro do quase desconhecido Giuseppe Archimboldi (ou Arcimboldo) - Primavera **

Entremeando voz e instrumento, Alessandro Santoro (o filho do grande Cláudio Santoro) *** deu um show de técnica quando fez seu solo de cravo. O instrumento é dele, e ele o trata com carinho tanto quando suas mãos passeiam pelas suas teclas como quando o embala para a proxima viagem, como se fosse o seu “bebê”

No final, a felicidade de poder abraçar a cantora-atriz, roubar um pouco de sua alegria pessoal. E mais ver de perto até trocar algumas palavras com Julio Medaglia, apertar a mão de Décio Pignatari ainda em boa forma.

Saí para o grande espaço da avenida com a ansiedade de colocar no papel tudo o que tinha sentido no pequeno espaço do teatro.

O responsável por tudo isso, pelo sucesso em espalhar boa musica pela cidade, pelo exercício de uma cidadania consciente realizável e realizada é

DANTE PIGNATARI****

Na quinta feira, 29 às 19h e na sexta feira, 30, às 12h, mais uma dose de boa musica sempre no SESC Paulista. E sempre com Dante presente.

* A lenda de Ariadne
Filha de Pasífae e de Minos, rei de Creta, e tinha um meio irmão monstruoso, Minotauro, cabeça de touro e corpo de homem, filho de Pasífae com um touro branco.
A besta, que habitava o labirinto sob o castelo de seu pai, todos os anos recebia 7 rapazes e 7 moças de Atenas, como sacrifício. Um ano o jovem herói, o lendário grego Teseu, apresentou-se ao pai para fazer parte do grupo a ser sacrificado e matar a fera. A dificuldade maior não era o confronto com a besta, e sim achar o caminho de volta, para fora do labirinto. Conta-se que o labirinto era tão complexo que Daedelus, o arquiteto que o construiu, morreu ao não conseguir encontrar a saída.

A bela princesa Aariadne se apaixonou por Teseu, o lendário herói grego, e o ajudou a destruir meio irmão, o monstruoso MinotauroTeseu prometeu casar com ela e, então, ela presenteou seu amado com um carretel de barbante e com a única espada capaz de matar o monstro. Teseu entrou no labirinto e a medida que caminhava e soltando o fio, para achar a saída do labirinto após matar o Minotauro. Cumprida a sua missão, ambos partiram de barco, mas este, ingratamente, abandonou-a à própria sorte na ilha de Naxos. O destino posterior da princesa é objeto de versões divergentes. Numa delas conta-se que, desesperada, atirou-se ao mar, procurando a morte, porém foi salva pelo deus grego Baco, que segurou-a em seus braços e imediatamente se apaixonou por ela. Com a bela princesa teve vários filhos e, depois que ela morreu, colocou-a no céu em forma de uma coroa de estrelas, como lembrança do seu amor. E assim ficou conhecida com a imortal esposa do deus Dionísio

*** Cláudio Santoro (Manaus, 23 de novembro de 1919 — Brasília, 27 de março de 1989) foi um compositor e maestro brasileiro.
Em 1941 passou a estudar com Hans-Joachim Koellreutter, integrando também o grupo Música Viva, do qual se tornou um dos nomes mais ativos, ao lado de Guerra Peixe). Passou a adotar o (dodecafonismo) como técnica de composição, sendo um dos mais radicais críticos do meio musical brasileiro.
Em 1948 teve recusado seu visto para ir aos EUA como bolsista, devido à sua militância no PCB. Como segunda opção, foi a Paris. Já bastante conhecido, recebeu um prêmio da Fundação Lili Boulanger, em Boston. Entre os avaliadores estavam os compositores Igor Stravinski e Aaron Copland.
Claudio Santoro foi professor fundador do Deptº de Música da UnB (Universidade de Brasília). Faleceu em 1989, época em que exercia o posto de Regente Titular da Orquestra do Teatro Nacional de Brasília, atualmente a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro.


****Dante Pignatari é formado empano pelo Departamento de Música da ECA/USP. Completou sua formação em Londres e obteve mestrado em music performance studies. Trabalhou na Radio Cultra FM. Foi colaborador da revista Bravo! E lecionou Historia da Musica. É doutorando da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas

Comentários

Oi Querida Neusa.
Achei maravilhosa sua entrevista na tv.
Vc é uma lição de vida.
O que prova,"que o passar dos anos ,nos traz muito mais alegrias do que a presente juventude".
♥Te desejo um 2010,cheio de bençãos e muita saúde♥....Bjs...Iza

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