UM CRIME HEDIONDO EM SÃO PAULO
HEDIONDO – feio, sórdido, asqueroso, imundo, repugnante
São Paulo – 1948 – A cidade ainda é tranqüila e um acontecimento violento ocupa manchetes durante dias, semanas... por conta do famoso Crime do poço
O local - Rua Santo Antonio 104, quase na esquina da Av. Nove de Julho.
O dia – 4 de novembro de 1948
O protagonista principal Paulo Ferreira de Camargo. As coadjuvantes, sua mãe, Benedita Ferreira de Camargo e suas duas irmãs, Maria Antonieta e Cordélia.
Já se passaram 60 anos e eu nunca me esqueci do Crime do Poço. Volta e meia ele volta a ocupar minhas lembranças junto com as lembranças de meu tempo de estudante.
Era 1948
Primeiro ano de Faculdade. Coisas novas, ambientes novos, amizades novas. Tempos de aulas no Palacete da Glette, das conversas sob a copa da Figueira.
Aulas de Química só no primeiro ano como complementação para o curso de História Natural. Aulas práticas só uma vez por semana, aos sábados, quando tínhamos que dar conta de análises complicadas que tinham que partir de equipamentos rigorosamente limpos, para que os resultados fossem cofiáveis.
Para aproveitar melhor o tempo, nós, as meninas da História Natural, chegávamos às seis horas da manhã dos sábados para limpar as buretas com mistura sulfocrômica e às oito horas tudo estar pronto para as análises.
Muitas vezes cruzávamos com professores, estudantes ou funcionários da Química, no prédio que era anexo ao palacete. Era natural.
Devemos ter cruzado com Paulo Ferreira de Camargo, então com 26 anos, que era professor de Química e pesquisador nos laboratórios do Departamento de Química da Universidade de São Paulo,na alameda Glette. Nunca nos passou pela cabeça que fosse alguma coisa perigosa. Nem nos detivemos para perguntar o que eram aqueles buracos nas paredes da escada.
Só muito depois soubemos que eles representavam sinais de tiros, resultados de uma demência que já se anunciava.
Também depois, soube-se de ter sido encontrado um balão de experiência dentro de um armário do laboratório de Química onde trabalhava Paulo Ferreira de Camargo, quebrado por um tiro. Ele confessou aos colegas ter sido ele o autor dos disparos que deu como casual. O fato, porém causou estranheza e levou professores a procurar a policia por terem encontrado mais vestígios de tiros em outros lugares do laboratório. Paulo foi interrogado na delegacia sobre o porte de arma, porque passara a andar armado no laboratório.
Assistente do prof. Hoffman, a ele fazia perguntas estranhas sobre quais seriam os melhores agentes químicos para corroer um cadáver. Alguma coisa já se delineava no seu cérebro esquizóide.
Um vizinho, também químico, procurou a policia para informar que no fim de outubro Paulo construíra no quintal da casa, um poço de cinco metro de profundidade, alegando que ia montar uma fábrica de adubos e a água encanada não servia ao trabalho. A obra foi feita em um dia por dois pedreiros que receberam dois mil cruzeiros pelo trabalho. A policia não deu a menor importância.
No dia cinco de novembro de 1948, Paulo teria dito aos amigos que viajaria com a família para uma família no Paraná e logo em seguida mandou a noticia que a mãe e as duas irmãs haviam perecido em um acidente de automóvel perto de Curitiba.
O fato inusitado de que Cordélia não aparecia no trabalho desde o dia cinco, nem dava notícias, e nenhuma prova do acidente no Paraná, levou a policia a desconfiar que algo estava errado, e no final de novembro começou a investigar o caso. Toda a investigação policial chegou ao crime,e tudo leva a crer que ele tenha sido cometido no dia quatro de novembro, em duas etapas: entre nove e 10 horas da manhã, Paulo teria matado a tiros a mãe e a irmã Maria Antonieta. A irmã Cordélia teria sido morta ao chegar do trabalho para o almoço. Paulo sozinho levou os três corpos para o poço, que amanheceu coberto no dia cinco.
Levada por suspeitas, a policia começou a abrir o poço. Paulo pediu licença para ir ao banheiro e aí se suicidou com um tiro, na janela da qual podia ver o poço sendo aberto.
Os três corpos foram encontrado com as cabeças cobertas com panos pretos e de cabeça para baixo.
E então, o medo atrasado, o nosso susto “depois de”, quando o Crime do Poço virou manchete.
Os motivos? Oswald de Andrade na época escreveu para a Folha da Manhã, cinco artigos como folha de capa, sob o título “Crime sem Castigo”, em que procura analisar o crime de Paulo Ferreira de Camargo sob os aspectos psíquicos também.
Ele diz: “Com a violência da censura ancestral, Paulo viu agigantar-se diante dele a família inútil. A psicogênese do crime evidentemente já trabalhava o seu inconsciente. Chegou um momento em que ele gritou NÃO àquela pobre gente que representava a incompreensão e o tabu das velhas castas e dos superados preconceitos”.
Leia mais sobre essa análise no livro “Figuras do Brasil – 80 autores em 60 anos de Folha – 2001
São Paulo 1974 - 26 anos depois do Crime do Poço
Local – Av. Nove de Julho (Praça das Bandeiras) 225, com fundos para a Rua Santo Antonio 184 – um terreno que engloba o antigo 104 da rua Santo Antonio
O dia – 1 de fevereiro de 1974
O protagonista – Edifício Joelma, um prédio de 26 andares.
O acontecimento – Incêndio destrói o prédio e mata 179 pessoas e deixa 300 feridos.
Coincidência? Lugar marcado ?????????????
São Paulo – 1948 – A cidade ainda é tranqüila e um acontecimento violento ocupa manchetes durante dias, semanas... por conta do famoso Crime do poço
O local - Rua Santo Antonio 104, quase na esquina da Av. Nove de Julho.
O dia – 4 de novembro de 1948
O protagonista principal Paulo Ferreira de Camargo. As coadjuvantes, sua mãe, Benedita Ferreira de Camargo e suas duas irmãs, Maria Antonieta e Cordélia.
Já se passaram 60 anos e eu nunca me esqueci do Crime do Poço. Volta e meia ele volta a ocupar minhas lembranças junto com as lembranças de meu tempo de estudante.
Era 1948
Primeiro ano de Faculdade. Coisas novas, ambientes novos, amizades novas. Tempos de aulas no Palacete da Glette, das conversas sob a copa da Figueira.
Aulas de Química só no primeiro ano como complementação para o curso de História Natural. Aulas práticas só uma vez por semana, aos sábados, quando tínhamos que dar conta de análises complicadas que tinham que partir de equipamentos rigorosamente limpos, para que os resultados fossem cofiáveis.
Para aproveitar melhor o tempo, nós, as meninas da História Natural, chegávamos às seis horas da manhã dos sábados para limpar as buretas com mistura sulfocrômica e às oito horas tudo estar pronto para as análises.
Muitas vezes cruzávamos com professores, estudantes ou funcionários da Química, no prédio que era anexo ao palacete. Era natural.
Devemos ter cruzado com Paulo Ferreira de Camargo, então com 26 anos, que era professor de Química e pesquisador nos laboratórios do Departamento de Química da Universidade de São Paulo,na alameda Glette. Nunca nos passou pela cabeça que fosse alguma coisa perigosa. Nem nos detivemos para perguntar o que eram aqueles buracos nas paredes da escada.
Só muito depois soubemos que eles representavam sinais de tiros, resultados de uma demência que já se anunciava.
Também depois, soube-se de ter sido encontrado um balão de experiência dentro de um armário do laboratório de Química onde trabalhava Paulo Ferreira de Camargo, quebrado por um tiro. Ele confessou aos colegas ter sido ele o autor dos disparos que deu como casual. O fato, porém causou estranheza e levou professores a procurar a policia por terem encontrado mais vestígios de tiros em outros lugares do laboratório. Paulo foi interrogado na delegacia sobre o porte de arma, porque passara a andar armado no laboratório.
Assistente do prof. Hoffman, a ele fazia perguntas estranhas sobre quais seriam os melhores agentes químicos para corroer um cadáver. Alguma coisa já se delineava no seu cérebro esquizóide.
Um vizinho, também químico, procurou a policia para informar que no fim de outubro Paulo construíra no quintal da casa, um poço de cinco metro de profundidade, alegando que ia montar uma fábrica de adubos e a água encanada não servia ao trabalho. A obra foi feita em um dia por dois pedreiros que receberam dois mil cruzeiros pelo trabalho. A policia não deu a menor importância.
No dia cinco de novembro de 1948, Paulo teria dito aos amigos que viajaria com a família para uma família no Paraná e logo em seguida mandou a noticia que a mãe e as duas irmãs haviam perecido em um acidente de automóvel perto de Curitiba.
O fato inusitado de que Cordélia não aparecia no trabalho desde o dia cinco, nem dava notícias, e nenhuma prova do acidente no Paraná, levou a policia a desconfiar que algo estava errado, e no final de novembro começou a investigar o caso. Toda a investigação policial chegou ao crime,e tudo leva a crer que ele tenha sido cometido no dia quatro de novembro, em duas etapas: entre nove e 10 horas da manhã, Paulo teria matado a tiros a mãe e a irmã Maria Antonieta. A irmã Cordélia teria sido morta ao chegar do trabalho para o almoço. Paulo sozinho levou os três corpos para o poço, que amanheceu coberto no dia cinco.
Levada por suspeitas, a policia começou a abrir o poço. Paulo pediu licença para ir ao banheiro e aí se suicidou com um tiro, na janela da qual podia ver o poço sendo aberto.
Os três corpos foram encontrado com as cabeças cobertas com panos pretos e de cabeça para baixo.
E então, o medo atrasado, o nosso susto “depois de”, quando o Crime do Poço virou manchete.
Os motivos? Oswald de Andrade na época escreveu para a Folha da Manhã, cinco artigos como folha de capa, sob o título “Crime sem Castigo”, em que procura analisar o crime de Paulo Ferreira de Camargo sob os aspectos psíquicos também.
Ele diz: “Com a violência da censura ancestral, Paulo viu agigantar-se diante dele a família inútil. A psicogênese do crime evidentemente já trabalhava o seu inconsciente. Chegou um momento em que ele gritou NÃO àquela pobre gente que representava a incompreensão e o tabu das velhas castas e dos superados preconceitos”.
Leia mais sobre essa análise no livro “Figuras do Brasil – 80 autores em 60 anos de Folha – 2001
São Paulo 1974 - 26 anos depois do Crime do Poço
Local – Av. Nove de Julho (Praça das Bandeiras) 225, com fundos para a Rua Santo Antonio 184 – um terreno que engloba o antigo 104 da rua Santo Antonio
O dia – 1 de fevereiro de 1974
O protagonista – Edifício Joelma, um prédio de 26 andares.
O acontecimento – Incêndio destrói o prédio e mata 179 pessoas e deixa 300 feridos.
Coincidência? Lugar marcado ?????????????
Comentários
Minha mae nasceu nesse ano de 48 e sobre o edifício Joelma ela sempre contava a história!
Parabéns pelo blog
bjo
Descobri seu blog visitando o de TeTê( SIMPESMENTE TETÊ )e confesso,fiquei encantada com seus textos. Gostei até mesmo de ler a triste história do crime de 1948.
Li seu perfil e dou-lhe meus parabéns por ser essa pessoa dinâmica e atuante.
Gosto de dizer que sou atuante e esclarecida, mas você (permita-me o você,pois sua cabeça é muito jovem.Gostei e tudo aqui.
Um abraço carinhoso.
Terezinha Maria.
Que felicidade, poder conhecer a senhora através do seu blog. Amo histórias, pessoas inteligentes e interessantes como a senhora, e que sem dúvida nos dão prazer de viver!
Sou sua fã, um grande beijo!
um ambraço td de bom!!
Exemplo para os jovens,sabedoria para nó stodos. Amei!!!
Abraços criativos
Adorei sua participação no Papo Aberto com Gabriel Chalita.Fico feliz pela senhora poder expressar toda a sua rica leitura de mundo através deste blog. Sem dúvida, é muito gratificante.
Eu também amo livros e adoro escrever, apesar de toda correria. Tenho um blog de culinária, quando puder visite-o, será uma alegria tê-la por lá.
Gostei do seu jeito leve, ciativo, solto, inteligente e objetivo de escrever.
á senhora é muito especial, acredite.
Continue com essa força e o desejo de seguir sempre em frente, ao longo da viagem chamada vida.
Beijo no coração
Loucuras da mente humana, por muitas vezes, tão irracional... Uma história que quase se perde no tempo e agora relembrada aqui.
Abs.
Marcio Hoffmann
Arte da Tribo Produções
Acabo de vê-la na Ana Maria Braga!
Você é um exemplo de consciência e sabedoria. Um grande beijo!
Gaucho de Porto Alegre
Cheguei aqui através do programa da Ana Maria Braga e fiquei fascinado com tudo. Passarei por aqui outras vezes.
Bjs
Cheguei aqui pela matéria que vi na TV.
Parabéns pelos blogs.
Parabéns pra você.
É isso aí!
Um grande beijo.
te vi na Ana Maria,
vida longa a pessoas como vc
que Deus te abençoe sempre
bjs
Bjos e fica na paz.
Milla
VI SEU BLOG HJ NA ANA MARIA BRAGA. SUA ENTREVISTA ME TROUXE UMA ALEGRIA LOGO PELA MANHÃ. PARABÉNS POR DAR TRABALHO AOS SEUS NEURÔNIOS. RSRSRS
MINHA SOGRA TEM 85 ANOS É MUITO LÚCIDA, MAS TEM UMA PREGUIÇA DANADA, GOSTARIA TANTO QUE ELA TIVESSE UMA PEQUENA ATIVIDADE, QUALQUER Q FOSSE, NEM CROCHÊ ELA FAZ, NÃO QUER DAR VOLTINHA NO QUARTEIRÃO E PERCEBO QUE COM ISSO ELA VAI FICANDO A CADA DIA MAIS PREGUIÇOSA AINDA. GOSTARIA Q ELA TIVESSE 5% DE SUA VITALIDADE. MAS INFELIZMENTE A REALIDADE É OUTRA. UM BEIJO ENORME. FIQUE COM DEUS.
Vi sua história na ANA MARIA BRAGA hoje e me emocionei de ver uma senhora tão lindinha , ativa , feliz , que delicia ver pessoas como a senhora que vive intensamente todas as fases da vida !!!!!!!
Vou virar sua seguidora, sou blogeuira a mais de dopis anos em assuntos relacionados a dieta ... meu dia a dia ... filhos ... familia , enfim , é muito gostoso blogar né !!
beijosssssssssssssssssssssss
sofazinhodeleitura.blogspot.com
Espero vc lá e desde já te parabenizo por um site tao gostoso.
BJ
Espero a senhora lá,e me dizer o que achou.BJos pra senhora e fica com Deus!
Bjus vovó, que o Senhor te abençoe sempre!!
Liliane da Silva.
Florianopolis/SC.
Saúde e bjs !
Parabéns!
www.jamyllebezerra.blogspot.com
A senhora é linda demais! É uma das vovós mais lindas que já vi. Parabéns por essa toda essa força e cultura. Saiba que ganhou mais uma fã, sou capaz de ir até a Casa das Rosas só para ver a senhora hahaha... Querida demais.
Minha mãe está aqui e disse que também adorou, e que daqui uns anos quer ficar como a senhora.
Beijão!!
assistindo o programa Mais Você da Ana Maria, descobri esse seu Blogão, cheio de historias, cultura e informação. adoro escutar histórias, principalmente quando vem de pessoas iluminadas como você. felicidades e obrigado!
Hoje vi uma reprise da matéria feita no programa Mais você de Ana Maria Braga, sobre uma Sra muito simpática Chamada Neuza. Achei interessante e como estava em frente do computador resolvi dar uma olhada no blog.
Me deparei com histórias maravilhosas e fiquei horas lendo todas as postagens e encantada resolvi deixar aqui um singelo comentário, na verdade um agradecimento...Isso mesmo. Muito obrigada Vovó Neuza por me dar o prazer de uma leitura tão fascinante...
Um grande abraço...E que Deus na sua infinita bondade à conserve assim exatamente assim...
Só consigo pensar em uma coisa nesse momento...No quanto a Sra é incrívelmente sábia...
Parabéns pelo blog.
Parabéns pela simplicidade com que escreve...
Autor: Dom Morais
Te odeio mãe natureza!
To farto do teu engodo
Teu disfarce azul-turquesa
Como queres que eu te tenha amor?
Acumulas tanto ódio em córregos
Soterra teus próprios filhos
Droga! Não sabes que matastes?
Por pouco quase morro!
Sinto que morri um pouco
Para que tanta provação?
Do que restou, quase nada ficou
Meus entes... Uns bons, outros doentes
Até meu cachorro... Minha morada
Morro abaixo em avalanche destroçada
Se for para testar minha fé?
Ah, isso eu não aceito!
Não te dou meu perdão
É castigo pelo assorear dos leitos?
Vai! Desabriga os eleitos, de nocivos pleitos
Tuas enxurradas me deixam de alma vazia
Tormenta meus olhos d’água em profunda agonia.
Autor: Urubu Gótico
01000100 01101111 01101101 00100000 01001101 01101111 01110010 01100001 01101001 01110011
Sou um ser agourento, fake de um criador
Sem saber se fui criança, escondi minha dor
Na balada triste sobrevivendo por instinto
Fazendo poesias, disfarçando o que eu sinto
Comendo carniça passando o pano no mundo
Sobrevoando os lixões, sou um bicho imundo
Andando na terra ou voando bem alto
Com o sobretudo que flameja anunciando a paz
Disfarçando a razão de um coração que jazia
Ecoando no ar um tom falso de alegria
Mas eu preciso mudar, eu preciso amar!
Viver sem ter tanta tristeza no olhar
Abandonar o lixão, virar um cidadão
Sentir o que é ser gente de verdade
Essa numeração é o códico do Urubu
Encantei com seu blog !
Boa Noite ! Bons Sonhos!
Mas, por outro lado, eram raros esses crimes hediondos e hoje, por força da criminalidade e tráfico de drogas, tornou-se banal.
Abraços
João