VOVÓNEUZA - VERSÃO 2010


Na vida tudo muda. Mudam as pessoas, muda o ambiente, mudam os comportamentos, mudam os interesses, mudam os conceitos, mudam os sentimentos........Mudanças sempre acontecem.

Quando eu comecei a me auto avaliar, a escrever “Quem sou eu?” em 2008, eu era uma. Sou outra em 2010. Já em 2009 me repaginei, mantive algumas caracteristicas imutáveis mas mudanças já acaonteceram e eu aprendi a conviver com elas. Mas não foram muito “mudanças” e foi fácil a adaptação.

A Vovó Neuza de 2010 está diferente.

Muitas coisas se mantiveram, mas o perfil já está diferente e a vida também.
Em 2009 estudei e produzi muito. Quem mostra isso é a minha retrospectiva anual. Quando fui fazer o necessário backup o material não cabia em pendrive comum e nem em um CD. Tinha 3,24 gigabites e tive que usar um DVD. E aí é que me dei conta de quanto tinha estudado, trabalhado, escrito. Consequentemente aprendi muito. Quando consigo tempo para pensar, aparece aquela velha ansiedade de querer passar para frente o que sei ou a pergunta “para que estudar tanto, nessas alturas da vida?” Pelo prazer, pelo simples prazer. E para me dar segurança nas minhas atitudes.

O que continua igual são meus cinco campos de interesse – MUSICA, ARTE VISUAL, LITERATURA, CIENCIA E MEMÓRIA - Estou procurando me dedicar um pouco mais à Literatura. Procuro algum curso de Arte, de musica ainda não consegui, Ciencia só perspectivas, e Memória continuo lutando para trabalhar porque é algo em que acredito e batalho para motivar pessoas, principalmente idosos. Tive problemas com atividades fisicas mas já resolvidos. Continuo participante de pesquisas.

Mas, minha vida pessoal mudou muito. Para melhor? Pior? Mudou.

Durante os meus 46 anos de casamento, embora atendendo marido, mãe, pai, sogro, sogra, filhos e “anexos”, quem resolvia problemas domesticos era eu. Só eu. Quando Ayrton foi embora, eramos eu e minha mãe e eu assumi todas as respondabilidades. E aí ela também foi e eu ainda mais sozinha tinha tudo a resolver da minha vida. Raramente pedia um conselho.E isso criou um perfil de independencia pessoal muito acentuado.

De repente acontecem mudanças materiais. Elas teriam que acontecer mais cedo ou mais tarde e muito melhor se foram consensuais e não compulsórias. Estou envelhecendo, causo mais preocupações á familia proxima e seria egoismo querer me manter sozinha à custa de trabalho e pensar de outros.

As mudanças chegaram na figura de um filho em seu segundo casamento e que voltou para cá. Também veio o seu amor de outono e por isso mesmo muito intenso.

E a “população” da minha casa triplicou. São três agora as pessoas interagindo. Duas mulheres a cuidar da casa. Duas mulheres com idades diferentes, conceitos diferentes, costumes diferentes, energias diferentes, noções de tempo diferente, cada uma marcando um espaço seu. E um homem para interferir, ainda bem que filho.

Arestas tem que ser aparadas, mas isso leva um tempo. O que vale é a cabeça de cada um, uma inteligencia atuante e sempre atenta, um “jogo de cintura” que às vezes cansa. O importante é o respeito que cada um deve ter para com o outro.

Os acertos vão acontecendo, os espaços de cada um delimitados e de minha parte a tolerancia não quer dizer submissão. É saber viver.

Falta muito? Acho que nem tanto. Estou ainda me reeducando para essa nova vida. Estou chegando na “universidade”. Depois, um “doutorado” e até “pos-doc” deixarão tudo “quase” perfeito. Perfeito, nunca.

Colocando na balança: Estou mais desobrigada de uma série de atividades (uma delicia chegar para as refeições sem saber o que esperar. Pura surpresa), tenho mais tempo para minhas atividades de prazer, mais folga financeira (dividimos gastos domesticos) e sobretudo tenho companhia, tenho com quem conversar, trocar idéias e até “brigar” com filho. Perdi um pouco da independencia domestica, mas isso é tão pouco importante que não chega a mexer o fiel da balança. Ganhei mais do que perdi. Muito mais.

Ao que tudo indica, as pedras vão se assentando, problemas sendo resolvidos e logo logo tudo se torna rotina outra vez.

O que mais pode desejar uma pessoa aos 80 anos? Esperar voltar a registrar as mudanças em 2011.

Usando Fernando Pessoa:
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

Vovó Neuza – Abril de 2010

Comentários

Olá Neuza!

Mudanças, muitas mudanças...
Desde que nos conhecemos muitas mudanças aconteceram. Que bom que você também participou das minhas.

Margarete Barbosa
Dé Elis disse…
Olá Sra. Neuza, tudo bem?
Sou a Debora, estudante de jornalismo da universidade Mackenzie e estou fazendo uma matéria com o tema centro de São Paulo. Como visitei seu blog e achei textos com esse tema, gostaria de saber se podemos manter inicialmente contato por email para conversarmos sobre esse tema. Meu contato é deboraelis@msn.com
Obrigada pela atenção!
Debora Luvizotto
imaculada disse…
QUE LINDO ESSE TEXTO, ME VEJO COMPLETAMENTE DELE, SÓ QUE AS AVESSAS...
O IMPORTANTE REALMENTE É SABER LIDAR COM ESSAS SITUAÇÕES...QUE SÃO DIFICEIS MAS NÃO IMPOSSIVEL NÃO É?
UM GRANDE ABRAÇO,
IMACULADA
Jo Turquezza disse…
Oi vovó Neuza!
Conheci o endereço de seu blog no Programa Roberto Canázio.
Você é um exemplo fascinante, nos dá ânimo para ir sempre, buscar sempre.
Também tenho um blog
http://turquezzaa.blogspot.
com
É o que faz-me mais viva e com mais sabedoria nos meus 60 e poucos anos.
Parabéns e continue nos guiando para frente e para o alto.

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