1950 - EU e UM SAPO
Começo com uma foto
que encontrei em algum canto por conta das arrumações em tempos de
isolamento.
Segundo ano da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, curso de História Natural que
funcionava em um palacete na Alameda Glette nos Campos Elíseos. Aula de
Fisiologia Animal, prof. Paulo Sawaya. Comprovar in loco o que se
aprendia nos livros.
Já devo ter escrito
sobre o assunto em algum lugar, mas certamente não teria como abertura essa
foto encontrada por conta do atual Coronavirus que me fez isolada em casa
e remexer em cantos nunca dantes remexidos.
Se já escrevi, faz
tempo e o meu público não é o mesmo e vale a pena republicar como
nome
O SAPO NA MINHA VIDA
Sapo
jururu. Na beira do rio
Quando
o sapo grita maninha,
É
que está com frio....
Mentira
Sapo
não sente frio. Sua temperatura
varia com o meio ambiente
Cantiga
enganosa
Até os 20 anos, eu não tinha visto um sapo de perto. Não morava em zona
rural nem perto de rios ou lagoas. Quando a várzea do rio
Tamanduateí enchia na época das chuvas, - no começo da década de 40 – eu só via
a água de longe. Nunca cheguei perto.
No ginásio, o professor de Ciências falou em Batráquios, deve ter
mostrado figuras. Mas, nem livros didáticos existiam naquele longínquo
1943.
E ai, nos cursos de Faculdade, nas aulas de Fisiologia eu não só vi, mas
tive que lidar diretamente com sapo e girinos.
Sapo é um bicho feio, frio, com olhos meio assustadores e as glândulas
aos lados dos olhos inspiram medo. É folclórico dizer que o sapo esguicha
veneno quando pessoas ou animais se aproximam. Mentira. As glândulas
não têm músculos e só excretam veneno quando comprimidas. São de defesa quando
algum animal abocanha o sapo.
E fiquei um ano pegando sapos, espinhalando sapos, dependurando-os pelos
músculos em aparelhos primitivos e improvisados. Fazendo
experimentos. Errando, acertando, concluindo, aprendendo. Lidando
com sapos vivos, mas insensíveis. Espinhalados, continuavam vivos podendo
mostrar o funcionamentos dos orgãos , mas não sentiam dor porque a
ligação espinha dorsal - cérebro tinha sido destruida.
E sapos ficaram meus amigos, companheiros do dia a dia. Não mais medo,
não mais aflição pela pele fria e pelos pulos frequentes.
O tempo passa, eu não se lembro de mais dos sapos até que a suspeita de
um filho gerado me faz procurar um laboratório para um exame diagnóstico. Ainda
não se compra testes em farmácia. É o meio da década de 50.
Já bióloga, aceitei e curti a volta do sapo como parte de
minha vida.
Fiz o teste que se chama Galli—Mainini e
utilizava sapo.
Como? se utilizava a urina da mulher que se supõe grávida. Injeta-se
abaixo dos pulmões do sapo macho essa urina e no dia seguinte, retira-se, o
conteúdo cloacal do sapo: urina, fezes; Normalmente ele só elimina
espermatozoides (células reprodutoras masculinas) quando em acasalamento, mas
se a urina testada contiver hormônio fabricado durante a gravidez, no conteúdo
cloacal estarão muitos espermatozoides. Então, o resultado será positivo.
Imagine se o sapo não se tornou mais uma vez importante na minha
vida. E se tornou outra vez mais em outra gravidez suspeitada.
Por isso, é comum quando alguém lhe pede uma palavra, vem fácil a
palavra SAPO.
Há sapos, sapinhos e sapões por toda a casa sob forma de bichinhos,
chaveiros, enfeites, móbilis, bordados... Só ao vivo é que não.
Como gosto também de bichinhos de pelúcia, tenho na parede do meu
quarto, dentro do meu campo de visão um belo sapo de pelúcia que faz a alegria
das crianças quando me visitam e a minha também. Me diz boa noite e bom dia
todos os dias.
Comentários