QUANDO SÃO PAULO PAROU (HÁ 96 ANOS)
Considerando que a ideia de
uma greve geral para o dia 1º de julho está tomando conta do país, as várias
manifestações iniciadas já neste mês de junho, é interessante saber um pouco da
história da cidade no que se refere à greves.
Acho que a primeira grande
greve na cidade de são Paulo foi há 96 anos, quando a cidade de são Paulo teve
manifestações populares reivindicatórias.
São Paulo começava a se
industrializar, tinha muitos operários, geralmente imigrantes italianos e
espanhóis. Mas, com os imigrantes chegavam militantes anarquistas que plantavam
ideias de mobilizar trabalhadores para protesto
Criaram sindicatos , organismos de resistência e de luta dos interesses
do trabalhador. Eram organizados, orientados e mantidos pelos trabalhadores.
Basicamente pretendiam melhores condições de trabalho e de vida. Carestia da vida e crise no trabalho foram os
temas da greve.
As primeiras tentativas de
uma greve maior já tinham ocorrido em 1907 e novamente em 1912. Mas, foi em
1917 que um movimento grevista inédito foi deflagrado e durante três dias
pararam as atividades industriais, comerciais de serviço e de transporte.
Além do aumento contínuo nos
preços dos produtos alimentícios, os paulistanos se viam às voltas com a
adulteração e a falsificação de alimentos que atingiu, no ano de 1917
proporções jamais alcançadas. Areia era adicionada ao açúcar, caulim à farinha
de trigo e serragem de madeira á farinha de mandioca. O leite recebia água e polvilho Para aumentar
a quantidade o sal recebia vidro moído e areia. Acido acético diluído em água
era vendido como vinagre. O preço do feijão subiu de uma vez de 200 réis o
litro para 500 réis o litro. E o salário não aumentava. Os jornais e revistam se
manifestavam á sua maneira e as charges apareciam com frequência.
Outro problema trabalhista
foi a mão de obra feminina e infantil. À
mulher pagava-se a metade do salário pago ao homem. À criança, pagava-se 10%.
Havia crianças com menos de 12 anos em trabalhos noturnos.
Com essas reivindicações
básicas, os grupos organizados se chegaram aos trabalhadores que já no mês de
maio de 1917 começavam a participar de manifestações públicas de protesto. O
movimento grevista foi se alastrando no começo de julho e o estopim para a
explosão do movimento foi a morte de um jovem sapateiro espanhol de 21 anos.
Os grevistas exigiam aumento
de 20% no salário, mas a proposta encontrou
posição inflexível do comendador
Crespi dono de fábricas . O único que concordou com o
aumento de 20% foi Jorge Street presidente da Companhia Nacional de Tecidos de
Juta.
Com a liderança de um
jornalista libertário, de grande capacidade oratória e o clima de emotividade no
acompanhamento do enterro do jovem sapateiro, foi proposta a greve geral. Comícios
e manifestações pipocaram por toda a cidade e foram reprimidas pela polícia como sempre com
violência.
No dia 12 de julho padeiros,
leiteiros, trabalhadores da Companhia de Gás e da Light aderiram ao movimento
grevista. A cidade amanheceu sem pão, sem leite, sem gás, sem luz, sem
transporte. Atividade industrial paralisada., comércio com as portas fechadas,
tráfego de bondes interrompido. Nenhum
“tilbury” circulou. Uma convulsão social
sem precedentes.
De 9 a 16 de julho tecelões,
marceneiros, pedreiros, marmoristas, cocheiros, , motoristas, motorneiros eletricistas, telegrafistas,
chapeleiros, sapateiros, alfaiates, costureiras, lavadeiras, cozinheiras,
padeiros, leiteiros, açougueiros.........beirando os cem mil, pararam as
atividades.
A multidão agitada povoou as
ruas da cidade. E depredações aconteceram:
lampiões de gás foram destruídos, rolhas colocadas nos trilhos dos bondes para
evitar a circulação e a ação repressiva da polícia entrou em ação. Até uma bala
perdida matou uma menina durante o conflito entre policiais e grevistas.
Negociações demoradas
aconteceram e os industriais acabaram por ceder às reivindicações dos
trabalhadores e em 16 de julho a greve terminou.
Foi uma semana trágica,quando
São Paulo parou.
E a greve se alastrou por
cidades do interior como Campinas, Jundiaí, Sorocaba.... Com o mesmo objetivo.
Livro consulta – A Greve
Geral Anarquista de 1917 com resumo “A
Semana Trágica” de Christina Roquette Lopreato
Em uma observação rápida: em
uma época de pouca tecnologia, com meios de comunicação mínimos, toda uma
população foi capaz de se mobilizar e defender seus direitos. Imagine agora com
redes sociais, tecnologia avançada de comunicação, o que se pode fazer.
Mutatis
mutantis é uma situação bem parecida. Procurem fazer comparações.
Já nos mobilizamos na
ocasião do impeachment, já reagíamos como o possível na ditadura. Portanto
temos sim, fôlego para mostrar quem somos e a que viemos. Se já fomos capazes
de reunir uma multidão na Sé, local tradicional de manifestações (diretas já),
temos força sim. Principalmente se tivermos em mente que os objetivos são muito
mais sociais do que políticos. Independem de partidos.
Veja a Praça da Sé
totalmente tomada e fazendo corredor a rua Benjamim Constant para chegar à
Faculdade de Direito, lugar também de concentrações
E, PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI
DAS FLORES, leiam a publicação seguinte.
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