A VOZ DOS OBJETOS - A HISTÓRIA DE UMA PANELA DE PRESSÃO DE 61 ANOS
Foi presente de casamento do
Sr. Max e D.Ana, donos do espaço do consultório que Ayrton tinha antes de nos
casarmos e onde ele “morou” precariamente durante dois anos.
Foi em 1953 quando eu, Neuza e Ayrton nos
casamos.
A panela de pressão era da
marca MARMICOC, de 7 litros, marca que achei que não existisse mais.
Google me diz que existem sim,
mais modernas ante aderentes e as mais procuradas são de 4,5l.
Achamos engraçado receber de
presente uma panela tão grande para um casal que estava iniciando a vida a
dois.
Mas, sábios eram eles prevendo
que no futuro não seriamos apenas dois e precisaríamos de uma panela
maior.
Realmente de dois viramos quatro com os filhos, depois seis com meus pais junto e nos
ajudando com os filhos e trabalho. Durante um tempo fomos oito com os outros pais junto para agora cuidarmos deles. E
nossas ajudantes que sempre foram consideradas da família porque ficavam
conosco, 10, 12 ou mais anos.
Afora hóspedes temporários
(nem tão temporários assim) durante algum tempo fomos oito.
Os filhos crescem, procuram
seus pares e logo logo fomos dez fixos,
mais do que isso variáveis porque sempre os filhos traziam amigos, colegas ou
namoradas(o)
E aí sim a panela grande
prestava seu serviço. Usada sempre para o feijão gostoso nossos ou de nossas
ajudantes. Sempre firme, nunca precisou de manutenção. Só a troca de borrachas
que não davam conta do grande uso.
Passa o tempo, mais quatro chegam à nossa família
como netos. Não moravam conosco mas viviam sempre conosco. Vez por outra somos catorze quase que para
o dia a dia.
E aí entra o tempo da
diminuição. Vão para outros mundos os pais de Ayrton, depois meu pai, o Ayrton,
minha mãe também.
Acabei ficando sozinha porque cada
um tem sua família própria. Os nove do núcleo mais próximo às vezes ainda se reúnem,
mas cada vez menos.
E a panela foi perdendo sua
função. Outras menores tomaram seu lugar, mas nunca quis dispor dela. Ficou
guardada, esquecida, descansando em um armário de difícil acesso.
Me lembro de uma vez, por volta
de 2004 quando Neide Duarte fazia uma matéria sobre São Paulo e me entrevistou
aqui em casa, ao saber da existência dessa panela me fez subir na escada (bons
tempos em que eu ainda subia firmemente em escadas até altas) pegar a panela para
gravar minha fala sobre ela. Ela, a
panela, saiu do anonimato e teve seus cinco minutos de fama.
Agora estou de novo em uma
época de transição de vida, revendo objetos e fazendo triagem necessária, e lembrei
dela. Precisei pedir ao faxineiro do prédio para pegá-la. Não subo mais em
escadas, nem baixas. Ela continua “quase” perfeita e vai de herança para André
meu neto que está montando uma pousada em Cunha. E vai servir sim para cozinhar
um feijão gostoso em um fogão a lenha. Ainda vai ter uma sobrevida que acredito
bastante longa.
Eis a imagem da panela que
acabou sendo um objeto biográfico meu, acompanhando minha vida durante 61 anos.
Falta o apoio em direção ao cabo que já
pedi à fábrica que ainda existe e funciona bem.
Comentários
Abraço.
Simplesmente agradeço por estar entre nós escrevendo essas lindas narrativas cheias de muito amor.
Parabéns