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Mostrando postagens de maio, 2008

MEU PRIMEIRO BAIRRO - O BRÁS

Foi o Brás da década de 30. Um Brás que se originou da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinho, na várzea do Carmo, erigida pelo português José Brás. Suas várzeas e brejos foram caminho de passagem para os paulistas que se dirigiam à corte, no Rio de Janeiro. E esses viajantes pagavam imposto de passagem (o bisavô dos pedágios atuais). O seu primeiro espaço comunitário foi a Praça do Brás, ao redor da qual ficavam chácaras famosas: do Bresser, do Coronel Inácio de Araújo com suas parreiras e fábrica de vinhos e licores, das chácaras de Bohemer e Henriksen com suas fábricas de cerveja. Um Brás que foi lento em seu progresso em função das constantes inundações da várzea do Tamanduateí e só começou a progredir em 1870, quando as margens do rio foram saneadas e foi construído o Parque Dom Pedro II, área de lazer, banhos e esportes dos paulistanos. Um Brás que saltou e se fez bairro, a partir da chegada da Estrada de Ferro do Norte, inaugurada em

HISTÓRIAS DE PROFESSORA

Sempre fui uma profissional dedicada. Durante os quase 30 em que lecionei Ciências, Biologia, Biologia Educacional, Anatomia e Fisiologia Humanas e outras matérias, de acordo com o curso assumido, sempre procurei motivar os alunos, mostrar-lhes aspectos diferentes dos estudos, e minhas aulas sempre foram muito movimentadas, cheias de novidades e fiz coisas de que nem eu mesma me lembrava. Foi preciso de ex-alunos me escrevessem me lembrando das minhas corridas de baratas, criações de bicho de seda, estudos de formigueiros e minhocários, observação continuada de caramujos, cobras que comiam outras, dessecação de sapos, estágios em maternidades, atividades praticas de puericultura etc etc etc. A criação de bicho da seda que propus aos alunos foi algo que movimentou a comunidade. Foram mais de mil larvas alimentadas, foram todas as amoreiras do bairro desfolhadas, centenas de casulos espalhados pela sala, milhares de metros de fios enrolados e algumas peças tecidas em tricô ou crochê como

SAUDOSISTA NÃO

Em um dos comentários sobre meus textos, fui etiquetada de saudosista. É um comportamento que não tenho. Não se deve confundir saudosista com memorialista. Não tenho saudades do tempo de dantes. Resgato a memória de outros tempos e assim acabo sendo uma testemunha da história. E a história é feita desses depoimentos do cotidiano e não do depoimento dos vencedores.

MUSICA EM ABRIL

São Paulo me oferece muito em termos de musica. Não consigo aproveitar a metade. E são só as musicas eruditas, as que eu gosto mais. Gosto de falar do que ouço, tentando motivar pessoas a conhecerem um tipo de musica que se diz eletizante mas na verdade é pouco conhecida. Ao enumerar as musicas que ouvi, comentar o que achei (sempre comentários pessoais) retorno a elas e é uma dupla vivencia musical. E a variedade de estilos é que dá a graça. Prestando contas da minha musica em abril. Começamos com o dia 2, dia especial, de festa no lançamento do livro “São Paulo Minha Cidade”. Muita musica de um São Paulo meio antigo, compositores paulistanos presentes e prestigiando cantores novos para suas musicas. As músicas de São Paulo me emocionam, sejam elas sambas, rocks, canções temáticas. Final com uma apoteose com cantores e compositores cantando “São Paulo que Amanhece Trabalhando”. Bela festa musical na também bela Sala São Paulo. Começamos bem o mês musical. O Anel dos Nibelungos de Wagn

COMO SABER SER FELIZ COM O QUE A VIDA OFERECE

Há dias em que a gente se sente a escolhida para ser presenteada com coisas boas e assim ficar enriquecida. Tudo soa bom, mesmo o que seria desagradável pode se tornar aceitável. Foi assim neste dia 8 de maio, que já tinha sido precedido pelo dia anterior em que muitas atividades (sete) foram cumpridas no tempo certo: musculação, aula na USP, encontro com filho, musica na Faculdade de Medicina, livro na Editora Cosac Naify (andei muito para chegar até lá); aula na Estação da Luz e Casa das Rosas com aula sobre o Ano 68 na musica brasileira. Nada falhou. Para o dia 8 já tinha programado o inicio de um novo curso. As novidades sempre me deixam ansiosa, na expectativa. Certamente já esperava coisas positivas porque já conhecia o espaço, suas atividades, sua filosofia de trabalho e atuação na sociedade. Mas estava em outro lugar da minha vida. Ainda não chegara o tempo. Conheci realmente o CIEE em um concerto. Lugar simpático, bonito, com pessoas de classe no atendimento. Só agora me cadas

O SAPO EM MINHA VIDA

Sapo jururu Na beira do rio Quando o sapo grita maninha, É que está com frio . Mentira. Sapo não sente frio Sua temperatura varia com o meio ambiente. Cantiga enganosa Até os 20 anos, eu não tinha visto um sapo de per

AS CANETAS NA MINHA VIDA

Quantas passagens, quantos progressos. As primeiras canetas de que me lembro, de meu pai, eram canetas de madeira, com penas de aço, Ronde ou Gótica. É imagem mais longínqua de minha infância, que se fixou e me acompanhou muito tempo, foi uma caixinha pequena, de uns 5cm por dois ou três cm (de chá inglês) onde meu pai guardava suas penas, mergulhadas em talco. Ele as usava para as “escritas” que fazia exercendo a função de guarda-livros. Assim, os cabeçalhos CAIXA, CONTAS A PAGAR ...... eram escritos com letras rebuscadas, que, para serem escritas necessitavam treino e escola. Meu pai fez (e se usava muito) a Escola de Caligrafia do prof. Di Franco, que foi famosa e se manteve muito tempo em S.Paulo. Ainda existe na Avenida Rebouças. Caligrafia era importante e nas escolas primárias os cadernos de caligrafia (existirão ainda?) eram obrigatórios. Dessas canetas - arte, outra lembrança é a de bancos escolares, das carteiras de madeira com tinteiros embutidos. Escrever à tinta já era

OS FOGÕES NA MINHA VIDA

Fogões, objetos do cotidiano, sempre estiveram presentes nas lembranças de minha infância e de adolescência. O primeiro fogão de que me lembro foi aquele que tinha uma ou mais grelhas, mas não era fogão de lenha. Era de carvão. Para pegar fogo no carvão era necessário fazer, no fundo da grelha, um amassado de papel – geralmente jornal - colocar umas madeirinhas entrecruzadas e carvão por cima. Pegando fogo no papel, passava à madeira e chegava ao carvão. Demorava um pouco. Então, eu me lembro de minha mãe à noite, cortando madeirinhas finas e “armando” a grelha, para de manhã ser mais rápido. Em algum tempo usou-se o coque, carvão mineral, umas bolas bem redondinhas, do tamanho de bolas de ping-pong. O fogo durava mais, dava mais calor, mas era mais caro. Numa emergência ou no café da manhã, enquanto o fogo não estava aceso (depois conservado por todo o dia), usava-se uma “espiriteira” O que era uma “espiriteira”? Uma peça de ferro redonda, do tamanho de um palmo mais ou menos, com has

OS COLCHÕES DA MINHA VIDA

Os primeiros colchões de que me lembro eram de palha de milho desfiada, crina, capim, barba de bode ou paina. Só tivemos de palha de milho mas os parentes tinham de todos os tipos. Os colchões de paina (e também travesseiros) eram os mais macios, feitos com a pluma que envolvia as sementes das paineiras. Na época do outono as paineiras ficavam e ficam,cor de rosa, suas flores são polinizadas geralmente por pássaros (hoje maritacas). No inverno muitos frutos dependurados quase substituem totalmente as folhas e ao se abrirem espalhavam as sementes que flutuavam no ar suspensas pela pluma até chegar ao chão. Lindo. Até hoje me encanta.o espetáculo das sementes flutuando. Mas nunca tivemos um colchão de paina. Talvez um travesseiro. Os de palha de milho eram os mais modestos. Qualquer casa tinha sua plantasãozinha de milho. Comidos os grãos usava-se a palha. Capim e barba de bode só no campo. No início, os colchões nem eram pespontados. Eram simplesmente uns sacos cheios com um desses mate

LEMBRANÇAS DE UMA ÉPOCA

Durante a minha já longa vida, vivi mudanças intensas: o advento do Modess, por ex., deu à mulher uma independência que só pode ser avaliada por quem viveu nas duas épocas: a das toalhinhas higiênicas (vendidas até em magazines ou feitas em casa), laváveis, trabalhosas, constrangedoras, volumosas, anti-higiênicas, e depois os absorventes descartáveis relativamente baratos, fáceis de usar (e vem sendo cada vez mais) embora no começo houvesse até cintinhas especiais com presilhas, discretos, higiênicos. Mesmo assim, foi preciso muita propaganda e preparo para se tornar um hábito. Hoje há muitas marcas e “modess” passou a designar o objeto. Vivi também a saga do Papel Higiênico, a partir de folhas de jornal ou papel manilha previamente cortadas e dependuradas ao lado do vaso sanitário. .Dá para imaginar tal situação? Hoje há Papel Higiênico , de folhas simples e duplas (??) de todas as cores e texturas. E até os “NEVE” da vida. Quando escrevi sobre minha atividade profissional em 1952 no