AS CANETAS NA MINHA VIDA


Quantas passagens, quantos progressos.

As primeiras canetas de que me lembro, de meu pai, eram canetas de madeira, com penas de aço, Ronde ou Gótica. É imagem mais longínqua de minha infância, que se fixou e me acompanhou muito tempo, foi uma caixinha pequena, de uns 5cm por dois ou três cm (de chá inglês) onde meu pai guardava suas penas, mergulhadas em talco. Ele as usava para as “escritas” que fazia exercendo a função de guarda-livros. Assim, os cabeçalhos CAIXA, CONTAS A PAGAR ...... eram escritos com letras rebuscadas, que, para serem escritas necessitavam treino e escola.

Meu pai fez (e se usava muito) a Escola de Caligrafia do prof. Di Franco, que foi famosa e se manteve muito tempo em S.Paulo. Ainda existe na Avenida Rebouças.

Caligrafia era importante e nas escolas primárias os cadernos de caligrafia (existirão ainda?) eram obrigatórios.

Dessas canetas - arte, outra lembrança é a de bancos escolares, das carteiras de madeira com tinteiros embutidos. Escrever à tinta já era um degrau a mais na escola. Acho que no terceiro ano primário. Quanta tinta derramada, quanto avental branco (uniforme da época) manchado. As penas simples, quando muito usadas “abriam” no meio e eram então substituídas.

Junto com elas, as canetas vem a lembrança do limpa-penas: vários círculos de feltro escuro, de vários tamanhos de diâmetros (começando por 8 ou 10cm) e presos no centro por um botão.

Entre os vários círculos de feltro se limpavam as penas. E o mata-borrão? Preso em uma espécie de berço de madeira com um parafuso, ficava um papel poroso e grosso (o mataborrão) que servia para enxugar o excesso de tinta deixado pelas penas.

Que progresso o aparecimento das canetas-tinteiro, com depósito de tinta cheio com êmbolo. Vidros de tinta Sardinha e Pelikan estão na minha memória. As famosas Parker, mais simples com desenho de anéis em azul ou marrom, mais sofisticadas com tampa dourada, as famosas Parker 51, inesquecíveis na nossa geração. Símbolo de status porque as mais caras.

Cada vez mais baratas e mais variadas, as canetas mudaram muito. É claro que há as hierarquicamente superiores como as Mont Blanc e cia, mas, o que se usa mesmo são as BIC ou PILOTS ou JOHANN FABER da vida, ao preço irrisório de uns 50 centavos de Real (equivalentes a um pãozinho ou 1/3 de litro de leite). Não exigem cuidados, tanto se acha como se perde, e estão por toda parte de uma casa, usadas a qualquer hora e em qualquer circunstância.

Tanto servem a grandes arroubos literários como a plebéias listas de compras de supermercados da esquina.

Canetas Montblanc são símbolos de altíssimo status. A mais baratinha custa hoje (2008) R$ 365,00 e a mais cara custa o preço de um Jaguar.

É com uma dessas esferográficas (é muito engraçado ouvir pessoas pouco cultas, chamá-las de estereográficas) que escrevo o rascunho destas notas.

Escrito em 1996 – revisto em 2008

Em tempo:- Em 1997, minha mãe ainda tinha a famosa “caixinha” de minhas lembranças. Meu pai a tinha desde 1924. É exatamente como a descrevi. Só não me lembrava o que tinha escrito e que “voltou” - TE SOL com um sol desenhado, e nos bordos indicações de que originalmente a caixinha continha mistura de chás da Índia e do Ceilão.


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