Escultura “O Beijo Eterno” – William Zadig - 1920


 No início da Avenida Paulista (hoje final, entre as ruas Minas Gerais e Augusta), em 1920, alguém teve um dia a ideia de implantar um monumento que homenageasse Olavo Bilac. O Prefeito Firmiano de Morais Pinto procurou tomar todas as providências para que a iniciativa tivesse êxito. O escultor escolhido foi o suíço William Zadig. O resultado foi lastimável. Além de revelar falta de percepção da paisagem, o monumento não tinha unidade plástica e, pior do que isso, não tinha poesia. A falta de unidade facilitou o esquartejamento da obra e seus fragmentos foram espalhados pela cidade com a falta de cerimônia com que são tratados os monumentos desta cidade. Do conjunto só restou a imagem do gesto desolado do poeta que ficou a ouvir estrelas.”
(Toledo, Benedito Lima de – “Álbum Iconográfico da Avenida Paulista”, Ed. Ex Libris, 1987 – p. 21)
O MONUMENTO A OLAVO BILAC – Avenida Paulista
Na década de 10 do século passado, Olavo Bilac e sua campanha civilista chegaram a São Paulo e encontraram adeptos nas Arcadas.
Quando Bilac faleceu, em 1918, aos 53 anos, os membros da Liga Nacionalista, cuja direção e maioria dos membros eram estudantes e professores da Academia de Direito, resolveram fazer uma homenagem ao poeta. Após o levantamento dos fundos necessários, contrataram o escultor sueco William Zadig, professor do Liceu de Artes e Ofícios, para esculpir um conjunto monumental em honra a Bilac. O monumento foi inaugurado em 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência, pelo então governador Washington Luís.
A obra foi instalada na Praça Minas Gerais, no final da Av. Paulista. Contava com cinco peças de bronze. O busto de Bilac aparecia no centro da composição; nas laterais, encontravam-se A Tarde, O Caçador de Esmeraldas, O Beijo Eterno e Pátria e Família, representando os escritos do poeta.



 Em 1936, por conta de controvérsias com os modernistas e alegando ser necessária a remodelação do local para adequar-se ao volume do tráfego, o monumento foi desmontado, e as estátuas foram todas para o depósito municipal.
Quando Jânio Quadros assumiu a prefeitura, em 1953, durante uma visita ao viveiro municipal Manequinho Lopes (hoje integrado ao Parque Ibirapuera), viu a estátua O BEIJO ETERNO e mandou que se a instalasse no Largo do Cambuci. Segundo relata Barros Ferreira, o motivo seria que o prefeito, antigo morador daquele bairro, sabia o quanto o local era esquecido pela administração pública.  Não ficou 24h. As senhoras moralistas escandalizadas com a nudez do casal se movimentaram e francês e índia foram retirados   de lá. E foram para o depósito da Prefeitura.
Ficaram esquecidos até que o prefeito Faria Lima, em 1966 muito discretamente para não causar polemica, os fez colocar nos jardins de entrada do túnel Nove de Julho. E aí, foi um vereador que protestou achando a escultura obscena.

Fartos das idas e vindas da estátua, paga pelos ex-alunos da Faculdade de Direito, os estudantes mobilizaram-se. Na calada da noite, retiraram o francês e a índia e levaram-nos para a praça na frente da Faculdade para o seu agarramento eterno bem guardado de eventual retórica moralista.

Incansáveis, os amantes mantiveram sua apaixonada homenagem a Bilac em meio à fuligem, até serem salvos por quatro cabeludos à Castro Alves, da Faculdade de Direito, que os desembarcaram no Território Livre do Largo de São Francisco, em junho de 1962, para emoldurar novas lutas libertárias e inspirar trovas acadêmicas” (depoimento de Álvaro Quintanilha)

Hoje, quem passar pelo Largo São Francisco, vai encontrar os amantes no seu “Beijo Eterno” que não escandalizam mais ninguém.

De quem olha para a frente da Faculdade de Direito, à esquerda está uma escultura que toca a qualquer um que tenha amado. É O BEIJO ETERNO. O beijo que nunca acaba, o beijo que todos gostaríamos de ter beijado. Representa o mito do amor difícil entre uma índia e um francês.


  Não me basta saber que sou amado, 
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo
”.
                             Olavo Bilac

Nas palavras de Bilac, a paixão e a voluptuosidade Nas mãos de William Zadig, o sentimento do poeta virou uma escultura,

Comentários

Unknown disse…
Linda sua história, assisti agora na TV Cultura e me inspirou muito. Sou historiadora e achei muita generosidade de sua parte compartilhar seu conhecimento sobre história e memória, obrigada.
Unknown disse…
Adorei a reportagem que passou sobre a senhora na Tv Cultura.
Unknown disse…
Linda sua história, assisti agora na TV Cultura e me inspirou muito. Sou historiadora e achei muita generosidade de sua parte compartilhar seu conhecimento sobre história e memória, obrigada.
Claudio disse…
Acabei de ver o documentário na Cultura. Adorei. Sou seu fã.
Também acabei de ver a reportagem na TV Cultura. Parabéns!
Unknown disse…
Eu me apaixonei por vc :) que pessoa incrível queria te dar um abraço e conversar com vc por horas amg :)
Me chamo Helena , sou de Belém- Pará.
Prince Cristal disse…
Gostei muito de seu trabalho, entrevista e principalmente da sua FORMA ESPECIAL de ver a vida .
Parabéns !
Prince Cristal
Manoel Sanches
Unknown disse…
Muito linda a reportagem e facinante suas memorias
Unknown disse…
Assisti tb e estou emocionada com sua trajetória, sua organização suas memórias.. um exemplo para nós que portamos "juventude acumulada"..
Luciana disse…
Que sorte ver o programa de hj na TV Cultura. Fiquei encantada com seu viver, deu vontade de te conhecer pessoalmente. A melhor dica de como envelhecer que eu já recebi na vida. Informação verdadeira de alguém de verdade que sabe do que está falando pois precisou ressignificar a vida. Amei. Lição de vida.
Unknown disse…
Boa noite!Fiquei encantada com a reportagem na TV Cultura.
Só não gostei muito, porque peguei a história,na metade da reportagem.
Gostaria,que se possível,a Sra.,entrar em contato com a TV, para ver se é possível repassar essa reportagem um outro dia.
E a Sra., Avise aqui.
Pois eu já morei em São Paulo.Eu gosto muito de Sampa.
Vovô Neuza, eu irei à Sampa esse ano. Gostaria muito de encontrá-la para aprender um pouco com a Sra.
Amei.
Um forte abraço!
Senhora Neuza, Boa noite

Assisti ao programa na TV Cultura em que suas histórias
foram e são adoráveis.
Gosto de história também.
Sou de Campinas-SP.
Abraço

José Carlos Guireli
Senhora Neuza, Boa noite

Assisti ao programa na TV Cultura em que suas histórias
foram e são adoráveis.
Gosto de história também.
Sou de Campinas-SP.
Abraço

José Carlos Guireli
Unknown disse…
Inspirador ver uma pessoa que conhece Sao Paulo com uma facilidade, parabens a TV Cultura e parabéns para Dona Neuza. Fiquei fascinado com a reportagem.
Rosana (Rib.Preto) disse…
Adorei a reportagem da TV Cultura.
Parabéns D.Neusa.
Maravilhada por tanto conhecimento.
Anônimo disse…
Adorei conhecê la através do programa exibido na tv cultura, grande inspiração. Parabéns pelo lindo trabalho.
Pricilla
Fabiola e Tereza disse…
Neuza, amamos o documentário apresentado na TV Cultura há pouco! Ficamos com muita vontade de conhecê-la pessoalmente, iríamos passar horas e horas conversando. Minha mãe Tereza tem 79 anos e também sempre conta histórias de São Paulo, principalmente sobre os bondes, o pão e o leite em vidros eram deixados nas portas das residências às 5:30, 6:00 e ninguém mexia, sobre os coqueiros plantados em frente a catedral da Sé, muitas pessoas eram contra o plantio. Também outro assunto comentado é a demolição de um palco que havia em frente ao chafariz do Museu do Ipiranga pelo Jânio Quadros que mandou cercar o museu para não haver mais circulação de automóveis por dentro pois estava destruindo o patrimônio! Gosto de ouvir as histórias do tempo que havia a Rude, aquela polícia que agia na época da ditadura e não permitia pessoas nas ruas depois das 22h e abordavam as moças com truculência, perguntando para onde estavam indo e o que estavam fazendo naquele horário. É muito bom conhecer nossa cidade e ter memórias, obrigada por compartilhar conosco. Um feliz 2020, abraços. Fabíola e Tereza
Renato disse…
Boa noite Dona NeuZa.

Maravilhado com tudo mas especialmente com os passeio da senhora pelo Centro, de querer ver gente. Tambem gosto muito do Centro e gostaria de convidar a senhora para um café.

Parabens pela visao de vida!
Fabiola e Tereza disse…
Corrigindo: polícia RUDI
Renato disse…
Li todas postagens eligiosas acima. Que bom que muitas assistiram e se maravilharam. Fora Santos outros que tambem sentiram o mesmo e nao vieram.

Tomara que a Cultura reapresente ou disponibilize.

Inspiradora Dona Neuza.
Rodney disse…
Dona Neuza Guerreiro de Carvalho, que história linda, inspiradora e emocionante. Obrigado por compartilhá-la com todos nós. Ah, e parabéns pelo blog.
livia mund disse…
Neuza adorei sua entrevista na Tv Cultura.Só hoje pude assistí-la.
Você descreve São Paulo com uma intimidade natural. E detalhe, você se sente um grãozinho de areia. Mas eu diria que está mais para um caminhão de areia, com tantas informações e conhecimento paulistano.
Você é minha inspiração. Um grande beijo macaense.

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