16 de maio de 2013 – um dia denso,cheio de lembranças, de significados.
Hoje Ayrton faria 86 anos. É um dia
especial para mim. Não imagino como ele estaria porque ao partir as pessoas
como que congelam e são lembradas sempre pela mesma fisionomia. Para seus próximos param no tempo.
Começo meu dia às 5h hora em que me
levanto para poder cumprir meus compromissos matinais e ainda dar uma lida rápida
no jornal do dia. E hoje, um olhar mais demorado para a foto que ocupa lugar
privilegiado. Algumas palavras trocadas entre nós, só entre nós. Nem é mais de
saudade, porque 13 anos de partida, fez as rotinas do dia a dia
atual ocuparem o lugar de outras rotinas. Mas é de lembrança dos bons
tempos.
Devo sair de casa 6,30 se não quiser
ficar parada na Praça Panamericana por mais de meia hora mergulhada em um
trânsito insuportável. Chego antes das 7h à Cidade Universitária e minha aula é
só ás 8 horas. Ótimo. Aproveito quase uma hora para ler confortavelmente dentro
do carro. Agora leio “Lendo Lolita em Teerã”.
Das 8h às 12horas assisto a uma aula
de Estética e História da Arte, hoje versando sobre Arte e Civilização
Bizantina. A profa? Lisbeth Rebolo.
Meio dia saio da ECA para a
Musculação, atividade prioritária para mim. Mantém-me íntegra e com boa saúde. Escolhi
o trajeto pela Teodoro Sampaio. Pior escolha, porque os mais de dois kms foram vencidos
como um anda – para – anda – para irritante. Finalmente chego e passo uma hora
vencendo os 10 aparelhos com pesos variados. Nem me canso mais. É rotina de 13
anos.
Ainda paro no supermercado para
comprar açúcar mascavo o que me falta para um bolo de maçã delicioso para o fim
de semana. Assim tenho com o que receber minhas visitas.
Em casa, tento descansar um pouco
para a saída da noite, mas não tenho espaço. Tudo está sendo pintado no AP. e
tenho que andar durinha para não encostar nas portas recém pintadas. Com jogo
de cintura consigo trocar de roupa para sair.
E então, outro acontecimento.
Digo para mim mesma que estou em um ritual
de passagem porque passei de uma locomoção independente para uma locomoção
assistida, isto é começo a usar uma bengala. Preciso de mais segurança, penso
em mim e nos outros porque se cair será um grande problema para muitas pessoas.
Claro que não gosto, mas aceito essa nova condição. Usei a bengala pela primeira
vez hoje à note e senti mais segurança nas calçada esburacadas, desniveladas,
sendo mais fácil desviar do lixo esparramado.
Mas, à noite foi plena de beleza, de
sons do Eden (como diria o prof.Terron) que compensam todo e qualquer vazio que
encontro em mim por 13 anos de lembranças queridas.
16 – Noite –
Quase não chego. Novamente a Av. Dr.
Arnaldo parada. Mas, como sai com muita antecedência ainda cheguei a tempo.
Para chegar á Sala do Conservatório, mais de meio quarteirão da Av. São João,
lugar sem nenhuma iluminação própria para um evento da natureza que íamos
assistir. Na meia escuridão muitos moradores de rua esparramados pelo
quarteirão da São João dito Boulevard. Exigem atenção para não serem
atropelados. E lixo em espécie que será
muito maior na saída.
Onde estamos? Na Praça das Artes,
pertencente á Fundação Theatro Municipal (assim diz o programa) e mais
especialmente na Sala do Conservatório.
Que conservatório? Nada menos que o
Conservatório Dramático e Musical que desde 1909 ocupa o mesmo espaço. Passou
por fases de esplendor, outras de decadência, e agora recuperado, restaurado,
volta ao seu posto de sala de música por excelência.
Em um palco onde se apresentaram
grandes nomes e ocupando agora o lugar como sua sede, o Quarteto de Cordas da
Cidade, o “nosso quarteto” estaria se apresentado com dois dos quartetos de
Beethoven.
Prazer maior ver as fisionomias
conhecidas de Betina (particularmente charmosa no seu vestido de “folhas”)
Nelson, Robert e Marcelo prontos para um programa de altíssimo nível, com obra
de complexidade e dificuldade formal (palavras de John Neschling). A cada
programa eles se superam. Não há
palavras. Só posso ouvir cada nota e me angustiar por saber que a música vai
acabar. Não tem como encompridá-la. É finita.
É única daquele momento.
Os quatro, uma unidade enquanto
executam, ao terminar voltam a ser únicos, agora com a alegria de terem passado
para nós simples mortais, momentos de encantamento. São deuses nos oferecendo beleza. E por isso
recebendo aplausos e aplausos.
Tudo acaba e nem sentimos a dureza de
cadeiras desconfortáveis, que nada tem a ver com o espaço de um branco e
dourado e cortinas vermelhas como o Teatro do qual a Sala do Conservatório é
uma continuação.
Saindo, nem comento o “lustre” que
deve se sentir completamente inadequado, um elemento modernoso em um ambiente
solene e erudito.
Saímos em grupo para poder vencer com
segurança os poucos metros agora abarrotados de lixo e com mais habitantes.
Medo? Sim, mas também pena. Impotentes, convivemos com essa desigualdade que
nesses momentos se torna mais e mais evidente.
Escrevo este texto ao som de Grieg –
A suíte Peer Gynt e o concerto para Piano e orquestra.
Comentários
Um bom dia e um final de semana abençoada pelo nosso pai maior.
Sou um admirador e fã, gosto muito de tudo que a amiga nos conta, hoje em especial senti muitas energias salutares em seus ditames.
Aquele abraço
Fiz seus trajetos pelas ruas e avenidas de São Paulo. Década de 80 ainda se andava... hoje é terrível! Mas a cidade muito amada por todos nós. Mesmo com seus pontos negativos, ainda impera a cultura em teatros, sem dúvida alguma. Admiro sua energia! Parabéns! E, cuide-se pois, somos responsáveis por nossos atos.
Bjs. da Célia.