EDWARD HOPPER -O PINTOR DA SOLIDÃO
Em 2008 tomei conhecimento
de Edward Hopper através de um curso de Produção de Texto da Universidade
Aberta à Terceira Idade
.
A profa. Teresinha Tagé
apresentou imagens desse pintor, sugerindo que escolhêssemos uma delas e montássemos
uma história imaginada pela imagem.
Não escolhi, usei as oito
apresentadas e ainda procurei uma biografia do pintor. Textos curtos, de minha imaginação “na época”
e com os títulos que eu imaginei. Isso foi em abril de 2008
Biografia
de Edward Hopper- Nascido no estado de Nova York, em 1882 e
falecido em 15 de maio de 1967 Ao
completar sua educação for mal, Hopper
fez tr ês viagens pela Eur opa par a
estudar ar te
europeia, mas difer ente de muitos de
seus contempor âneos que imitavam as exper iências abstr atas
do cubismo, escolheu o realismo
Em 1925 ele pr oduziu Casa ao lado da fer r ovia, um tr abalho
clássico que mar cou sua matur idade ar tística. Foi usada como modelo no filme Psicose de Hitchcok
Edwar d Hopper foi
um pintor Realista Imaginativo, retratando com subjetividade a solidão ur bana e a estagnação do homem causando ao obser vador um
impacto psicológico.
A obr a
de Hopper sofr eu
for te influência dos estudos
psicológicos de Fr eud e da teor ia intuicionista de Ber gson,
que buscavam uma compr eensão
subjetiva do homem e de seus pr oblemas.
O tema das pintur as de Hopper
são as paisagens ur banas, por ém, deser tas,
melancólicas e iluminadas por uma
luz estr anha. Expr essão de solidão, vazio, desolação e estagnação da
vida humana, expr esso pelas figur as anônimas que jamais se comunicam. Pintur as que evocam silêncio, r eser va, com um tr atamento
suave, exer cendo frequentemente for te impacto psicológico.
Os oito trabalhos que
escolhi para descrever o que eles me sugeriam foram:
IMAGEM
1 – ESPERA
A esper a
é sempr e algo angustiante por que é o desconhecido. O que se esper a pode ou não acontecer
pode ou não ser agr adável. Por
isso a expr essão preocupante é r econhecível na fisionomia de quem esper a.
A espe
.L.. vive numa pequena cidade
com sua mãe. Há dias r ecebeu uma car ta
que a sur pr eendeu
e a deixou estar r ecida; Foi difícil disfar çar quando sua mãe per guntou
sobr e o r emetente.
Inventou uma histór ia possível: uma
antiga amiga que mor ava em outr a cidade contava as novidades. Na ver dade,
a car ta er a
de uma pessoa que se dizia sua ir mã.
Contava que J... como viajante tinha duas famílias em duas cidades difer entes. Sempr e
teve manejo da situação de modo que dur ante
mais de 20 anos as famílias não se conhecer am
nem sabiam da existência uma da outr a.
Mas, J... havia mor r ido e a outr a mulher
também. Já era tempo do que r estou das
famílias se conhecer em. M... quer ia conhecer
a ir mã por que
ela se sentia muito sozinha. Quer ia a companhia de alguém ligado por laços de sangue. Er a
uma necessidade afetiva.
L... guar dou a car ta,
não contou nada à mãe. Não quer ia faze-la sofr er antes da hor a.
Mar cou um encontr o com essa ir mã
desconhecida par a conver sar e r esolver
o que fazer .
Nessa esper a ficou lembr ando
toda sua vida e por isso par ecia absor ta
em pensamentos quando foi flagr ada
por um “fotógr afo”.
Está se per guntando: Como vai ser daqui par a
fr ente? Vou gostar dessa ir mã
desconhecida? Como minha mãe vai r eceber a notícia?
Ainda não tem r espostas.
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Cidade pequena, inter ior ana,
não ofer ece muitas diver sões. Tr abalhos
não muito inter essantes. Os r apazes da cidade já migr ar am par a
outr os espaços, pr ocur ando
novas vidas. Os que ficar am er am disputados fer ozmente
pelas moças. Mas quase todos já tinham compr omissos.
A... e D... são amigas desde a infância. Não são
muito bonitas e por isso os homens não se inter essam
por elas. Nascer am
no lugar e desde que puder am entender
de sentimentos se ligar am por gr ande amizade.
Trabalham no mesmo escr itór io, tem os mesmos hor ár ios de folga que usam par a
tr ocar
confidencias. Falam uma par a outr a
de seus sonhos, de suas fantasias, de seus desejos.
Nesse dia falam baixo por que há um casal em outr a
mesa. São da cidade e A. não quer
que ninguém as ouça.
A... conheceu H...de outr a cidade, que estava de passagem. Se enamoraram, se
amar am e chegar am
à vias de fato. E agor a as consequências
já acontecer am. Dur ante o café da tar de,
conta o seu dr ama par a D... O que vai fazer ?
Em uma época de pr econceitos for tes, a sua situação daqui par a
fr ente ser á
desesper ador a.
D... apenas ouve. Não pode
entender por que
nunca teve um homem que a tocasse. Não tem condições de dar qualquer
conselho que seja à amiga. E por
isso está angustiada.
Romântica e esper ançosa A... ainda esper a
que H... volte. Mas D... mais r ealista
sabe que isso não vai acontecer .
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As pessoas têm sempr e o seu jeito de ser ,
as suas per sonalidades. Algumas são
assíduas, r esponsáveis, honestas e
colocam suas obr igações em pr imeir o lugar .
São vencedor as
embor a nem sempr e sejam felizes. Mas, sempr e
são r espeitadas.
C... é uma funcionar ia gr aduada
em uma empr esa que ensaia os pr imeir os
passos na emer gente indústria de ar mamentos. Afinal, já é 1938 e a guer r a
mundial já faz as pr imeir as vitimas. C... chegou ao posto pelas suas
qualidades, mas isso é um far to
pesado nessa época.
Pr ecisa
levar dados de uma empr esa par a
outr a em outr a
cidade Recolhe os documentos, apr uma-se
e toma um tr em, sempr e temer osa
de algum ataque. Mas, não teve tempo de confer ir o que os documentos dizem. E então, apr oveita a viagem par a
confer ir
dados, planejar estr atégias de compor tamento
na r eunião que vai pr esidir .
Às vezes gostar ia de ser
menos r esponsável. Apr oveitar
a viagem par a gozar a paisagem, ou mesmo não pensar em nada. Mas não dá. Ela é desse jeito e nunca vai
mudar . Mas, se r ealiza assim. É feliz assim.
IMAGEM 4 – DESPEDIDA
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Fim de noite. Madr ugada. Ainda
um tempo de guer r a. Tudo é tr ansitór io, tudo é da hor a,
do momento.
Soldados em folga pr ocur am
desesper adamente por pr azer es imediatos. Até se vestem com civis par a se sentir em
mais “nor mais”. Pr ocur am
“mulher es da vida” ou “a mulher de sua vida”.
O nosso casal sonhava com um
casamento desde meninos quando pela pr imeir a vez se sentir am
um homem e uma mulher . Sonho de
moça, expectativa de r apaz. A guer r a os
separ ou dur ante
muito tempo. E então em um r eencontr o inesper ado
r esolver am
se amar como sempr e tinham sonhado. Felicidade tr ansitór ia,
cur tinha que continuou no balcão de
um bar onde passar am o que r estava
do tempo deles. Um fim de encontr o,
um “depois” tr iste e a esper ança de um novo encontr o.
Despedida dolor osa e amar ga.
Do lado oposto do balcão
alguém sente uma gr ande tr isteza por que
está sozinho, por que sua vida não
tem sentido e por que sua companheir a o deixou par a
ir embor a
com outr o que não tivesse que voltar á guer r a.
Indifer ente
a todos os dr amas à sua volta, o gar çom ser ve
cafés par a o casal e bebida par a o solitár io.
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Dur ante
a semana a loja esteve festiva. É pr imaver a
e há maior var iedade
de flor es. Mas, esta não é uma flor icultur a
qualquer . É a melhor , mais sor tida
e mais simpática flor icultur a da cidade.
L... e J...são um casal e cuidam
de suas flor es com todo o car inho que ter iam
dedicado a um filho se o tivessem. As flor es
são seus filhos e filhas. L...J... ficam felizes quando apar ecem na loja moças ajustando decor ação da pequena igr ejinha
do lugar par a
o casamento sonhado. Usam angélicas e lír ios.
Dobr a
a felicidade quando podem também fazer
o buquê da noiva feliz. Ger almente
de r osas br ancas.
E acompanham a nova vida do
novo casal esper ando par a depois de um ano (ou menos?) entr egar ao
feliz pai o r amalhete com que ele
vai pr esentear
a nova mamãe.
Foram os momentos felizes de
suas vidas compar tilhadas.
Não gostam muito de fazer cor oas
par a enter r os. Repr esentam tr isteza.
É sempr e um amigo que vai por que nesta cidade todos são amigos.
Hoje é domingo. As por tas da Flor icultur a estão fechadas. As flor es,
já estão mur chas por que não for am
tr atadas.
L... Deitou feliz e não acor dou. E for am
par a ela as cor oas
que J... teve que fazer .
Sozinho, sentado no degr au de sua casa de por tas
fechadas, ainda sente o cheir o dos
lír ios, dos lilases e das r osas com que cobr iu
o lugar do último descanso de L...
E, a solidão pesa. É um far do muito maior
do que ele pode aguentar. Cer tamente
não mais tr abalhar á com flor es.
Depois de colocar em or dem toda a contabilidade – o que já começou, ar r egaçando
as mangas - vai mudar de cidade, pr ocur ar outr os
ar es onde seja mais fácil viver sem a sua L.
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Pr oblemas
em um escr itór io
são atempor ais. Qualquer que seja a cidade, qualquer
que seja o tempo os pr oblemas são os
mesmos. Sempr e o “que fazer ” é mais do que o “tempo par a
fazer ”. Sobr a
ser viço que tem que ser feito depois do hor ár io do expediente.
São os afamados “ser ões” que
quase nunca são ser ões mesmo, mas
desculpas par a outr o tipo de “atividade”
F.. tem uma pequena empr esa com um escr itór io e dur ante
o per íodo de guer r a pouco
tem a fazer . Par a sobr eviver tem que ter
muita cr iatividade, usar de estr atégias
inteligentes. Foi assim que conseguiu par a
sua pequena empr esa uma encomenda já
de mater ial bélico. E tem pr azo cur to
par a entr egar . Por
isso tem ficado até mais tar de no tr abalho.
Sua ajudante N... também
fica. É uma moça bonita, atr aente e
“como a ocasião faz o ladr ão” acabam
por se desejar .
Nada de sentimento, nada de emoção. Só necessidade física que ele não satisfaz
com a mulher . Seu casamento já não
anda bom, mas por causa dos filhos e
da situação de guer r a que é anômala, continuam juntos.
E os “ser ões” se r epetem
sempr e. Às vezes por ser viço,
às vezes não.
Situação especial de um
tempo especial.
Um bar ,
um café, é sempr e um espaço
impessoal. É o oposto de uma casa onde todos convivem se conhecem e são pessoas
com inter esses comuns e compor tamentos idem.
No bar ou café estão dur ante um tempo limitado as mais var iadas pessoas, de sexos iguais ou difer entes. De idades compatíveis ou não.
Nossos per sonagens são de sexos difer entes.
A moça ocupa uma mesa
sozinha, imer sa nos seus
pensamentos. Está apr eensiva e pr eocupada
com o noivo que já par tiu par a a guer r a. Não aguenta a atmosfer a
opr essiva de sua casa onde tudo é tr isteza. O ir mão
já mor r eu
nos pr imeir os
combates e a per spectiva que tudo
aconteça de novo a deixa tensa, calada e angustiada. Não toma conhecimento do
mundo à sua volta.
O r apaz
também está sozinho e a solidão pesa. Sem suspeitar
do dr ama da moça está tentando atr air seu
olhar par a
iniciar uma conver sa e quem sabe algo mais. Como não sabe de nada, tem esper anças.
Pair a
no ar uma incer teza
de um e de outr o.
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No meio do nada, onde só o
ver de da flor esta
domina, a estrada amarela cor ta o
chão e liga a localidade A à localidade B numa extensão bastante gr ande.
Em tempos de guer r a, não
há passeios, não há viagens. Mas sempr e
há necessidade de par adas técnicas.
Testemunha de um tempo de
paz e de vida alegr e e dinâmica, as
tr ês bombas de combustível agor a par ecem
esqueletos ver melhos com cabeças br ancas aguar dando
a mor te definitiva. Pouco
combustível cir cula por elas e as tr ês
bombas só estão de pé ainda por
solidar iedade umas com as outr as. Uma só ser ia
suficiente.
Junto com elas está o guar dião desse posto avançado. Sozinho, tem necessidade
de conver sar ,
pelo menos par a ouvir a sua pr ópr ia voz. Exulta quando um velho, amassado e enfer r ujado
automóvel par a por necessidade técnica do veículo e do condutor . Se for
um casal até ofer ece pouso par a ter
companhia.
Com esse pensamento se alegr a quando vê no hor izonte
algo móvel de quatr o r odas se apr oximando.
Mas, é um veículo militar que vem
confiscar o combustível.
Nada mais há a esper ar . Entr a no escr itór io, abr e
a gaveta e com o também velho r evolver põe fim à sua angustia.
Como encontrei muitas outras
imagens significativas, que expressam solidão, complementei o trabalho com elas
Comentários
Abraço fraterno!!!
Nora Pires