LITERATURA E ARTE

Continua valendo a identificação deste meu Blog: “uma colcha de retalhos”. Escrevo de tudo. Depende do que me vem à cabeça. E desta vez encontrei uma folha com uma poesia, que me levou a um poeta, que me levou a um quadro, que me levou a um pintor que desconhecia. 

A poesia é MARABÁ, o poeta Gonçalves Dias, o quadro é de MARABÁ, idealizado por um pintor, Rodolfo Amoedo, a quem fui “apresentada” nas pesquisas.

E o texto foi LITERATURA E ARTE uma aulinha de cultura.
Marabá - Gonçalves Dias
Eu vivo sozinha; ninguém me procura! 
Acaso feitura 
Não sou de Tupá? 
Se algum dentre os homens de mim não se esconde, 
— Tu és, me responde, 
— Tu és Marabá! 

— Meus olhos são garços, são cor das safiras, 
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar; 
— Imitam as nuvens de um céu anilado, 
— As cores imitam das vagas do mar! 

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos: 
"Teus olhos são garços, 
Responde anojado; "mas és Marabá: 
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, 
"Uns olhos fulgentes, 
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!" 

— É alvo meu rosto da alvura dos lírios, 
— Da cor das areias batidas do mar; 
— As aves mais brancas, as conchas mais puras 
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. 

Se ainda me escuta meus agros delírios: 
"És alva de lírios", 
Sorrindo responde; "mas és Marabá: 
"Quero antes um rosto de jambo corado, 
"Um rosto crestado 
"Do sol do deserto, não flor de cajá." 

— Meu colo de leve se encurva engraçado, 

— Como hástea pendente do cáctus em flor; 
— Mimosa, indolente, resvalo no prado, 
— Como um soluçado suspiro de amor! — 

"Eu amo a estatura flexível, ligeira, 
"Qual duma palmeira, 
Então me responde; "tu és Marabá: 
"Quero antes o colo da ema orgulhosa, 
"Que pisa vaidosa, 
"Que as flóreas campinas governa, onde está." 

— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor; 
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram, 
— De os ver tão formosos como um beija-flor! 

Mas eles respondem: "Teus longos cabelos, 
"São loiros, são belos, 
"Mas são anelados; tu és Marabá: 
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos, 
"Cabelos compridos, 
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá." 

E as doces palavras que eu tinha cá dentro 
A quem nas direi? 
O ramo d'acácia na fronte de um homem 
Jamais cingirei: 

Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá: 
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha, 
Que sou Marabá! 



A palavra Arazoia significa Indumentária de penas, com que as mulheres indígenas do Brasil cobriam as partes pudendas.

Gonçalves Dias  - Antônio Gonçalves Dias (Caxias, 1823 -1864 )foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro.  Faleceu em naufrágio, no Maixio dos Atins, MA, em 3 de novembro de 1864. Um grande expoente do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como "indianismo", é famoso por ter escrito o poema "Canção do Exílio" ..ainda em Coimbra onde fazia o curso de Direito. . É o patrono da cadeira n. 15, por escolha do fundador Olavo Bilac.

Canção do Exilio - 1847

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em  cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 


   
Rodolfo Amoedo (Salvador, 11 de dezembro de 1857 — Rio de Janeiro, 31 de maio de 1941) foi um pintor, desenhista, professor e decorador brasileiro. Era professor na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e foi considerado um ótimo conhecedor das técnicas artísticas

Por conta de um prêmio estudou na Europa, na École des Beaux-Arts de Paris.

Durante o tempo em que ficou no pensionato, começou a se envolver e a se descobrir também como um amante das obras de caráter indianista, consideradas as melhores de sua carreira. Entre elas, podemos citar o “Marabá” (1882), uma obra que representa o realismo e a sensualidade. Considerada uma renovação final da temática indianista do pintor. Mas não foi uma tela que foi aclamada de imediato pelos críticos da época, justamente por ter uma base de concepção moderna para o período histórico

Tinha uma personalidade forte, a ponto de se envolver em diversas brigas. Visto por muitos críticos como um dos pintores que inovou o conceito do que era pintura durante o fim do Brasil Imperial, foi denominado com o atualizador das obras acadêmicas do final do século XIX e começo do século XX Ao morrer, suas pinturas foram doadas para o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro.

                                            MARABÁ  - Rodolfo Amoedo

MARABÁ é uma das principais obras do pintor brasileiro Rodolfo Amoedo. Trata-se de uma pintura feita em óleo sobre tela e possui 151,5 cm de altura por 200,5 cm de largura. Junto à obra O Último Tamoio, ela está entre as produções mais importantes do pintor

 Foi em Paris, no ano de 1882, que o Rodolfo Amoedo produziu Marabá. A grande inspiração para ele teria sido o poema homônimo de Gonçalves Dias, publicado no ano de 1851 na obra Últimos Cantos, que conta a história de uma mestiça triste e sozinha que não encontrou seu lugar no mundo e que é rejeitada pelos índios da tribo por se assemelhar mais ao homem branco do que aos povos nativos.
Atualmente a pintura se encontra no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e é considerada uma obra que valoriza a história, os personagens e motivos nacionais, embora continue tendo ligações com valores tradicionais da arte ocidental. 

Comentários

Célia disse…
Excelente momento de rico aprendizado, Neuza! Um post cultural que sempre nos proporciona aprimoramento, Obrigada!
Abraço.
Boa noite Célia
Te agradeço pela sua aatenção continua em relação ao meu Blog. Precisamos nos comunicar mais porque depois de tanto tempo não te conheço bem.

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