DIÁRIO DO MEU ISOLAMENTO - PARTE 2


De  repente me dei conta que postei o meu DIÁRIO DE ISOLAMENTO no dia 14 de abril quanto estava no meu 33º dia de isolamento. Hoje, 02 de junho, estou no meu 81ºdia de isolamento. Certamente 48 dias fazem diferença. Vamos ver o que mudou.

Algumas rotinas continuam “quase” as mesmas.  Levanto sempre 6h. Isso não muda. É meu relógio biológico. Quando sentada na beira da cama, 30 segundos para ajustar a circulação antes da posição vertical. Procedimentos fisiológicos e higiênicos.  No celular que está ao meu alcance, digo Bom dia para meu filho -código para informar que sobrevivi à noite. .  Faço a mesma coisa  pelo interfone para dizer  ao porteiro que “ainda estou viva”

Café com jornal. Só leio mesmo o que me interessa mais. Editoriais, alguns articulistas mais meus conhecidos e paro mais no Caderno 2 (agora com outro nome). Tiro a página de Esporte porque não entendo e não gosto. Deixo para os porteiros. É praxe. E nessas alturas o café com leite já esfriou.

Se é dia de higienizar pisos e moveis já começo cedo., enquanto estou descansada porque vassoura e rodo com pano molhado em desinfetante é um trabalho físico pesado. Tenho que dividir a casa inteira em 3 partes, uma para cada dia.  E faço isso agora só uma vez por semana.  Louça que sempre tem (a pia é um lugar de germinação de objetos. Brotam como capim).

Cuido da roupa: máquina lava, eu estendo, depois recolho, dobro separo e guardo.  Nessas alturas já são 9 horas.

Computador. Reservo as próximas duas horas para atividade que eu chamo de “sociais”. Leio os e-mails recebidos, respondo sempre, separo algumas imagens engraçadinhas e criativas. São sempre muitos no WhatsApp, mas outras via e-mail. E aproveito para algumas pesquisas que estão viajando na cabeça no final do sono.

 Posso continuar nessas atividades sociais até o almoço ou, a cada três dias vou para a função cozinheira para inventar comidas, ou transformar a mesma em outras. Ex. um feijãozinho gostoso e bem temperado pode servir para almoço por dois dias e no seguinte já fica transformado em uma gostosa sopa de feijão. O sopão fica mais gostoso com macarrãozinho ou com um ovo dentro. Um molho de macarrão que sobrou se transforma em o que minha mãe chamava de “ovo no purgatório” quando vc abre e cozinha um  ovo dentro.....

Se é na quarta feira dia em que eu tinha meus Encontro de Resgate de Memória na  USP, agora  é on  line. As 10:00h eu e Telma (minha assistente)  cada uma em sua casa comandamos  um grupo de 9  ou 10 pessoas pela plataforma Zoom ou Google Meet; Nesta ultima quarta, 27 de maio  o encontro foi um sucesso  com um tema muito delicado VIDA AFETIVA (namoro(s), noivado(s) e casamentos(s). Fomos até 12:30.  Prova que sempre há outros caminhos a serem seguidos.

Nos outros dias da semana as rotinas continuam e não importa se for sábado ou domingo porque os dias são sempre iguais em espaço de vivência.

 Período da tarde sempre guardo para estudos e atividades profissionais. Tenho sempre que preparar o material para o Encontro da semana seguinte, passar para o grupo via e-mail com as devidas instruções especificas para cada Tema.  O próximo tema, já em junho, será A FAMILIA QUE CONSTITUI (cônjuges, filhos e netos). Trabalhos paralelos que aparecem ou eu invento. Atualmente estou focada no tema AMIZADE e acabo por reescrever minha própria história através dos muitos amigos de épocas diferentes. Nem imaginava que tinha tantos. Mas, já é junho e eu não consegui acabar o  texto completo.

Começo da noite aproveito para meus seriados preferidos, ou programas de arte no canal 648 da TV Films & Arts. Tomo um lanche (nunca janto) e sempre tenho o que fazer até a hora de ir dormir, geralmente às 22h quando digo de novo BOA NOITE para meu filho, prova que sobrevivi a mais um dia.

Falo pouco no decorrer do dia. No Whats não gosto de falar, escrevo. Com minha vizinha de frente só fico pouco, de longe e  também porque ela fuma muito e  a fumaça  me incomoda.  Com Paula, vizinha de baixo falo mais porque é ela que faz as compras de supermercado que preciso e aproveitamos para uma conversinha. As duas com máscara, distantes o necessário e eu agora sempre com uma touca cirúrgica porque fiquei sabendo que os cabelos podem ser campo de pouso do coronavirus, eles (os cabelos) estão perto da boca e do nariz e  passamos a mão por eles inúmeras vezes. Por via das dúvidas..... E porque é quentinho.

Pelo menos uma vez por semana pelo Google Meet converso com meu filho Flavio e a mulher dele Eliana.  Assuntos familiares em dia e falamos de tudo o que estudamos. E estudamos muito nos intervalos das rotinas.

Mas, nesses 48 dias outras coisas acontecem e comigo em contraponto daqueles primeiros  33 dias em que o foco foram  os meus 90 anos, desta fez foi algo desagradável. Durante um mês amarguei uma situação de stress (administrada pelas muitas atividades) porque:

 Em 30 de abril recebi uma cobrança judicial por dívidas condominiais que eu não sabia quais eram e nem tinha ideias. Durante todos esses dias (até hoje quando a novela ainda não terminou) foi um trocar de mensagens   para que eu tivesse que provar que tudo o que me estava sendo cobrado tinha sido totalmente pago já em 2016 de onde datavam as cobranças. Como sou organizada tive que baixar todas as pastas, separar as que eram de 2016 e que eram do condomínio e encontrar recibos. E digitalizar para mandar para o escritório de advocacia que estava no caso, representando a administradora. Quando por acaso faltava um recibo me reportava ao banco pedia um extrato do período, imprimia, digitalizava e mandava.  Valeu a minha organização e minha boa saúde física e mental para enfrentar tudo isso. Ainda estou no aguardo das finalizações.

Mas, por mais que eu me controle, minha estrutura emocional foi sendo minada e eu perdi a concentração: não consigo terminar meu texto sobre AMIZADE – AMIGOS, não consigo ler, escrever meus textos pessoais e nem um Beethoven me acalma. e as conversas por carta, mesmo virtuais com Mirian e Arthur também estão em recesso.

 E um sentimento foi se formando e me machuca - HUMILHAÇÃO e DESRESPEITO com uma idosa de 90 anos acusada de caloteira e má pagadora.  São danos morais irreparáveis. 

Possivelmente em uma terceira parte do meu DIÁRIO DO ISOLAMENTO    como será o fim da novela será contado.

Não bastava tudo isso e ainda perdi um amigo de longa data, uma amizade que não dependia das vezes que nos encontrávamos, mas que sempre tínhamos algo a dizer. Foi para outros mundos Gilberto Dimenstein. Ele me deixou um texto que encontrei no fundo do meu BAÚ DA MEMÓRIA escrito por ele em 2002, quando  a nossa amizade aconteceu e floresceu.

Não vou inserir o texto. Ele está no meu facebook

sobrevivi. Continuo fisicamente bem, emocionalmente nem tanto, mas vamos em frente com a Pandemia e as “Maluquices do Imperador”

Até a próxima.

 

 

 

 


Comentários

Unknown disse…
Minha querida! sempre bom ler seu diário! saudades Fica bem! daqui a poucoa gente se encontra! beijos - Ana Lucia
EDNA PAVONI disse…
Olá Neuza! Como vai?
Somos colegas no curso do MAM, na aula do Felipe Martinez.
Li seu diário de "bordo" da quarentena. Também estou no "distanciamento físico" como disse um professor que conheço! Estamos longe fisicamente mas bem conectados. Gostaria muito de saber se posso e como participar do "resgate de memória"! Tenho 70 anos acabei de completar e com um apetite imenso por aprender e me relacionar com pessoas sensíveis e inteligentes.
Grande abraço
Edna Pavoni
livia mund disse…
Sempre aprendo lendo seu diário, Neuza. Suas dicas valem ouro, e as palavras que escolhe para descrevê-las são elegantes e verdadeiras. Sua divisão de tarefas diárias, semanais, são um guia para mim. Beijos querida.

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