CARTA AO MAESTRO JAMIL MALUF
Minha memória fotográfica me
leva a um tempo distante, a um espaço que me parece uma igreja pelos bancos e
alguém falando às pessoas sobre a importância do que estava acontecendo. Pedia-se
a colaboração para uma Orquestra que estava sendo lançada. Eu e Ayrton escrevemos em um papelucho nossos
nomes, nossos contatos e o deixamos lá.
Perdeu-se no tempo o papelucho porque nunca tivemos retorno.
O tempo passou, a vida
continuou, as famílias cresceram, tomaram a maior parte do nosso tempo, mas nós
mantivemos em algum cantinho da memória essa “fotografia”. “Foto” diluída no
tempo, esmaecida e teria se apagado se não fosse o contínuo alimentar com a música
da orquestra lançada, a Orquestra Experimental de Repertório.
Maestro - acompanhei o
embranquecer dos seus cabelos juntamente com o embranquecer dos meus, este mais
rápido porque sou muito mais velha. Poucos contatos pessoais gratificantes
quando o encontrei no saguão do teatro antes de uma apresentação e pude trocar algumas
palavras. E, faz pouco, junto com uma amiga
comum, Alcione. Alimentaram a minha alma.
Segui sempre que pude a orquestra
e o maestro. Admirei sempre e continuo admirando a filosofia pouco comum de ligar
o popular e o erudito quando grupos elitizantes fazem força para separar as
duas vertentes. Sempre vence o mais abrangente e um teatro totalmente lotado é
a prova material disso.
Quando se envelhece ou nos
tornamos rabugentos ou excessivamente sensíveis, até piegas. Felizmente estou
no segundo caso. E hoje (ontem) minha sensibilidade devia estar no pique mais
alto porque senti o programa até visceralmente. Faltou-me o ar. Perguntada, não tive palavras. Preferi dar um
tempo de assimilação que chega de madrugada e me empurra para escrever.
Um programa que começou e
terminou sabiamente com Casablanca, foi continuando com o violino do Claudio Micheletti
visivelmente emocionado e em sete momentos que dificilmente pode-se dizer qual
o melhor, foi elevando a plateia a um patamar alto de participação, culminando
com aplausos continuados e sinceros. Fechamento especial para um fim de tarde de um
domingo gélido.
Eu te saúdo maestro Jamil Maluf.
Nossa contemporaneidade me trás orgulho.
Comentários