ARTE EQUATORIANA – SOBRE OSWALDO GUAYASAMÍN
Foi
através de Cremilda Medina que tomei contato com Oswaldo Guayasamin artista equatoriano de muitas obras. Confesso a
minha ignorância. Nunca tinha ouvido falar nele. Mas, me interessei e sobre ele
vou compor um texto com informações de Cremilda que o conheceu pessoalmente e
tem dados para falar sobre ele, e com informações colhida em pesquisas comuns
de Internet. Uma mistura das duas fontes certamente me levará a conhecer melhor
o Equador e esse artista equatoriano.
Na minha
frente, no meu escritório, tenho um mapa da América Latina que me dá uma
overdose de conhecimentos visuais do Brasil e de nossos vizinhos. Nunca me dei
conta da situação geográfica do Equador, e de seu pequeno tamanho. O país não
faz divisa com o Brasil, mas merece que se conheça um pouco mais sobre ele
também em termos de atividades culturais como conheço um pouco mais da Colômbia
e Peru, não só pelo tamanho relativo, sua vizinhança com o Brasil, mas por suas
expressões culturais como Fernando Botero e Garcia Marques, colombianos e
Vargas Llosa, peruano.
Conhecendo um pouco do Equador em um pequeno apanhado
EQUADOR é uma república democrática representativa localizada
na América do Sul limitada a norte pela Colômbia, a leste e sul pelo Peru e a oeste pelo Oceano Pacífico. É um dos dois países da região que não tem fronteiras
comuns com o Brasil, além do Chile. Além do território continental, o Equador possui também
as ilhas Galápagos, a cerca de 1000 km do território continental, sendo o
país mais próximo daquelas ilhas. Seu território de 256 370 km² é cortado
ao meio pela imaginária Linha do Equador.
A principal língua falada no país
é o espanhol (94% da população). Entre os idiomas oficiais
em comunidades nativas está o quíchua, A sua capital é a cidade de Quito, que foi
declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1970, por ter o centro histórico mais bem preservado e menos alterado da América Latina. A maior cidade equatoriana, no
entanto, é Guayaquil.
O centro histórico de Cuenca, a terceira
maior cidade do país, foi
declarado Patrimônio Mundial em 1999, como um exemplo notável de uma cidade
planejada, de estilo espanhol colonial, no interior da América.
O país é o lar de uma grande
variedade de espécies endêmicas, muitos
delas nas Ilhas Galápagos. Esta diversidade de espécies
faz do Equador um dos dezessete países megadiversos do mundo, sendo
considerado o país de maior biodiversidade do mundo por unidade de área
Em 1531, com a Guerra Civil Inca, os espanhóis desembarcaram no Equador, então parte do
Império inca, governado pelo Imperador Atahualpa que “temia os homens vestidos com roupas dos pés
a cabeça, com longas barbas e cavalos (um animal que os incas não conheciam)”. Na
cidade, Pizzaro montou uma armadilha para os incas que terminou com e a captura
do imperador inca e
domínio espanhol.
Nas primeiras décadas de dominação espanhola a população indígena foi dizimada pelo
contágio de doenças às quais os nativos não eram imunes, tempo em que os
nativos também foram forçados ao trabalho pelos proprietários de terras. A cidade de Quito foi um distrito administrativo da monarquia
espanhola,
A luta pela independência do
Equador foi parte de um movimento em toda a América Hispânica liderada por crioulos. O ressentimento com os privilégios dos chamados
peninsulares (nascidos na Espanha) em relação aos crioulos foi o combustível da
revolução contra o domínio colonial
Depois da Segunda Guerra Mundial, a recuperação do mercado agrícola e o crescimento
da indústria da banana ajudaram a restabelecer a prosperidade e paz política do
Equador. Depois do regime militar que
se instalou no país, o Equador voltou a democracia em 1979, mas passou por
vários governos militares.
Em 2003, o Coronel aposentado Lucio Gutiérrez, membro de uma das juntas
militares que governou o pais, assumiu a presidência do Equador, mas deixou o
poder em 2005 diante da falta de apoio das Forças Armadas e no meio de fortes
protestos, o que conduziu a que seu vice-presidente, Alfredo Palacio, assumisse a presidência.
Nas eleições seguintes, Rafael Correa foi eleito e assumiu o cargo em 15 de janeiro
de 2007, sendo o atual presidente do país. Em 28 de setembro de 2008 foi
adotada uma nova Constituição.
E aí chegamos a Owaldo Guayasamin um representante da
arte equatoriana no século XX.
Cremilda Medina conheceu
Oswaldo Guayasamín em 1972 e ela escreve;
(...) Ninguém passa incólume ao descobrir esse pintor no Brasil,
quase desconhecido dos públicos do século XXI. Nem mesmo aqueles que estudam
criticamente ou praticam as artes plásticas eximem-se de um contato afeto à
carga emotiva dessa força da terra chamada Oswaldo
Guayasamin, que tive o privilégio de conhecer em Quito, em 1972.
(...) Inconformada com a
ausência de sua obra no Brasil, onde museus e galerias não o expunham, voltei a Quito em 1977 e aí, como
depoimento do pintor ,publiquei no jornal O Estado de São Paulo um texto sobre
ele. Na minha ingenuidade, pensava que
essa publicação provocaria um rápido aceno para que uma instituição de arte o
trouxesse ao Brasil. Não aconteceu. Trinta e um
anos depois, em abril de 2008 O Memorial da América Latina mostra a obra
desse artista equatoriano.”
Quem foi Oswaldo Guayasamin?
De pesquisa em pesquisa
fico sabendo que:
Oswaldo Guayasamín nasceu em Quito em 6 de julho de 1919,
de pai índio e mãe mestiça. Seu pai trabalhava como carpinteiro e mais tarde
como taxista e caminhoneiro. A família vivia na miséria. Oswaldo foi o primeiro
de dez filhos. Morreu em 10 de março de
1999.
Sempre irreverente, Guayasamin,
cujo nome quéchua significa “Ave branca voando” contrariando o pai índio que o
castigava para que não pintassem - algo
que ele sempre fez desde cedo - se
dedicava a pintar o sofrimento dos povos.
Diz Guayasimin: Mi pintura es de dos mundos. De piel para
adentro es un grito contra el racismo y la pobreza; de piel para fuera es la
síntesis del tiempo que me ha tocado vivir.
Em agosto de 1932
começou no Equador, “a guerra dos quatro dias.”
Guayasamin era então um adolescente quando presenciou esses
acontecimentos. Nessa guerra morre em uma manifestação seu melhor amigo. Preocupado
com os problemas humanos, a violência, a pobreza e a injustiça, Guayasamin pinta
o que viu em 1932, em seu quadro “Los niños muiertos”, simbolizando com eles
todos os inocentes que morreram inutilmente.
Los Niños Muertos
Em
suas obras sempre retrata temas sociais, refletem a dor e a miséria que há na
maior parte da humanidade e denuncia a violência contra o ser humano, as
guerras civis, os genocídios, os campos de concentração, as ditaduras, as
torturas, a fome, a desigualdade, a não tolerância. Suas obras representam a luta, a esperança e
a reivindicação dos mais humildes, vitimas de humilhação e abuso por parte dos
organismos do poder. Ele foi um
expoente da luta contra o colonialismo.
Etapas de sua obra pictórica:
A terceira grande série é conhecida como La Edad de La Ternura, e uma série Madres
- que ele dedica à sua mãe e às mães de todo o mundo e em cujos quadros podemos
ver cores mais vivas que refletem o amor e a ternura entre mães e filhos, e a
inocência das crianças.
La Edad de la ternura
Madre
Fidel Castro
Mercedes Sosa
Juscelino Kubitschek
Agora um recorte do texto que Cremilda Medina
escreveu em 1977 para O Estado de São Paulo, tentando sensibilizar alguma
instituição de arte para trazer as obras de Guayasamin para São Paulo.
(...) Para conhecer Guayasamin,
basta captar a emoção dos olhos úmidos, um discurso verbal tenso e seu
repertório de histórias que se remetem sempre às dores desta vida.
(...) Terminou há pouco, obra importante – Os Mutilados - seis quadros móveis
podem compor “n” combinações em um conjunto que chega ás dimensões de um
mural. Este trabalho custou-lhe três
décadas de estudos, de liberação da imagem vivida intensamente. Estava ele num
campo de futebol na Espanha em 1947 quando se deparou com um espetáculo
insólito: Franco reservara um lugar de destaque no campo pra que, em todos os
jogos, ali se acomodassem gratuitamente os mutilados da Guerra Civil. O jovem índio, nascido na marginalidade, muito
consciente, portanto, da condição humana e, além de tudo, artista sensível,
engoliu em seco essas imagens de um exibicionismo que ultrapassa qualquer
limite. Foi tão difícil a assimilação do
que via, quanto criar os quadros que resultaram dessa vivência. Em seus arquivos
há milhares e milhares de desenhos, tentativas que só o satisfizeram na versão
que terminou em 1977.
Os Mutilados
(...) Quando se pergunta a Guayasamin das origens do profeta da “Idade
da Ira”, ele logo lembra uma infância dramática: num quarto mínimo dormiam dez
crianças das quase ele era o mais velho, e os pais. Outro lado que não esquece: “usei sapatos
pela primeira vez aos 7 anos.” (...) costuma explicar pela natureza tremenda e
insólita do ambiente geográfico a fatal adesão dos equatorianos às artes
plásticas. A serra, os nevados, o verde, o casario espalhado nas faldas da
montanha, os contrastes históricos - a Quito de 500 anos e a quito
americanizada – a cor dos ponchos, o frio e o sol equatorial, tudo altera a
química da sensibilidade artística. E Guayasamin
definiu muito cedo, contra todas as limitações sociais, que sua vida seria a
pintura.
(...) em sua história de vida fico sabendo
que já em 1929 (com apenas 10 anos) começou a viver de sua arte: pinta então
para os turistas a dois sucres o quadro.
(...) Na Escola de Belas Artes de Quito, Guayasamin se disciplinou com a seriedade
nos estudos levada ás últimas consequências. Ao terminar a escola em 1940, a primeira
responsabilidade familiar: o casamento. Mas, continua a viver da pintura.
(...) Explicando
como é possível que esse índio de... se tenha tornado um milionário?
Guayasamin
é
realista: saiu da miséria, organizou-se para viver da Arte e diz que não tem
culpa de a sociedade de consumo estabelecer regras do mercado artístico. Além disso, na colmeia que é sua casa – os filhos
dos três casamentos, mais os filhos da última esposa, uma francesa muito
eficiente na administração de bens – a azáfama é constante. Guayasamin, muito tranquilo, a posição de chefe do clã
assegurada e o tempo livre para criar, diz que os Ateliês Guayasamin S.A. são
“coisas da família”e que ele não se mete.
(...) Quito, ponto de encontro, linha de muitos
cruzamentos importantes – da diplomacia à espionagem, da política à economia – oferece certas oportunidades de
trânsito. E Nelson Rockefeller passando por lá, comprou quadros de Guayasamin e o convidou a uma visita a
Nova York. Lá tomou contato com obras de El Greco, Cézanne e a desilusão com
Gauguin. Passa pelo México e entra em
contato com Orosco.
Nota de pesquisa: José Clemente Orozco 1883 - 1949) foi um dos maiores
pintores mexicanos e um dos protagonistas do muralismo
Mexicano, juntamente com Rivera. A temática central da sua obra é a revolução,
a luta do povo para atingir os seus ideais e uma nova sociedade. A
representação formal na sua obra reflete uma mistura de influências estéticas
que vão do realismo ao expressionismo e passam pela arte renascentista italiana dos séculos XV e XVI.
(...) A opção pelo humanismo do século XX foi
consciente e Guayasamin se lançou
numa pesquisa sistemática por intermédio de suas viagens. No Peru e na Bolívia
“o terrível espetáculo das populações indígenas.” No Chile e na Argentina,
outra América... Dessas experiências saem 100 quadros em três ciclos:
“Mestiços” – “Índios” e “Negros”.
Diz Cremilda:
(... Em tempos que não o acompanhei
diretamente, já na fase final de sua vida – ele morreu em 10 de março de 1999-
iniciou a criação de outro espaço a Capilla
Del Hombre., onde iria concentrar a homenagem superlativa ao povo
latino-americano, ao sofrimento e às conquistas do mundo pré-colombiano à colonização e á mestiçagem. A
transcendência mestiça da cultura latino-americana aí foi reconhecida por todos
os que contribuíram para que a utopia da arte se concretizasse.
(...) Pablo Neruda já o definiu de forma majestosa:
“ Guayasamin realizou em sua obra, o
Juízo Final que exigíamos aos solitários do renascimento. Poucos pintores da nossa América são tão
poderosos como esse equatoriano intransferível: tem o toque da força; é o
anfitrião de raízes, cotidiano á tempestade, á violência, á inexatidão. E com tudo isso a visão e paciência de nossos
olhos são inundados de luz.”
Uma frase que atribuída a Guayasimin o caracteriza.
Yo llore porque no tenia zapatos,hasta que vi aun niño que no tenia pies.
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