02 DE MARÇO 2020 - 20 ANOS SEM AYRTON
Hoje a postagem marca um dia especial - os 20 anos do termino do ciclo de vida de Ayrton de Carvalho, meu companheiro e amor de 46 anos. É um dia para resgatar todas as memórias de nosso tempo do conhecimento necessário até o NÓS quando nos tornamos um ser único pelo amor, pela vivencia e pelo compartilhar sempre.
Quando me senti sozinha tive necessidade de escrever como eu via Ayrton e me dou o direito de copiar o que escrevi então e compartilhar com todos a importancia desse resgate que continua expressando o que ainda penso e sinto.
Quando me senti sozinha tive necessidade de escrever como eu via Ayrton e me dou o direito de copiar o que escrevi então e compartilhar com todos a importancia desse resgate que continua expressando o que ainda penso e sinto.
AYRTON... VISTO POR NEUZA
É um r etr ato de vida.
Escr ito
por mim, Neuza, sua companheir a de 46 anos, pode soar
piegas, mas é a visão de quem só o enxer gou
com os olhos do amor , de um gr ande e pr ofundo
amor . Sou suspeita em minhas consider ações, par cial
com cer teza, mas é um dir eito que tenho de escr ever o que sinto e penso sobr e
ele.
Nossa vida foi simples, comum, mas r ica em sentimentos e plena de r ealização emocional. Não tenho dúvidas que o mér ito coube todo ao Ayr ton.
O que hoje eu tenho de bom, me foi passado por
ele, que com sua paciência e toler ância
me foi mostr ando o jeito cer to de viver .Suas qualidades for am
tantas, que não consigo acabar de
listá-las. Foi antes de tudo uma pessoa
sempr e igual, sempr e coer ente
em suas atitudes, sem picos de depr essão
ou eufor ia, e por isso foi muito fácil conviver
com ele.
Par a
r etr atá-lo,
tenho que falar sobr e sua maneir a
de ser , suas qualidades. Não me lembr o de defeitos, e se existir am
for am completamente ofuscados. Deve
ter tido seus pequenos defeitos, er a humano, mas eu não os via.
Desde sempr e
Ayr ton foi uma pessoa que sempr e pensou mais nos outr os
do que em si
mesmo. Er a
o oposto do ser egoísta. Sempr e seu pr óximo
er a o impor tante.
Ele vinha depois.
Aceitava as pessoas como elas er am, desculpava os defeitos e exaltava as
qualidades.
Teve sempr e
um gênio especial, calmo, paciente, tr anqüilo.
Tr ansmitia paz aos que lhe er am pr óximos.
Sabia ouvir
como ninguém. Ouvia muito mais do que falava e por
isso foi o amigo ideal. Assimilava o que ouvia e quando dava suas opiniões elas
er am clar as,
concisas e objetivas.
Pr estativo,
par ticipante e sempr e pr esente
em qualquer situação, não poupava a
si pr ópr io
em benefício dos que lhe er am car os.
Sempr e
atento às qualidades das pessoas, encobr indo
e desculpando deslizes.
Sua toler ância
com tudo e todos er a fr uto de sua inteligência pr ivilegiada,
r acional, sabendo contor nar
situações. Nunca julgava as pessoas.
Sempr e pr ocur ava explicações par a
as atitudes.
Como pr ofissional
foi cor r eto,
ético, competente, r esponsável . Com
gar r a
fez sua vida familiar e por seus pr ópr ios mér itos
conseguiu seu status. Capr ichoso,
com gr ande habilidade manual e
sensibilidade ar tística, deixou sua
mar ca entr e
os clientes. Na vida familiar ,
também, o que fez sempr e foi bem
feito.
Íntegr o
nas suas ações e coer ente com sua
filosofia de vida, e em suas cr enças
( ou ausência delas), nunca teve dúvidas ou angústias sobr e
aquilo que pensava. Tentou até r acionalizar seu ateísmo convicto, pr ocur ando explicações fisiológicas par a isso. Documentou isso.
Não tinha nenhum tipo de pr econceito, tr atando
da mesma maneir a o br anco, o pr eto,
o pobr e o r ico,
auxiliar es, empr egadas, colegas.
Aceitava e compr eendia
a ignor ância inevitável dos ser es mais simples, mas a bur r ice r ealmente
o ir r itava.
Por
sua pr ópr ia
pr ofissão er a
or deir o
e me ensinou a também ser . Sua veia
gozador a, e de cer ta maneir a
ir ônica, her dada
do pai, apar ecia quando quer ia me atazanar :
dizia que as coisas tinham que ser
feitas uma por vez par a ser em
bem feitas e não como eu as fazia, atr opelando
tudo, fazendo tudo junto e sempr e
mais ou menos. Dizia isso sempr e com
humor , nunca com agr essividade.
Conseguiu me levar a um meio
ter mo e assim nos equilibr amos.
Defendia suas ideias com ar gumentos sólidos, clar os,
dos quais dificilmente abr ia mão.
Par a
os amigos sempr e dedicou amizades
desinter essadas, por que sincer idade
er a uma de suas nor mas de conduta.
Sempr e
foi discr eto, silencioso, mas
atuante em qualquer campo.
Seu r espeito
às pessoas, sempr e se fez sentir e por isso
foi também r espeitado.
Por
tudo isso foi sempre admirado e
querido por todos os que o conhecer am.
Mas foi, sobr etudo
um ser emocional, e sua afetividade
é que o car acter izava em família.
Seu gosto ar tístico
her dado do pai e sempr e se manifestou no apr eço
à beleza de um pôr do sol, de uma linda paisagem, uma bela música. Identificava-se musicalmente com Tchaikovsky
que sempr e ouviu muito. Seu ouvido
sensível apr eciava cada nota da boa
música. A pouca visão já o estava pr ivando
desses pr azer es
estéticos, só lhe r estando ouvir . Até nisso foi sensato: escolheu o momento cer to par a
ir , enquanto ainda vislumbr ava algo em seu entor no.
Foi amor oso
o quando se pode ser . Espalhou seu
amor por
todos e por tudo e viveu r odeado de amor .
Não um amor piegas, pegajoso,
cansativo, mas um amor consciente,
sentido e per cebido nos menor es gestos.
Como mar ido,
foi o companheir o per feito, aceitando, toler ando
meus defeitos e sempr e me
incentivando em minhas ações, confiando sempr e
em meu bom senso. Foi o r esponsável
dir eto pelo meu equilíbr io emocional e a ser enidade
com que cheguei aos meus 70 anos. Foi um amante ar dente,
delicado e sensível e vivemos plenamente a
nossa sexualidade sadia. Realizou meu sonho de moça, que, como escr evi há 48 anos er a
sempr e estar
com ele, cuidando dele e lhe dedicando cada minuto de minha vida, dir eta ou indir etamente.
Como pai esteve sempr e
pr esente e atuante na for mação dos filhos legando-lhes seus conceitos
éticos, sua r etidão de car áter ,
sua postur a r acional,
sua r esponsabilidade e honestidade,
seus códigos mor ais. Sempr e acompanhou as mudanças sociais com ser enidade nunca cr iando,
ou pelo menos minimizando os inevitáveis conflitos de ger ações. Aceitou convictamente o compor tamento as vezes avançado dos filhos.
Como avô também foi especial. Sempr e ao lado dos netos, entendia como ninguém o compor tamento de cada um, e r espeitava
as difer enças, tr atando-os sempr e
de acor do com suas per sonalidades. Deixou aos netos car acter ísticas
difer entes, mas um pouquinho de si em cada um. Ao Andr é deixou sua calma, sua bondade,
seu jeito car inhoso. Ao Br uno seu jeito mais calado, obser vador ,
conciso até em suas demonstr ações de
car inho. Ao Tiago seu senso de humor , seu lado mais jocoso. Ao Victor sua esper teza,
inteligência imediata, a ir onia e o
sar casmo dos Car valho, temper ado
com a agilidade de pensamento.
Como amigo, sempr e
dedicou sentimentos incondicionais de compr eensão
e solidar iedade.
Gr ande
companheir o, Pai super lativo, Avô como poucos, Amigo quer ido.
Viveu dignamente e se foi da mesma maneir a, poupando-nos até de seus sofr imentos finais. Foi tão tranquila e ser enamente como sempr e
viveu.
Sigo par a
fr ente, na continuidade de nossa
vida, honr ando tudo que ficou dele,
pr ocur ando
ser a depositár ia
e tr ansmissor a
de seus ideais de vida.
Adeus, meu gr ande
e quer ido amor .
Um adeus mater ial, por que tudo estar á
sempr e dentr o
de mim.
10
de mar ço de 2000
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