NOSSA VIDA COM CACHORROS - 3 -PALOMA

Lembro-me bem quando Paloma chegou. Era mês de novembro de 1981. Eu e Ayrton estávamos em Extrema, no nosso sítio, carregando telhas e tijolos para a construção de uma casinha. Depois do almoço, voltamos para S. Paulo, pois à noite íamos à ópera. Até era engraçado o contraste de nossas atividades.

Quando chegamos, Flavio e Jurema estavam com uma surpresa: uma cachorrinha que o Flavio tinha comprado na feira de animais da rua da Consolação (pensou que fosse macho). Nós não queríamos mais cachorro de jeito nenhum. Ayrton nunca gostou muito deles, e se os tivemos foi para satisfazer as crianças. Mas, a cachorrinha nova foi simpática à primeira vista, e começou logo a fazer parte da família, estando sempre junto, e sendo companheira durante 15 anos.

Desde cedo nos cativou Muitas fotos mostram o quanto ela participava de nossa vida. Viajava conosco para todo lugar (Caraguá, Extrema, Pouso Alegre, São Carlos).

Paloma nos encontrou, numa fase receptiva. Tínhamos idade para ser avós, e a Natureza pedia isso. Os filhos já eram adultos e independentes, com 25 anos e 22 anos. Mas, crianças não chegavam. Então, dedicamos todo o nosso potencial afetivo a ela. Paloma dormia dentro de casa, e durante um tempo, em baixo de nossa cama.

Quando ficou adulta, procuramos um macho para cruzar com ela. Encontramos um perdigueiro - Sultão. (ela era mestiça de Doberman com Perdigueiro). Documentamos fotograficamente até o cruzamento.

Dois meses depois, estava na hora dela parir. Passamos a noite inteira com ela, na sala esperando o nascimento dos filhotes. Nada. De manhã fui levar minha mãe ao hospital para um exame e só voltei por volta das 15 horas. Então, como se estivesse me esperando, ela começou a parir. Nasceram sete filhotes: Pamina, marrom como a mãe.Teve o nome da princesa da opera de Mozart; Sol, branco com manchas marrons, Lua, igual ao Sol, Duda, parecida com o Sol, foi sempre cuidada como uma princesa, Penélope, dada a um menino surdo, e outros dois dos quais não me lembro o nome, se é que tinham.

Foi uma bonita experiência ver o nascimento dos filhotes e ver o cuidado instintivo que os animais tem. Até a veterinária que cuidava de Paloma, estava lá para assisti-la.Jurema chegou uns dias depois, de Pouso Alegre, onde já morava casada com Oscar, só para conhecer os filhotes (1983).

Daí para frente, toda a bicharada encheu nossa vida de alegria. Paloma foi mãe extremosa e tinha um instinto materno bem forte. Já tinha tido antes, gravidez psicológica (?) e adorava um cachorrinho de borracha, que levou para junto de si, na hora em que os filhotes estavam nascendo.

Sol e Lua ficaram com a Jurema, primeiro em Pouso Alegre e depois em São Roque.
Pamina ficou em casa (foi Flavio quem quis, porque estava muito triste por ter brigado com a Tania - com quem se casou, separou e recasou).

Quando Jurema engravidou e teve que passar sete meses em casa, de repouso, Sol e Lua voltaram e em casa ficaram quatro cachorros: Paloma, Pamina, Sol e Lua. E minha mãe cuidava deles todos.Sentava-se no quintal e distribuía gomos de mexerica para os quatro.

Quando André nasceu e chegou em casa vindo da maternidade, a delicadeza da Paloma ao recebê-lo nos admirou: ficou em pé sobre as patas traseiras, sem encostar-se no cesto, observando-o. Sempre o protegeu.

Depois que André nasceu, Jurema foi para São Roque e Sol e Lua foram com ela. Paloma e Pamina continuaram em casa. Paloma dominava tanto a Pamina, que esta se tornou submissa e totalmente sem personalidade.

Daí para frente, alguns fatos marcantes aconteceram. Ayrton teve infarte, e nós nos mudamos para um apartamento. Foi resolvido que elas iriam para o sítio de São Roque. O dia da mudança foi muito difícil. Ayrton no hospital, um sábado à noite, Oscar levando na carreta os móveis dos meus pais, meus pais saindo para passar uns tempos com eles, e a Paloma e a Pamina indo embora. Nesse dia desabei. Quem estava comigo e me ajudou foi a Penha (a ex-pajem das crianças).

Paloma passou a viver no sítio com Pamina e Sol (Lua tinha sido morta com um tiro, dentro do sítio), cruzou com Sol (seu filho), e ao parir a ninhada teve problemas e acabou no veterinário. Isso custou à Jurema e Oscar, uma manhã inteira esquentando cadeira no consultório, e finalmente, depois de uma cesárea, todos os filhotes nasceram vivos. Não emprenhou mais, pois foi castrada durante a cirurgia.

Paloma apegou-se muito à Jurema, e durante os 7 anos em que viveu no sítio teve uma vida saudável, com muito espaço, carinho e companhia. As crianças da Jurema a adoravam. Ela era também uma boa guarda.

Começou a envelhecer, mas muito ativa. Nos seus dois últimos meses começou a sentir o peso dos anos e morreu no dia 30 de agosto de 95. Na véspera passou o dia todo bem mal, com nós todos ao lado dela, principalmente Jurema, de quem ela era a sombra. À noite, Jurema a colocou dentro de casa, e por volta de meia noite ela levantou com dificuldade e foi chamá-la. Abriram-lhe a porta, ela saiu, tentou beber água, caiu e em poucos minutos morreu. Eu só soube de manhã. Foi enterrada no bosque, atrás do salão, entre as flores.

Ela era linda. Veja a foto.

Comentários

Anônimo disse…
Que linda estória de amor...
É sempre bom saber que existem pessoas que amam os cães. Minha mulher e eu nos dedicamos a eles nos últimos 37 anos. Quatro já se foram e nos deixaram muita saudade. Resta-nos, agora, a MEG,
uma dócil companheira.
Obrigado por nos relatar uma grande experiência de sua vida.

Com respeito.
Ana JR disse…
Nossa que linda história, eu na realidade amo os cães criaturas formidáveis, fiquei emocionada.
obrigada
Ana J Raphael Campinas SP
Maria Helena disse…
Neuza, perdi um dos meus cães recentemente, depois de 14 anos de companhia insubstituível. Meu poodle era a minha sombra mas morreu devido a problemas renais. Sinto muito a falta dele mas não tive escolha senão recorrer à eutanásia, porque os rins haviam parado e ele estava se envenenando com as toxinas do próprio organismo que já não conseguiam mais ser expelidas.
Assim é a vida. Parabéns pelo teu blog e se quiser dar uma passada no meu, vai ser um prazer:
www.helenasantini.blog.uol.com.br
Forte abraço,
Maria Helena
ORANCI MORAIS disse…
Que linda história...Eu penso que todas as pessoas que amam os animais, são gente de coração bom.
Amos todos os bichos, tenho o maior respeito por eles. Um abraço menina. Sua fã e admiradora....
Oranci Morais.

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