PELOS, CORES, AMORES E...
Que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental
(Vinicius de Moraes)
Anfostofolia era uma felina chic, da alta sociedade, que compõe o visual perua da madame na casa de quem mora. Da raça pixie bob, descendente do lince americano, tem rabo curto (5cm). Pedigree documentado. Tem direito o coleira de ametistas que combina com o reflexo que mandaram fazer em seus pelos. As pedras só não são brilhantes porque atrairiam seqüestradores e o resgate por ela, Anfostofolia, seria até maior do que o valor das pedras. Suas roupas são de grife e comprada na Daslu bichos; custam mais do que um salário mínimo as peças mais recentes. Come ração importada e para variar quitutes da Cat Bakery, feitos sem conservantes. Tem até plano de saúde especial. Anfostofolia já esteve na ilha de Caras, tirou fotos para um book e participou de um desfile para eleger a mais bela “gatosa” (gatona gostosa). Ganhou é claro.
Mas, aproveitando um descuido de madame, deu uma escapada e “namorou” o gatão da favela vizinha. Como ainda não se tinha inventado camisinha para felinos e os anticoncepcionais próprios eram daquele lote que o laboratório lançou errado – farinha pura – não deu outra: gravidez não desejada só descoberta quando da visita mensal ao veterinário que acompanhava sua saúde.
E aí a corrida: reserva de acomodações no Felinoeinstein, o hospital ISO 9000 e no momento certo Anfostofolia foi para a ala Vip. Apartamento privativo, com direito à acompanhante, madame naturalmente.
O veterinário teve que convocar, em regime de urgência, três assistentes e um anestesista para o “parto”. Para que Anfostofolia não sofresse, a equipe discutia: anestesia geral ou peridural? A natureza foi mais rápida e enquanto eles discutiam, os “bebês” começaram a nascer.
Como é natural nos felinos, sempre nascem vários “felininhos” e isso certamente aconteceu, mas, para que o (a) herdeiro fosse único e recebesse o mesmo tratamento da mãe sem direto a ciúmes entre irmãos, deu-se um “jeitinho” e só uma sobreviveu. E Anfostofolia ficou naturalmente frustrada porque nem a deixaram seguir sua natureza: cortar o cordão umbilical e romper o saco envolvente com os próprios dentes, gesto com que assumia a condição de mãe. Com tesouras esterilizadas e usando luvas próprias, os assistentes fizeram o serviço. Mesmo assim, Anfostofolia curtiu o nascimento. Já tinha sentido a emoção única dos movimentos da vida dentro de si, aquela sensação especial de ser fêmea; e agora se tornava “mãe”, um status “nunca dantes conseguido”. E logo quis ver sua obra prima. Nome já tinha: Filastolfa. Era lindinha, pelo azul de bolinhas pretas, cor herdada do pai um “gatão” pretinho.
No berçário foi a sensação. A revista Veja fez uma reportagem e a rede Globo mandou uma equipe para matéria do Fantástico. Madame orgulhosa exibia mãe e filha – Anfostofolia e Filastolfa.
Anfostofolia e Filastolfa continuaram na casa em que moravam com as mesmas mordomias. Na primeira consulta ao veterinário e por recomendação deste voltou ao Felinoeinstein para uma esterilização completa. Maternidade, nunca mais. Vigiada agora por um personal security, não pode mais dar as escapadas para suas noites de amor. Entristeceu, foi ficando depressiva e morreu antes de Filastolfa completar um ano.
Filastolfa herdou o personal security da mãe e não conseguiu dar nenhuma escapada, não conheceu o amor, não deu seus gemidos pelos telhados, não acordou casais pelo meio da noite para o amor da madrugada.
Virgem triste foi também definhando, seu pelo de um azul celeste foi clareando, clareando, clareando e ficou branco. Ela se tornou uma gatinha magrinha, anêmica branca de bolinhas pretas. Fantasmagórica.
Com esse visual não pode mais “enfeitar” a madame que tinha vergonha de desfilar com ela no colo. Encomendou ao veterinário outra gatinha. Desta vez escolheu uma de pelo verde com listas amarelas produzidas por reflexos. Já tinha então um adorno diferente para seguir para a Europa no tempo dos jogos da copa. Exibiria sua prenda brasileira nos desfiles do jet set internacional. E deu a ela o nome de Lady Di que certamente todos conheceriam. Nomes tupiniquins, nunca mais. Já então Filastolfa definhava como Anfostofolia e morreu mansinho, “como um passarinho”.
Moral da história: no mundo dos ricos a perenidade depende da aparência: Enfeiou, dançou.
(Vinicius de Moraes)
Anfostofolia era uma felina chic, da alta sociedade, que compõe o visual perua da madame na casa de quem mora. Da raça pixie bob, descendente do lince americano, tem rabo curto (5cm). Pedigree documentado. Tem direito o coleira de ametistas que combina com o reflexo que mandaram fazer em seus pelos. As pedras só não são brilhantes porque atrairiam seqüestradores e o resgate por ela, Anfostofolia, seria até maior do que o valor das pedras. Suas roupas são de grife e comprada na Daslu bichos; custam mais do que um salário mínimo as peças mais recentes. Come ração importada e para variar quitutes da Cat Bakery, feitos sem conservantes. Tem até plano de saúde especial. Anfostofolia já esteve na ilha de Caras, tirou fotos para um book e participou de um desfile para eleger a mais bela “gatosa” (gatona gostosa). Ganhou é claro.
Mas, aproveitando um descuido de madame, deu uma escapada e “namorou” o gatão da favela vizinha. Como ainda não se tinha inventado camisinha para felinos e os anticoncepcionais próprios eram daquele lote que o laboratório lançou errado – farinha pura – não deu outra: gravidez não desejada só descoberta quando da visita mensal ao veterinário que acompanhava sua saúde.
E aí a corrida: reserva de acomodações no Felinoeinstein, o hospital ISO 9000 e no momento certo Anfostofolia foi para a ala Vip. Apartamento privativo, com direito à acompanhante, madame naturalmente.
O veterinário teve que convocar, em regime de urgência, três assistentes e um anestesista para o “parto”. Para que Anfostofolia não sofresse, a equipe discutia: anestesia geral ou peridural? A natureza foi mais rápida e enquanto eles discutiam, os “bebês” começaram a nascer.
Como é natural nos felinos, sempre nascem vários “felininhos” e isso certamente aconteceu, mas, para que o (a) herdeiro fosse único e recebesse o mesmo tratamento da mãe sem direto a ciúmes entre irmãos, deu-se um “jeitinho” e só uma sobreviveu. E Anfostofolia ficou naturalmente frustrada porque nem a deixaram seguir sua natureza: cortar o cordão umbilical e romper o saco envolvente com os próprios dentes, gesto com que assumia a condição de mãe. Com tesouras esterilizadas e usando luvas próprias, os assistentes fizeram o serviço. Mesmo assim, Anfostofolia curtiu o nascimento. Já tinha sentido a emoção única dos movimentos da vida dentro de si, aquela sensação especial de ser fêmea; e agora se tornava “mãe”, um status “nunca dantes conseguido”. E logo quis ver sua obra prima. Nome já tinha: Filastolfa. Era lindinha, pelo azul de bolinhas pretas, cor herdada do pai um “gatão” pretinho.
No berçário foi a sensação. A revista Veja fez uma reportagem e a rede Globo mandou uma equipe para matéria do Fantástico. Madame orgulhosa exibia mãe e filha – Anfostofolia e Filastolfa.
Anfostofolia e Filastolfa continuaram na casa em que moravam com as mesmas mordomias. Na primeira consulta ao veterinário e por recomendação deste voltou ao Felinoeinstein para uma esterilização completa. Maternidade, nunca mais. Vigiada agora por um personal security, não pode mais dar as escapadas para suas noites de amor. Entristeceu, foi ficando depressiva e morreu antes de Filastolfa completar um ano.
Filastolfa herdou o personal security da mãe e não conseguiu dar nenhuma escapada, não conheceu o amor, não deu seus gemidos pelos telhados, não acordou casais pelo meio da noite para o amor da madrugada.
Virgem triste foi também definhando, seu pelo de um azul celeste foi clareando, clareando, clareando e ficou branco. Ela se tornou uma gatinha magrinha, anêmica branca de bolinhas pretas. Fantasmagórica.
Com esse visual não pode mais “enfeitar” a madame que tinha vergonha de desfilar com ela no colo. Encomendou ao veterinário outra gatinha. Desta vez escolheu uma de pelo verde com listas amarelas produzidas por reflexos. Já tinha então um adorno diferente para seguir para a Europa no tempo dos jogos da copa. Exibiria sua prenda brasileira nos desfiles do jet set internacional. E deu a ela o nome de Lady Di que certamente todos conheceriam. Nomes tupiniquins, nunca mais. Já então Filastolfa definhava como Anfostofolia e morreu mansinho, “como um passarinho”.
Moral da história: no mundo dos ricos a perenidade depende da aparência: Enfeiou, dançou.
Comentários
bjs e parabéns por seu blog
bom final de semana
gostei mto do seu post...
Profundamente real.
Bjus lind@
Muac!!!
Adoro seu blog e por isso tem um selinho no meu pra vc.
beijocas
Assisti sua entrevista no programa
da Ana Maria Braga, fiquei imprecionada com suas palavras.
Um Abraço
Assisti sua entrevista hoje a tarde no programa da Tv Aparecida, sou da Bahia e é muito gratificante encontrar um blog com texto para se refletir, aprender e viajar na literastura e na arte.
Um abraço
Carla Patrícia
Solange
Estou passando para te desjar um ótimo dia ... repleto de alegrias !
Beijos no ♥
Espero a tua visitinha, ok \o/
Belo conto.