COTIDIANO DE SÃO PAULO –DÉCADA DE 40 - MEU DEPOIMENTO
Até os meus 18 anos (1948), a palavra “geladeira” não fazia parte do vocabulário da minha família. Logicamente não era assim em outros meios familiares, mas mesmo os mais abonados tinham “armário” de madeira, isolado e resfriado com barras de gelo entregues em casa.
Éramos de um tempo em que as compras eram diárias, somente aquilo que seria usado para fazer as refeições do dia, elas mesmas muito simples.
Verduras se compravam no verdureiro que passava pela manhã oferecendo alfaces, escarolas, batatas, pimentões... Vindos em geral de sua própria horta. Sempre passavam pela manhã para dar tempo de as verduras e legumes serem usados ainda para o almoço.
A “venda” do quarteirão ou esquina fornecia o feijão, o arroz, o óleo (sem outra opção que o de caroço de algodão)... Comprava-se a quilo ou meio quilo em “conchas” medidoras, embrulhados em folhas de papel grosseiro que eram enrolados de maneira característica e com grande habilidade do “vendeiro”.
Embora nós nunca tivéssemos usado o sistema, a grande maioria comprava “na caderneta”. O freguês tinha a sua caderneta – um caderninho pequeno, fino, geralmente ensebado pelo uso – na qual o vendeiro marcava o valor do produto levado, nem sempre especificando qual o produto. Também marcava no seu “livrão”. No fim do mês, o comerciante somava e cobrava. Sua contabilidade consistia em separar mensalmente as contas dos fregueses, e fazer a soma da dívida. Essa soma devia ser igual á soma da caderneta. Confiança era fator importante, porque muitas vezes apareciam dados não coincidentes entre “livrão” e “caderneta”.
Pão geralmente era comprado na padaria, se ela fosse próxima, Senão, havia os padeiros que distribuíam pão a lugares mais distantes, em carroças ou carrinhos. Padarias ficavam em geral nas esquinas, eram muitas e relativamente bem montada. Vendiam também doces, grandes e enfeitados. “Doce de padaria” era sinônimo de “doce grande”
Carne era só comprada em açougues que eram muito numerosos. Também tinham entrega domiciliar com os meninos em bicicletas. Comprava-se a quantia do dia, e no nosso meio geralmente era meio quilo. Podia ser músculo, coxão mole, alcatra, mas na minha memória ficaram as “bistecas” que eram compradas por unidade. Para mais opções, havia os tripeiros que gritavam seus pregões: Fígado, bucho...
Leite também era vendido em domicílio, primeiro em carrocinhas e depois em caminhões, os primeiros da Vigor. Parava de casa em casa, abria a torneirinha do grande tanque e media a quantia pedida.
Produtos mais especiais não somente não existiam como o nosso poder aquisitivo não permitia que pensássemos neles. Na cozinha mandava mesmo a criatividade da “mãe” que tinha que inventar coisas diferentes com pouca variedade de material.
Tudo era para o dia.
Éramos de um tempo em que as compras eram diárias, somente aquilo que seria usado para fazer as refeições do dia, elas mesmas muito simples.
Verduras se compravam no verdureiro que passava pela manhã oferecendo alfaces, escarolas, batatas, pimentões... Vindos em geral de sua própria horta. Sempre passavam pela manhã para dar tempo de as verduras e legumes serem usados ainda para o almoço.
A “venda” do quarteirão ou esquina fornecia o feijão, o arroz, o óleo (sem outra opção que o de caroço de algodão)... Comprava-se a quilo ou meio quilo em “conchas” medidoras, embrulhados em folhas de papel grosseiro que eram enrolados de maneira característica e com grande habilidade do “vendeiro”.
Embora nós nunca tivéssemos usado o sistema, a grande maioria comprava “na caderneta”. O freguês tinha a sua caderneta – um caderninho pequeno, fino, geralmente ensebado pelo uso – na qual o vendeiro marcava o valor do produto levado, nem sempre especificando qual o produto. Também marcava no seu “livrão”. No fim do mês, o comerciante somava e cobrava. Sua contabilidade consistia em separar mensalmente as contas dos fregueses, e fazer a soma da dívida. Essa soma devia ser igual á soma da caderneta. Confiança era fator importante, porque muitas vezes apareciam dados não coincidentes entre “livrão” e “caderneta”.
Pão geralmente era comprado na padaria, se ela fosse próxima, Senão, havia os padeiros que distribuíam pão a lugares mais distantes, em carroças ou carrinhos. Padarias ficavam em geral nas esquinas, eram muitas e relativamente bem montada. Vendiam também doces, grandes e enfeitados. “Doce de padaria” era sinônimo de “doce grande”
Carne era só comprada em açougues que eram muito numerosos. Também tinham entrega domiciliar com os meninos em bicicletas. Comprava-se a quantia do dia, e no nosso meio geralmente era meio quilo. Podia ser músculo, coxão mole, alcatra, mas na minha memória ficaram as “bistecas” que eram compradas por unidade. Para mais opções, havia os tripeiros que gritavam seus pregões: Fígado, bucho...
Leite também era vendido em domicílio, primeiro em carrocinhas e depois em caminhões, os primeiros da Vigor. Parava de casa em casa, abria a torneirinha do grande tanque e media a quantia pedida.
Produtos mais especiais não somente não existiam como o nosso poder aquisitivo não permitia que pensássemos neles. Na cozinha mandava mesmo a criatividade da “mãe” que tinha que inventar coisas diferentes com pouca variedade de material.
Tudo era para o dia.
Comentários
Um beijo carinhoso vovó.
Bjs.
obrigado!
Na verdade acho que era tudo mais fácil apesar da vida difícil.
Gosto muito do teu blog.
Ensina -me a viver.
Grande beijo.
Bem, de qualquer forma, tive a sorte de trocar cartão com a sra na cerimônia de entrega dos prêmios e poderemos entrar em contato direto.
Eu já a sigo por lá e aqui não seria diferente, estou a seguindo.
Um beijo,
Profª Cristiana
Que bom voltar aqui. Fiquei um tempo longe da net, por motivos diversos, mas a senhora é a minha primeira visita depois deste periodo "desvirtualizada". Conheci-a na Ana Maria e moro na Holanda.
Adorei ler seu post sobre os "bons" tempos, é mesmo muito gostoso recordar. Tenho 48 anos, mas posso dizer que tb já tenho história.
Meus filhos ficam bobos de saber como nos virávamos sem computador, telemóvel, dvd e por ai vai. Mas o fato é que como não conhecíamos essa tecnologia, ela não nos fazia falta, não é mesmo??
Um grande beijo de uma fã distante que sonha em retornar,
Sheila
Bjs de uma admiradora baiana!
Estou fazendo uma pesquisa sobre a década de 40, e me deparei com seu blog! Exsite coisa mais rica que o depoimento de quem viveu nessa época?
Fiquei encantada e já li 3 vezes!
Tenho 20 anos de idade, mas sou bastante nostálgica, inclusive de um passados que nem são meus!
Continue com os relatos!
Vccê escreve bem e de forma agradável!
ótima semana!