Reportagem da festa dos 20 anos da UATI na versão poética e encantadora de Jolanda Gentilezza
OS 20 ANOS DA UATI
UNIVERSIDADE ABERTA ÀTERCEIRA IDADE – USP
22/10/2013
Considerações e
des-considerações:
As
“Misses” são interessantes mulheres da terceira idade (ou aproximando-se dela), que estão chegando
para o café da manhã comemorativo dos 20 anos da UATI, às 9:00 horas de um
ensolarado dia de outubro na Biblioteca do Instituto de Psicologia da USP.
Todas vaporosas, alertas, educadas, à vontade: a USP é o ambiente delas. Alguns
homens – tímidos diante da esmagadora maioria feminina - também vão entrando.
Sentada
num canto do salão, tenho a panorâmica perfeita da chegada das Misses, umas
andando altivas em seus saltos altos, outras pilotando sapatos cômodos. Algumas
lindamente penteadas, outras com cabeleireiras que se impõem sozinhas sem a
ajuda de profissionais da beleza. Todas com algum enfeite: um colar, um brinco, um anel, uma echarpe,
um foulard, o eterno feminino nunca
decepciona, graças a Deus.
Afinal,
o que distingue uma mulher da segunda idade daquela da terceira idade? Na mais
jovem, há em primeiro lugar o salto alto vertiginoso, acompanhado da barriga
tanquinho, da maquiagem moderna e da clara intervenção de um cabeleireiro. As consequências são um divisor de águas: de
um lado o andar ondulado da pantera, a circe fatal, de juba soberba, do outro lado a leoa com
implantes e pelagem curta. A primeira emana feromônio Chanel no 5, a
segunda lança mão de canela, gengibre e
pirimpimpim ao forno: poções de amor – infalíveis - para conquistar pelo
estômago.
A
primeira tem vaidade mulieribus, a
outra até gostaria de ter, mas – ahi, que cansaço – desistiu em nome da
praticidade e da sobrevivência. Se na primeira as roupas lambem lascivamente o
corpo, na segunda escondem silenciosamente.
Na
primeira o corpo é ereto e elástico e o sorriso é convidativamente debochado –“ainda não cheguei aí, senhoras!” Na
segunda o excesso de juventude traz aquele sorriso irônico do tipo “já passei por tudo isso”. Alice ainda
mora aqui, mas os andares superiores são off-limits.
Para as primeiras Vinícius escreveu “Receita de Mulher” (As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental...), as
segundas estão fora do prazo de validade, mas se cuidam porque já não se fazem
mulheres como antigamente. São insubstituíveis.
Eu
sempre amei as feiticeiras ... mas agora que eu também sou “de maior terceira”,
o ponto de observação muda completamente de perspectiva... era mais fácil ter
carinho pelas feiticeiras não sendo uma delas. Mas estou fazendo os ajustes
necessários: conservei um único par de saltos altos e todos os dias,
religiosamente, olho para eles. Mais dias, menos dias, deixarei de suspirar.
Jolanda está conversando com Bill.À direita Frima e à esquerda Elides
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