ÀS VEZES SÃO PAULO DÁ SAUDADES.

Dois pequenos textos da Folha de São Paulo em 17 de agosto de 2009
- Ruy Castro - Tentacular e Impiedosa e Guerra de audiência chega aos ônibus de são Paulo deram origem a este meu texto (desculpe Moacyr Scliar se eu te imito. Para quem não sabe, Moacyr Scliar escreve suas crônicas das segunda feira partindo de uma noticia do jornal que ele julga interessante. Mas, como já dizia Lavoisier – na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se COPIA, me sinto desculpada).

Ruy Castro fala da “tentacular e Impiedosa” propaganda referindo-se ao bombardeamento, à superdose de anúncios desde Bancos de táxi, miniTvs instaladas nos painéis. Etc etc. Fala dos aviões que usam e abusam deTvs, fazem marketing até onde se encosta a cabeça E por aí vai.

No mesmo dia outra noticia “aterrorizante”: a Globo lança hoje (17/08/09) serviço de TV para ônibus em São Paulo. Serão 300 os ônibus “presenteados” transmitindo por uma hora e reprisado continuamente uma programação pré-gravada com resumos de capítulos de novelas e informação ditas de prestação de serviços. 30 ônibus terão programação em tempo real. Argumento: distrair o publico que perde horas no trânsito dando ”cultura.” E informação.

Lidas as noticias, tenho um bom gancho para um texto que começa: Ai que saudades que tenho do tempo em que nos ônibus havia uma placa “É PROIBIDO FALAR COM O MOTORISTA”. Não me lembro quando e nem porque ela sumiu. E aos poucos houve uma completa reversão de comportamento. Hoje caberia a placa “CONVERSE COM O MOTORISTA. FALE MUITO COM ELE PARA DISTRI-LO E ASSIM ELE NÃO SE ESTRESSA” Há placas de tudo: deficientes podem descer antes do ponto; é proibido fumar; é proibido rádio ligado “e a célebre placa para reserva aos passageiros diferenciados onde os idosos são representados por uma imagem depreciativa, encurvados, tortos......como se todos os idosos fossem tortos e capengas. Ainda bem que nos vagões novos do metrô Madalena, os idosos já estão representados por pessoas eretas como são a maioria deles. Nós os idosos agradecemos a gentileza.

Não uso muito o carro. Prefiro ônibus por razões ecológicas e de aproveitamento de tempo. Leio livros, recortes de jornal ou textos de estudos nos ônibus, metrô, salas de espera de consultórios e...Quando posso. Porque se é uma segunda feira e aconteceu futebol no domingo (e sempre acontece) motorista e cobrador trocam longos papos em voz alta e em um baianês ininteligível. Não dá nem para acompanhar o diálogo que poderia até dar contos. E sempre um passageiro entra na conversa. E serão três a discutir. ou quatro, ou cinco quando se inflamam.

Discutem passes, gols, e outras mazelas futebolísticas. Fecho o livro, e como sempre tenho um plano B pego o meu tricô para aproveitar o tempo.Tenho até agulhas curtas para não incomodar o vizinho. Se a vizinha é mulher, adeus sossego. Querem logo as receitas contam as suas e eu torço para chegar logo ao meu destino ou a vizinha descer. Nos bancos imediatamente contíguos as fofocas correm soltas e a privacidade alheia é sem querer invadida. O celular fica às vezes uma viagem inteira ligado com conversas jogadas fora. Será que os interlocutores se lembram que alguém está pagando? É uma “zona” só.
Imagine agora, com as novelas nos ônibus. Vai ser dose pra leão.

A moda das mochilas implica em que cada pessoa vale por uma e meia.

No metrô a situação é diferente e não há muita conversa. Os tempos de viagens são curtos e não há tempo de socialização. Até que dá para ler um capitulo.

E também há o problema dos obesos. Mais bancos especiais são necessários. Quando estou em banco duplo chego a ficar espremida por ”alqueires e alqueires” de tecido adiposo.

O outro lado da moeda é que a maioria dos motoristas é sorridente, bem humorada e por isso acho que vale à pena enfrentar o zum zum. O custo-beneficio diz que sim. Afinal,é por uma boa causa. Há maior socialização, menos preconceitos.

Quem pode anda de carro, atravanca a cidade, perde um rico e precioso tempo que às vezes compensam com os noticiários que os colocam plugados no mundo. Melhor fazem aqueles tem o rádio programado na Cultura FM e se deliciam com boa musica.

Ah!!! Esqueci um detalhe: sou uma privilegiada. Como deficiente auditiva uso duas próteses. Mas elas têm um botãozinho mágico que as desliga quando quero. Às vezes por inércia nem isso faço, mas quase sempre desligo dos dois aparelhinhos e me isolo do mundo. Posso prestar atenção à minha leitura e uso do meu direito ao silêncio.

No dia 18 no mesmo jornal a noticia que a Prefeitura sustou a licença de TV em ônibus. Feliz, pensei que fosse respeitando o direito ao silencio mas não:era porque os papeis não estavamem ordem. Que pena!!!!!

Comentários

milu disse…
Sou apaixonada pelo teu blog, admiro e vibro com tudo q escreves.Passo aqui todos os dias.Bjs.
ISABEL disse…
Olá vóvó Neuza
Ao ler o seu blog, fez-me voltar ao tempo que andava de transportes públicos. É papel quimico do que se passa em Lisboa e arredores. Moro no Cacém - linha de Sintra e trabalhava em Lisboa; utilizava comboio, metro, autocarro (ónibus) e é tál e qual a sua descrisão.
Agora tv no ónibus!, mt. passageiro vai sair na paragem seguinte, por estar a ver tv.
Adorei, a senhora é um exemplo de vida. Bjs. Isabel
Re Gondim disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse…
Lendo seu blog gostaria de sugerir que dessem uma olhada num livro que desperta memórias maravilhosas. Chama-se "Bonde, saudoso paulistano", da Editora Terceiro Nome. Tem muitas fotos da cidade e desse meio de transporte tão querido por todos.
Jucelia disse…
Olá! A vi num programa de televisão há algum tempo e, apesar da entrevistadora, me prendi na matéria e hoje resolvi visitar o blog. Aliás, é o primeiro blog que visito na vida rs. Adorei! Um abraço grande e, que bom o presente de poder compartilhar de suas histórias!

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