BOMBIX MORI (O BICHO DA SEDA)
Pegando carona com um e-mail recebido no dia 24 de setembro de 2014 de um ex aluno de 1971,1972,1973, que me causou emoções indiscritíveis (40 anos depois) e que copio aqui, resolvi reescrever a história do bicho da seda em minha trajetória profissional.
O e-mail:
Um novo comentário sobre a sua postagem "TEMPOS DE COLÉGIO CAMPOS SALLES":
Neuza?
Vovó Neuza?
Professora Neuza?
Eu prefiro Santa Neuza, pela paciência em aturar uma turma de alunos inteligentes, mas danados ao extremo.
Sou José Reinaldo Buchara Martins, seu aluno em 71,72,73.
Recordo como se ontem fosse, da quantidade absurda de ramos de amoreira que eu e meus amigos de classe levamos para alimentar a nossa insaciável tropa de bichos da seda que, com sua orientação, criamos no colégio. Época fantástica.
Mestra! Obrigado por tudo. Deus te abençoe.
Neuza?
Vovó Neuza?
Professora Neuza?
Eu prefiro Santa Neuza, pela paciência em aturar uma turma de alunos inteligentes, mas danados ao extremo.
Sou José Reinaldo Buchara Martins, seu aluno em 71,72,73.
Recordo como se ontem fosse, da quantidade absurda de ramos de amoreira que eu e meus amigos de classe levamos para alimentar a nossa insaciável tropa de bichos da seda que, com sua orientação, criamos no colégio. Época fantástica.
Mestra! Obrigado por tudo. Deus te abençoe.
A História:
Foi em 1970.
Eu dava aulas de Biologia no Colégio Campos Salles da
Lapa. Sempre fui inventadeira de moda e desta vez eu resolvi criar bichos da
seda (nome científico -Bombix mori) porque acompanhando seu desenvolvimento podemos saber das fases desse
inseto desde o ovo até as mariposas
machos e fêmeas que copulam e botam ovos fechando o ciclo. Tudo isso foi
visto e acompanhado por alunos dos vários cursos e durou cerca de 40 dias.
Fracassada uma primeira tentativa quando os ovos foram
distribuídos aos alunos para que eles acompanhassem o processo em suas próprias
casas, desta vez resolvemos preparar um local próprio no colégio e trabalhar
com a interatividade de todos.
O primeiro passo foi solicitar do Instituto de
Sericicultura de Campinas meio grama de ovos selecionados. 1750 larvas nasceram
em 16 de setembro. A partir de então foram alimentados 5 a 8 vezes por dia
exclusivamente com folhas de amoreira.
Folhas de
amoreira.
As larvas nascidas com 3 a 4 milímetros crescem até
mais ou menos 8,5cm.
Larvas ainda pequenas sobre folhas de amoreira
Para acomoda-las foram construídos cavaletes com bandejas
que foram limpas várias vezes por dia e reabastecidas com as folhas de
amoreira. Quanto mais crescem mais comem e houve um tempo que as amoreiras da
Lapa ficaram depenadas.
Nossas
próprias bandejas
e as larvas no detalhe
Artigo de
jornal sobre nossa criação de bicho da seda
Quase
todo o trabalho foi desperdiçado quando um aluno fumou perto das bandejas e
perdemos cerca de 250 larvas.
Atingido o tamanho limite de crescimento, as larvas
param de comer e procuram pontos de apoio para começar a tecer o casulo
Larva no tamanho limite para fazer o casulo
A larva do
bicho-da-seda produz o fio de seda por meio de uma glândula que fica na boca.
Do pequeno órgão sai baba que, em contato com o ar, endurece e forma o
fiozinho, Durante dois ou três dias, fabrica a substância e a enrola ao redor
de seu corpo, criando o casulo.
Casulos com os primeiros fios
servindo de pontos de apoio
Não vimos a primeira fase de formação do casulo porque
isso aconteceu em um fim de semana .Quando chegamos na segunda feira, todos os
cantos da sala e as dobras das cortinas estavam cheios de casulos. Daí para
frente a vigilância foi contínua .
Separamos os casulos para dois tipos de tratamento:
alguns foram usados para retirar o fio, fácil de achar a ponta quando se
mergulha em água quente. Enrolado o fio finíssimo em carretéis, juntamos cinco
carretéis para um fio mais grosso e mais cinco dos mais grossos para fio mais
grosso ainda. Com o fio obtido
conseguimos fazer uma amostrinha de tricô. Beleza – uma amostra com fios de
produção própria. Um acontecimento!!!!!
Outros casulos foram deixados para completar o ciclo.
No interior do casulo o corpo da lagarta
transforma-se, formando a pupa ou crisálida, continua o processo de
transformação até à formação do indivíduo adulto, a mariposa. Este estágio dura
cerca de 10 dias
Para sair do casulo a mariposa liberta um líquido
alcalino que corrói uma das extremidades do casulo abrindo uma abertura para a
sua saída. Neste estágio o inseto não se alimenta e é nesta fase que se dedica
à reprodução da espécie. Depois do acasalamento a fêmea faz a postura de 200 a
500 ovos, e tal como o macho morre. Este estágio tem a duração de cerca de 10 a
16 dias
Acasalamento das mariposas
macho e fêmea e a postura de ovos pela fêmea
E assim se completa o ciclo e mostrando todas as fases
de desenvolvimento dos insetos: ovo –
larva – casulo –pupa - mariposa
Este foi um dos mais belos trabalhos que fiz durante a
minha fase de professora. E o bicho da
seda sempre estará ligado a um dos meus sucessos didáticos.
A
criação de bicho da seda que propus aos alunos foi algo que movimentou a
comunidade. Foram mais de mil larvas alimentadas, foram todas as amoreiras do
bairro desfolhadas, centenas de casulos espalhados pela sala, milhares de
metros de fios enrolados e algumas peças tecidas em tricô ou crochê como os
fios de bichos da seda criados pelos alunos. Foi em 1970.
Comentários
Uma história de dedicação e de muita alegria.
Forte abraço e um beijo na alma.
Do seu aluno
José Reinaldo Buchara Martins