PAINEIRAS

É abril. 2005. E eu continuo acompanhando as “minhas” paineiras daqui da janela de minha casa. Há alguns anos as acompanho e escrevo sobre elas. Já as descrevi floridas, toda vestidas de cor de rosa; já falei sobre seus frutos e suas sementes leves balançando no ar e cobrindo de branco a grama do jardim. Já falei sobre elas no inverno, sem folhas, nem flores nem fruto, apenas galhos nus. Elas me situam no tempo que aqui na cidade não segue calendário algum. Florescem no fim do verão, no outono, quando o seu ciclo determina.

Este ano comecei a dar atenção à que fica mais próxima de mim, que eu vejo daqui de cima como um toldo verde e ficou assim quase até o fim do verão. Exatamente no dia 14 de março vi sua primeira flor. E a partir de então fui acompanhando o aparecimento de outra, mais outra, muitas outras. Este ano ela está preguiçosa. Floresce aos poucos e enquanto os ramos mais externos já estavam carregados, os mais de dentro só exibiam botões, que foram abrindo devagar, sem pressa. Sua irmã de jardim foi ainda mais lenta. Aqui e ali se viam flores salpicando o verde. Hoje elas estão bem floridas. Mas já estiveram mais.

Alguns ramos, os que estão mais projetados para a rua, não têm nenhuma folha. Só flores. Outros, mesclam flores e folhas. Acho que os que ficam mais tempo expostos ao sol, dão mais flores. Todos os dias dezenas de flores despencam para o chão, algumas aos pedaços mostrando que o fruto já ficou, outras inteiras, abortando um fruto futuro. Outras ainda, bicadas pelos inúmeros pássaros que elas abrigam. O jardim fica cor de rosa. Pena que elas são varridas todos os dias. Deviam ser deixadas. Flores caídas não são lixo. É a forma da natureza adubar seu solo. Mas o homem não entende isso e deixa o jardim verdinho, limpinho, artificial.

Pena que as Sibipirunas já floresceram neste ano. Estiveram amarelinhas e teriam combinado bem com o cor de rosa das paineiras. Agora, estão totalmente verdes e já apresentam as vagens que são seus frutos. Logo se abrirão para derramar as sementes.

De manhã, quando o sol ainda não é forte, a algazarra dos passarinhos que vivem em suas copas se ouve daqui de cima. São muitas e muitas maritacas que se confundem com o verde das folhas e só são percebida pelo movimento incessante e vôos rasantes parando aqui e ali. Dividem espaço com bem-te-vis e, como não poderia deixar de ser, com os intrometidos pardais. De vez em quando passa sobre a paineira um grupinho de pombas, mas que não param nelas.

Já é de tarde. Os passarinhos, que não são bobos, estão descansando entre o frescor das folhas. Já fizeram o seu trabalho diário.

Quem disse que São Paulo não tem verde. É só procurar que se encontra.

Comentários

Uma aprendiz disse…
Olá! Adorei seu texto.

Sabe, esse observar é maravilhoso.
Só mesmo uma pessoa especial e sensivel como você poderia fazê-lo.

Parabéns!

Agora virei sempre aqui.

beijo
Tiago Soarez disse…
Vovó,

Em São Paulo tem de tudo! Até Verde!

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