"BIENAIS" DO LIVRO - ANHEMBI E PRAÇA DA SÉ - 2006


Ainda falando em livros

Em 2006 escrevi um texto sobre as “bienais do livro”. É oportuno porque estamos falando de livros. Então resolvi publicá-lo nos blogs.

O 3º maior evento editorial do mundo, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realiza a partir desta quinta-feira (09/3/06), sua 19ª edição. O evento, promete atrair cerca de 800 mil pessoas neste ano de 2006 - Noticia da Associação Viva o Centro on-line.
Praça da Sé abriga “Bienal” alternativa
Uma mesa improvisada de 15m cercada por caixas e uma estante é a opção para quem não pode pagar o ingresso na verdadeira Bienal. (artigo completo em anexo) - Folha de São Paulo 11/03/2006


A Praça da Sé que continua a referência da cidade, onde acontecem as coisas mais inusitadas.

A Praça que um dia foi Largo e que adquiriu o status de Praça quando teve seu espaço aumentado, lá pelos idos de 1911
.
A Praça da Sé como local de reivindicações, comemorações, protestos, e promessas políticas.

A Praça da Sé que é capaz de reunir milhares para gritar pelas Diretas Já. Mas que também se curva, numa cerimônia ecumênica, para reverenciar um mártir como foi Herzog.

A Praça da Sé que é um mostruário da diversidade característica da cidade.

A Praça que já viu uma padaria improvisada fazendo e distribuindo pães para comemorar o dia do Padeiro.
Já viu muitos religiosos tentando catequizar os passantes.
Já viu muitas estátuas vivas como manifestação popular de arte.
Já viu ambulantes especializados como aquele que anunciava “lupas para ler a Bíblia”.

Mas, ainda não tinha visto um “salão de leitura” a céu aberto, improvisado, com o material carregado em carroças e bagageiros. E livros, muitos livros. E jornais, muitos jornais. E gente, muita gente lendo. Moradores de rua que passam, sentam e folheiam os jornais do dia ou de outros estados.

Conversa-se com Devanir e se fica sabendo que essa “Bienal Alternativa” foi iniciativa dos que não tem teto, mas tem uma grande ânsia de saber. É incrível como se pode conversar com o coordenador e um voluntário, e captar quanto de “cultura” eles conseguiram. Falam em Jorge Amado, José de Alencar, mas também conhecem Garcia Márquez e Saramago.

Devanir e Lamartine estão lá para chamar o povo à leitura. Não se vende nem se impões nada. Só se pede para lerem alguma coisa. O orgulho de mostrar uma valiosa coleção emprestada por um geógrafo famoso que infelizmente foi roubada num momento em que o voluntário atendia um leitor, foi substituído pela tristeza.

Lamartine é membro do movimento dos Sem Teto do Centro que ocupa dois blocos do número 911 da avenida Prestes Maia há quatro anos. São 468 famílias instaladas atualmente no prédio. Continuam em condições precárias, mas já se organizam como uma comunidade com regras, direitos e deveres. Meninos e meninas estudam em colégios públicos das proximidades. Quando não estão na escola procuram a biblioteca.

Instalada numa sala de 25 metros quadrados no subsolo do edifício, a biblioteca é decorada com cartazes de paisagens européias, mapas e vasos de flores. O piso de tábuas de madeira colorida dá um ar alegre ao ambiente. Moradores voluntários dividem-se em escalas de duas horas semanais para atender os visitantes.

A idéia de montar uma biblioteca veio do casal Roberta da Conceição e seu marido Severino, ambos catadores de papel. Eles encontravam muitos livros no lixo e perceberam que o que eles continham valia muito mais do que os poucos centavos que ganhariam vendendo as páginas para reciclagem. Em 2004 o acervo contava com 6.733 exemplares entre enciclopédias, revistas, livros didáticos e infantis. A biblioteca é aberta a visitantes de fora e também recebe doações.

Mas, embora a idéia dos que instalaram a sala de leitura na Sé fosse ficar no local até o dia 19 quando também se encerraria a “outra” Bienal, no dia 17 não havia mais nada e mais ninguém no lugar. Sumiram. . Naturalmente “outro valor mais alto se levantou” e os “excluídos” foram também “banidos”

O que desse texto será ainda verdade? Existirá ainda essa biblioteca? Escrito em 2006 está sendo publicado em 2010.



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