IPIRANGA - BAIRRO DE MINHA ADOLESCENCIA E MOCIDADE

Treze anos de Ipiranga. Grandes lembranças, Grandes vivências. O Ipiranga de duas etapas de minha vida: uma mais simples, mais popular, mas muito mais humana, onde conhecíamos todos e éramos conhecidos; outra mais sofisticada, um degrau a mais na escala social mas pagando o preço do isolamento humano, onde nem sequer sabíamos o nome dos vizinhos.

Bairro também de saídas e entradas de São Paulo, agora vindos do litoral e usando caminhos que se interrompiam na rua do Lavapés, onde os viajantes lavavam os pés no riacho existente, antes de entrar na área nobre da cidade.

Bairro sede de acontecimentos históricos como a proclamação da Independência do Brasil.

Bairro que começou a conhecer o progresso a partir desse acontecimento, com a construção de um marco comemorativo, mais uma escola que depois virou museu, jardins de ligação e o projeto ambicioso de uma avenida ligando dois bairros operários - Ipiranga e Brás. Só em 1922, 100 anos depois da proclamação da Independência é que o conjunto foi inaugurado, mesmo assim incompleto.

O Ipiranga de minhas lembranças se situa principalmente na rua Lucas Obes, travessa da rua Silva Bueno, por onde passava o bonde nº 20 – Fábrica, que saia da Praça da Sé em direção ao Sacomã. Vivi seu calçamento, com barros profundos, terras revolvidas, isolamento conseqüente. Mas a Lucas Obes ficou transitável. Por ela passavam os enterros a pé, em direção ao cemitério, provavelmente o de Vila Mariana. Rua da grande fábrica de juta que acordava todos os moradores 6 horas com seu apito agudo e forte. Rua da Padaria Globo, na esquina, com seus doces que povoavam os sonhos de uma menina naturalmente “gulosa”.

Trecho de lojas conhecidas de todos; Loja das Moças, da família Bebber, casa de ferragens e presentes do Sr. Wagner. Zona do cinema Dom Pedro I (ou II ?) onde assisti já conscientemente os primeiros filmes: A Princesa da Selva, com Dorothy Lamour. Rua Silva Bueno que foi desafio para carros antigos na subida, com trilhos causadores de derrapagens.

Ipiranga que assistiu a minha formação escolar mais diferenciada, de curso ginasial e científico. Durante sete anos percorri de bonde o espaço entre a rua São Joaquim e a esquina da Silva Bueno com Lucas Obes.

Ipiranga no qual pudemos progredir passando de uma casa simples, parede e meia com a padaria, em contato com o forno e cheia de baratas, para um “sobradinho” e depois chegar à parte mais nobre do bairro, a Av. Dom Pedro I. Outro ambiente, com bondes (agora mais linhas) em um leito especial, grande leito para automóveis e mais um para trânsito local. Casas grandes, recuadas, espaçosas. Para mim, símbolo maior de status foi o vizinho “castelinho” dos Bernardini, ícone social maior, mas do qual nunca cheguei a conhecer os moradores.

Avenida que testemunhou minha maior formação escolar, de onde eu saia primeiro para a Faculdade e depois para o trabalho. De onde eu saí pelo casamento.

E novamente mudo de bairro, mudo de vida. Saio do Ipiranga agora não mais unidade social, mas parte de um casal, e vou viver em um espaço onde estou faz quase meio século.


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