OS COLCHÕES DA MINHA VIDA

Os primeiros colchões de que me lembro eram de palha de milho desfiada, crina, capim, barba de bode ou paina. Só tivemos de palha de milho mas os parentes tinham de todos os tipos.

Os colchões de paina (e também travesseiros) eram os mais macios, feitos com a pluma que envolvia as sementes das paineiras. Na época do outono as paineiras ficavam e ficam,cor de rosa, suas flores são polinizadas geralmente por pássaros (hoje maritacas). No inverno muitos frutos dependurados quase substituem totalmente as folhas e ao se abrirem espalhavam as sementes que flutuavam no ar suspensas pela pluma até chegar ao chão. Lindo. Até hoje me encanta.o espetáculo das sementes flutuando. Mas nunca tivemos um colchão de paina. Talvez um travesseiro.

Os de palha de milho eram os mais modestos. Qualquer casa tinha sua plantasãozinha de milho. Comidos os grãos usava-se a palha.

Capim e barba de bode só no campo.

No início, os colchões nem eram pespontados. Eram simplesmente uns sacos cheios com um desses materiais. Depois de uma noite de dormir, amanheciam disformes, cheios de altos e baixos. Era uma trabalheira deixar o colchão bem plano, uniforme. Para isso havia na fazenda, uns rasgos do tamanho aproximado de um palmo, por onde se enfiava a mão, afofando o algodão, ou palha ou....... De tempos em tempos o “recheio” era trocado e o pano também. Eram feitos em casa. Era orgulho para a dona de casa deixar o colchão bem plano, e uma cama bem arrumada era sinônimo de capricho. Nas casas de classe média, havia prestadores de serviço que faziam isso.(Negócios e Ócios – Boris Fausto)

Depois, vieram os colchões de fabricação externa, industrializados, de algodão ou crina, pespontados, lisinhos, mas muito pesados. Arrumar a cama era realmente serviço difícil, para colocar os lençóis brancos, de algodão e deixá-los bem esticados. Mantê-los branco e passá-los a ferro (então de carvão) era outro drama.

Em 1949 tivemos nosso primeiro colchão de molas, Probel. Foi preciso trocar o estrado da cama, de molas e alto, para estrado ripado para acomodá-lo. Um deles durou 40 anos (acho que ainda está “vivo”
Mesmo então, o costume de arrematar a cama na cabeceia com um rolo continuou. Só que minha mãe o chamava de “pirolão”

Pensei que os colchões de espumas de densidades determinadas e bem anatômicos fossem os mais modernos. Engano. Hoje voltaram as molas, mas agora ensacadas uma a uma, com todos os requintes de luxo. Descobriu-se que o tempo que se dorme deve ser confortável porque influi na saúde.
Os mais modestos continuam sendo os de espuma e em alguns nem se cogita em saber a densidade.

Comentários

Anônimo disse…
Olá Vovó Neuza!
Até a pouco tempo eu achava que os colchões mais antigos eram feitos apenas de capim. acabei de comprar uma caminha da marca Patente e minha mãe me disse que seria ideal que viesse com um colchão de crina junto. Crina? Meu Deus quanto tempo levaria para encher um colchão de crina? E paina? Não tem tanta paina assim! Será que ainda existe quem os faça?
Anônimo disse…
Olá Vovó Neuza,
Vejo que a senhora tem muitas informações sobre os colchões antigos. Eu Trabalho no ramo colchoeiro e estou preparando uma palestra sobre a hitória do acabamento de colchões. Acredito que a Senhora possa me ajudar com informações. Talvez ainda tivesse um colchão desses...
Se possível, entre em contato comigo:driacarmona@yahoo.com.br
Abraço
Adriana
Anônimo disse…
Prezada Sra. Neuza!
Veja só que paradigma. Nesta modernidade toda, a despeito da volta das molas, me encontro procurando na Internet, colchões de crina para mim. Minhas melhores noites de sono foram em colchões de crina.
Parabéns pelo blog!
Renata disse…
E eu estou procurando quem faça ainda colchão de algodão, o que eu tinha e que era maravilhoso para dormir, a gente acordava muito descansado, era recheado de algodão e no meio havia uma camada de crina. Alguém sabe quem ainda faça colchão de algodão? Se alguém souber, agradeceria que me indicasse no meu email renata@delduque.org
Unknown disse…
Olá vovó neuza,
preciso muito tirar uma duvida com voce
Se puder me mandar um email alencar_pzo@hotmail.com
Abraço
Siria disse…
Conheci esses colchões, de crina, de palha de milho e de algodão paina de paineira em saco de tecido listrado de algodão grosso.
Tambem presenciei minha mae acolchoando os colchoes de vrina fazendo pontos tipo captone, com cordão grosso. Ela aprendeu a fazer os colchões e os cobertores também. Quem ensinou a técnica de acolchoamento foram ministradas pela LBA Legiao brasileira de Assistência.
Conheço pessoas que sabem.a tecnica e ainda fazem como artesãs.
Siria 51 983638766. Sera um prazer ajudar
Anônimo disse…
Eu dormi nos de crina lá em MG.
Era bom
Mas se tivesse crianças que faziam xixi na cama era bem difícil de lavar.
Ontem aqui Em Los Angeles comentei com minha filha sobre isso.
Tudo passou e virou saudades. Oh Minas Gerais.❤️
Unknown disse…
Adorei a matéria. Embora tenha conhecido os colchões de palha, esta lembrança não vem assim, à tona, com facilidade.
Você a trouxe para mim, neste seu post.

Usamos colchões de palha por muitos anos, mas em muitas casas da minha cidade já havia colchão de mola. As casas mais modestas demoraram um bom tempo para mudar, e já fomos direto para os colchões de espuma. Mola era luxo.

E para que os colchões de palha ficassem retinhos como os das outras casas, a gente tinha de fazer um verdadeiro malabarismo com as palhas, a capa, as cobertas e, por fim, a colcha. E depois, vigiar o tempo todo pra que ninguém da casa ou algum amigo, se sentasse na cama e desfizesse o trabalho. A cama ficava arrumadinha, retinha, sem ondas ou curvas...

Coisas da infância que trazem uma alegria íntima e genuína.

Agradeço pela lembrança.
Carlos Alberto NASCIMENTO disse…
Realmente muito bom o poste gostei bastante da matéria

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