MINHA VIDA DE ESTUDANTE-2006

2006 foi um ano muito especial em todos os sentidos.
Consegui conciliar horários e disponibilidade domestica com um curso que me perseguia há muito tempo: Psicologia Social. Desde 2000, quando me envolvi com o livro “Memória e Sociedade” de Ecléa Bosi, tento entender do assunto para melhor aproveitar o conteúdo do livro. Não tenho a necessária base na matéria. Durante dois meses pude partilhar aulas, conceitos, ensinamentos e, sobretudo conviver com uma pessoa tão especial como Ecléa Bosi. Seu carisma, sua tranqüilidade, sua atenção e humildade me prenderam mais e mais à sua figura. Hoje não me sinto intimidada por sua importância e fama. Conhecendo-a e assistindo suas aulas, somei mais uma realização à minha contabilidade de expectativas.

E, dentro da Psicologia Social, Ecléa nos deixou agora o Zeca Moura, uma figura impar, com seu estilo próprio, nunca resistindo em trilhar caminhos secundários, terciários,... Nas explicações, mesmo que isso signifique dificuldade em voltar ao início. Acompanhar se raciocínio não é fácil. Meu aproveitamento deixa a desejar. Mas o que fica é precioso.

Continuo com a Reproposta da ECA e já estou envolvida com matérias para o segundo número da revista.

Ainda dentro da USP estendo meus tentáculos em outras atividades: com o prof. César Ades planejo uma exposição de memória “A Glette e seus Psicólogos”. Envolvo-me muito, vou fundo nas pesquisas e acho que vai sair coisa boa. Quando dá, ainda me ligo ao pessoal da Biociência e falo com Gilberto Kerbauy, Carlos Vilela e a ex-colega agora amiga Eudóxia Froehlich a respeito da Figueira da Glette.

Meu envolvimento com a USP ainda tem mais um ponto de união: Bruno, meu neto faz a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e muitas vezes nos encontramos, ambos como alunos..

Estranho muito o ambiente é claro. Sai da USP em 1951 e volto em 2005. São 54 anos passados em que o mundo mudou, mudou a sociedade, mudaram os valores, mudaram os hábitos, mudei eu. Encontrei diferenças de espaço, de comportamento, de atitudes.

Adoro a USP, adoro o campus, sinto-me bem nesse espaço. Chego a preferir ir de ônibus para me integrar mais, conhecer melhor o campus e usufruir dele, nesta que eu chamo de minha nova vida uspiana.

No segundo semestre de 2006, embora as coisas aqui em casa estivessem num baixíssimo astral, com minha mãe apagando muito lentamente, eu resolvi que me inscreveria nos cursos que mais me atraíram e deixando as coisas acontecerem. Quando o problema era mais sério, faltava à aula.

Escolhi para este segundo semestre Psicologia Social II porque queria continuar ligada à Psicologia e dar continuidade à matéria. Desta vez fomos premiadas com duas professoras classe A: Vera Paiva e Belinda Mandelbaum.

E as coisas foram correndo bem. Neste semestre já me sentia mais à vontade com os meninos e meninas da graduação. Tínhamos nos acostumado uns com os outros. Não conseguimos fazer os trabalhos de campo porque nossa idade não permite, mas acompanhamos o que os jovens fazem. Leio muitos textos, aprendo muitas coisas e faço os trabalhos que consigo.

No Instituto de Psicologia me sinto em casa. E continuo o meu envolvimento com a exposição sobre A Glette e seus Psicólogos. É trabalho de paciência, muitas reuniões.
E, no arrasto do tempo da Glette voltei a trabalhar com a Figueira. Muita obstinação e dedicação de um botânico- Gilberto Barbante Kerbauy – e agora acabamos plantando dois clones conseguidos por alporquia: um no jardim da Psicologia - dia 22 de novembro - e outro na Praça do Por do sol da USP – no dia 24 de novembro. Foram eventos abrangentes, em termos uspianos.

Continuei também com a Reproposta da ECA e escrevi novas matérias pra a revista. Entrei com duas contribuições: “Entre Bolas Bonecas e Soldadinhos de Chumbo” e “A Voz dos Objetos - O Baú da Memória”. As duas foram escolhidas para fazer parte da revista deste ano.

Estudando bem as opções oferecidas pela Universidade Aberta à Terceira Idade, escolhi pelo nome um outro curso que me atraiu logo: “Musica e Memória – Antologia de Serestas ao Luar”. O curso foi uma surpresa atrás de outra. A cada aula uma maravilha maior. O carisma do prof., sua sensibilidade, sua capacidade de passar emoções e motivar a classe, superou tudo o que se poderia esperar. Marcos Ferreira Santos me encantou e nos encantou a todos. Salas sempre cheios, idosos ou não partilhando de música de um tempo nosso, abordadas de maneira especial. Nas quartas feiras saímos da Educação “iluminados”.

Além das três matérias da USP, ainda faço encontros nos sábados na Casa das Rosas, sob o título de “Escrevivendo” sobre literatura, muita troca de informações, dicas, novidades, muito aprendizado de maneira prazerosa com a coordenação de dois jovens, Gilson e Karen.

O mês de setembro foi terrível. Minha mãe literalmente morrendo. E eu fui estudando o que dava e como dava. Foi uma das maneiras de ir superando o stress. Tudo acabou no dia quatro de outubro e agora sim eu fiquei sozinha mesmo. Tenho todo o tempo do mundo para estudar, trabalhar, viver mais solta, mas ainda não me acostumei e continuo em “liberdade condicional”.

O semestre está no fim, os grupos vão se desfazendo e depois desses meus dois projetos – o plantio dos clones da Figueira e a exposição sobre a Glette – completados, fechei 2006 com saldo positivo, embora tenha perdido minha mãe e uma coisa significativa: o meu status de filha. Não sou mais filha de ninguém. Lá no subconsciente, mexe com a identidade.

(Continua em 2007)

Comentários

Anônimo disse…
Olá Profª Neuza, tudo bom?
quero saber se há uma maneira de entra em contato com a senhora, minha filha Giovanna estuda no Colégio Campos Salles ( Chácara) e precisamos saber a história do colégio na década de 60.
Por favor se pudermos conversar ficaremos muito gratas.
Meu email é: li3103@bol.com.br

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