EU E OS LIVROS...OU OS LIVROS E EU
Dando continuidade aos textos sobre livros, vou postar mais um (o segundo) que ainda não é o ultimo. Ainda vou escrever muito sobre os muitos livros que eu li.
Não senti o prazer de ler muito cedo.
Na minha casa de pessoas simples, eu me lembro que só havia dois livros: Antologia Nacional e Geografia Geral. Devem ter sido de meu pai quando ele estudou para Guarda-Livros.
No primeiro, meu pai leu para mim o poema de Casemiro de Abreu “Meus Oito Anos”, o primeiro que conheci. Se eu não li sozinha, devia ter uns cinco anos. No segundo, via as figuras de lugares de outros mundos. E como a impressão era em preto e branco, sempre me ficou a idéia que outros paises eram escuros, nebulosos, cinzentos, diferentes daqui onde eu podia ver o sol.
Durante o curso primário, nada ficou. Mas, em 1940 meu pai ganhou do Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento um livro que foi realmente o primeiro romance que eu li. “Telma a Princesa da Noruega”. De Maria Corelli. E ficou bem marcado o pais do sol à meia noite. Parecia outro mundo. Durante muitos anos essa impressão perdurou. Quando comecei a registrar minhas memórias e citei o fato, procurei em sebos, livrarias e até no Circulo, esse livro. Não encontrei nem vestígio. No ano passado, 2007, uma participante do grupo Escrevivendo, -Telma- ao me ouvir comentar sobre seu nome me disse que tinha o livro e me emprestou.
Com um espaço temporal de mais de 60 anos, a leitura foi totalmente diferente.
Não mais a fantasia de uma menina de 12,14 anos. Não mais o sonho de amor ideal, começando e florescendo nos padrões da época e do lugar. Não mais a atitude de uma mulher da época. Tudo certinho, tudo encaixado, tudo artificial. A única coisa real foi sempre a descrição do lugar, do tempo, do sol à meia noite e o inverno comprido influindo em todos os comportamentos. Trechos longos, descritivos e desagradáveis de ler. Serviu apenas como comparação.
Nada contra. Foi escrito numa época de romantismo meloso. Uma Madame Delhi mais elaborada, onde se vê resultados de pesquisas., descrições corretas. Redundante, repetitivo. Li num fôlego porque pulei muitos trechos piegas demais e fora do contexto atual.
OUTROS LIVROS
A coleção completa de Monteiro Lobato (infantil e adulto), as duas coleções de Julio Verne, foram livros lidos já depois de casada, quando estávamos montando a biblioteca para os filhos. E aí começaram as compras de livros. Dois a gostar de ler faziam um rombo no orçamento. Mas, os filhos aproveitaram bem.
Não posso comentar todos. Apenas alguns que deixaram marcas.
Não gosto de ler livros emprestados. Gosto de ter os meus porque posso riscar e rabiscar, grifar trechos que eu gosto ou que me dizem algo. Meus livros sempre estão cheios de cores dos marca textos. Quando eles ainda não existiam, constatei que eu já grifava os textos importantes com régua e caneta.
Meus livros têm sempre recorte de jornal, revista, que falam dele. Uma critica um comentário sempre é recortado e anexado. Se fizer uma pesquisa sobre autor também coloco junto. Gosto muito de ler a “orelha” do livro. Me dá uma noção do que ele vai ser. Não gosto de emprestar, mas acabo cedendo a bons argumentos e assim perco muitos livros. Agora, vou comentar apenas sobre alguns.
De Saramago, gosto de todos. A sua maneira de escrever, sui generis, já é um desafio. E eu gosto de desafios. As suas idéias são no mínimo fantásticas: a separação da península Ibérica do resto da Europa e suas implicações em Jangada de Pedra; a alteração de toda uma história de Portugal por uma palavra apenas “não” em vez do “sim” em História do Cerco de Lisboa; A construção do convento de Mafra e a saga do padre Bartolomeu de Gusmão em Memorial do Convento; Em uma cidade todos os habitante ficam cegos de repente, menos uma pessoa – Ensaio sobre a Cegueira. E por aí vai.
De Saramago, não muito conhecido é Levantado do Chão que aborda a vida dos camponeses de Alentejo na época de Salazar. São capítulos tão densos que eu só podia ler um por vez. Há a descrição de uma tortura que ele vai contando junto com o deslocamento de um carreiro de formigas, dando uma idéia do que acontece, quanto tempo dura a tortura, sem escrever com linguagem direta. Vale a pena ler em voz alta.
Mas, o que merece mais atenção minha é “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” um livro polemico que ou se ama ou se detesta. Se você tem dogmas religiosos arraigados não leia. Vai dar um nó na cabeça.
Logo na primeira parte, quando o autor descreve a crucificação de Cristo, a força do texto é tão grande que se tem a impressão que os personagens vão sair do quadro. Procurei muito saber em qual das crucificações Saramago tinha se baseado – porque há “n” quadros do assunto. Consegui saber que foi o “Crucification” de Albrecht. Dürer, Mas não encontrei sua imagem.
Do mesmo livro, a conversa de Deus, o Diabo e Jesus – aqui no meio do mar nebuloso e não no deserto como dizem os evangelhos. Merece ser lido em voz alta e várias vezes para analisar e meditar.
E tantos outros trechos que só lendo o livro com atenção.
Mais um apenas: No País das Sombras Longas. Seria uma “reportagem romanceada”. Há muita pesquisa. As descrições do local e dos hábitos são corretas. Muito interessante para conhecer um outro mundo, onde se pensa diferente por força das circunstâncias ambientais. Coisas chocantes para nós são perfeitamente explicáveis para eles.
O nome se refere aos habitantes do “cucoruto” do mundo, onde o sol passa na tangente e as sombras são longas. À medida que descem rumo ao Equador, as sombras vão ficando cada vez mais curtas.
Fiquei muito brava na segunda parte do livro onde os “brancos” interferem nas tradições e causam uma grande confusão mental em uma esquimó. É a mesma história de sempre: uns acham que o seu é o certo e tentam impor suas idéias. Me lembrou muito o caso dos jesuítas de São Paulo, querendo “civilizar” os índios, impor seus valores destruindo os deles.
Saiu uma continuação do livro, mas, nem guardei o nome. Não gostei.
Há muitos outros que gostaria de comentar, mas vou fazê-lo aos poucos.
Não senti o prazer de ler muito cedo.
Na minha casa de pessoas simples, eu me lembro que só havia dois livros: Antologia Nacional e Geografia Geral. Devem ter sido de meu pai quando ele estudou para Guarda-Livros.
No primeiro, meu pai leu para mim o poema de Casemiro de Abreu “Meus Oito Anos”, o primeiro que conheci. Se eu não li sozinha, devia ter uns cinco anos. No segundo, via as figuras de lugares de outros mundos. E como a impressão era em preto e branco, sempre me ficou a idéia que outros paises eram escuros, nebulosos, cinzentos, diferentes daqui onde eu podia ver o sol.
Durante o curso primário, nada ficou. Mas, em 1940 meu pai ganhou do Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento um livro que foi realmente o primeiro romance que eu li. “Telma a Princesa da Noruega”. De Maria Corelli. E ficou bem marcado o pais do sol à meia noite. Parecia outro mundo. Durante muitos anos essa impressão perdurou. Quando comecei a registrar minhas memórias e citei o fato, procurei em sebos, livrarias e até no Circulo, esse livro. Não encontrei nem vestígio. No ano passado, 2007, uma participante do grupo Escrevivendo, -Telma- ao me ouvir comentar sobre seu nome me disse que tinha o livro e me emprestou.
Com um espaço temporal de mais de 60 anos, a leitura foi totalmente diferente.
Não mais a fantasia de uma menina de 12,14 anos. Não mais o sonho de amor ideal, começando e florescendo nos padrões da época e do lugar. Não mais a atitude de uma mulher da época. Tudo certinho, tudo encaixado, tudo artificial. A única coisa real foi sempre a descrição do lugar, do tempo, do sol à meia noite e o inverno comprido influindo em todos os comportamentos. Trechos longos, descritivos e desagradáveis de ler. Serviu apenas como comparação.
Nada contra. Foi escrito numa época de romantismo meloso. Uma Madame Delhi mais elaborada, onde se vê resultados de pesquisas., descrições corretas. Redundante, repetitivo. Li num fôlego porque pulei muitos trechos piegas demais e fora do contexto atual.
OUTROS LIVROS
A coleção completa de Monteiro Lobato (infantil e adulto), as duas coleções de Julio Verne, foram livros lidos já depois de casada, quando estávamos montando a biblioteca para os filhos. E aí começaram as compras de livros. Dois a gostar de ler faziam um rombo no orçamento. Mas, os filhos aproveitaram bem.
Não posso comentar todos. Apenas alguns que deixaram marcas.
Não gosto de ler livros emprestados. Gosto de ter os meus porque posso riscar e rabiscar, grifar trechos que eu gosto ou que me dizem algo. Meus livros sempre estão cheios de cores dos marca textos. Quando eles ainda não existiam, constatei que eu já grifava os textos importantes com régua e caneta.
Meus livros têm sempre recorte de jornal, revista, que falam dele. Uma critica um comentário sempre é recortado e anexado. Se fizer uma pesquisa sobre autor também coloco junto. Gosto muito de ler a “orelha” do livro. Me dá uma noção do que ele vai ser. Não gosto de emprestar, mas acabo cedendo a bons argumentos e assim perco muitos livros. Agora, vou comentar apenas sobre alguns.
De Saramago, gosto de todos. A sua maneira de escrever, sui generis, já é um desafio. E eu gosto de desafios. As suas idéias são no mínimo fantásticas: a separação da península Ibérica do resto da Europa e suas implicações em Jangada de Pedra; a alteração de toda uma história de Portugal por uma palavra apenas “não” em vez do “sim” em História do Cerco de Lisboa; A construção do convento de Mafra e a saga do padre Bartolomeu de Gusmão em Memorial do Convento; Em uma cidade todos os habitante ficam cegos de repente, menos uma pessoa – Ensaio sobre a Cegueira. E por aí vai.
De Saramago, não muito conhecido é Levantado do Chão que aborda a vida dos camponeses de Alentejo na época de Salazar. São capítulos tão densos que eu só podia ler um por vez. Há a descrição de uma tortura que ele vai contando junto com o deslocamento de um carreiro de formigas, dando uma idéia do que acontece, quanto tempo dura a tortura, sem escrever com linguagem direta. Vale a pena ler em voz alta.
Mas, o que merece mais atenção minha é “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” um livro polemico que ou se ama ou se detesta. Se você tem dogmas religiosos arraigados não leia. Vai dar um nó na cabeça.
Logo na primeira parte, quando o autor descreve a crucificação de Cristo, a força do texto é tão grande que se tem a impressão que os personagens vão sair do quadro. Procurei muito saber em qual das crucificações Saramago tinha se baseado – porque há “n” quadros do assunto. Consegui saber que foi o “Crucification” de Albrecht. Dürer, Mas não encontrei sua imagem.
Do mesmo livro, a conversa de Deus, o Diabo e Jesus – aqui no meio do mar nebuloso e não no deserto como dizem os evangelhos. Merece ser lido em voz alta e várias vezes para analisar e meditar.
E tantos outros trechos que só lendo o livro com atenção.
Mais um apenas: No País das Sombras Longas. Seria uma “reportagem romanceada”. Há muita pesquisa. As descrições do local e dos hábitos são corretas. Muito interessante para conhecer um outro mundo, onde se pensa diferente por força das circunstâncias ambientais. Coisas chocantes para nós são perfeitamente explicáveis para eles.
O nome se refere aos habitantes do “cucoruto” do mundo, onde o sol passa na tangente e as sombras são longas. À medida que descem rumo ao Equador, as sombras vão ficando cada vez mais curtas.
Fiquei muito brava na segunda parte do livro onde os “brancos” interferem nas tradições e causam uma grande confusão mental em uma esquimó. É a mesma história de sempre: uns acham que o seu é o certo e tentam impor suas idéias. Me lembrou muito o caso dos jesuítas de São Paulo, querendo “civilizar” os índios, impor seus valores destruindo os deles.
Saiu uma continuação do livro, mas, nem guardei o nome. Não gostei.
Há muitos outros que gostaria de comentar, mas vou fazê-lo aos poucos.
Comentários
Parabéns, querida!
Um beijo grande
Roseli
ordonez@usp.br, agradeço a atenção,
Tiago
Há anos procuro o livro Thelma - A Princesa da Noruega, e nunca desisto de procurá-lo... só que dessa vez deparei-me com seu blog.
Que legal, adorei!
E, será que você sabe onde posso encontrar o livro?
beijossss e muitas bênçãos!
Beta
Meu E-mail.
madastella@boll.com.br, por favor me dê uma dica ok?bjs.
Meu nome é graças a este livro, mas eu nunca o encontrei para ler e e entender a razão da escolha. E como ja postaram gostaria muito de conhecer esta historia. Tenho lembraça da minha mãe (falecida há 32 anos)falando só que tirou o meu nome dai, mas nunca me contou porque. Hoje com 48 anos, ainda busco este resgate. E também como os outros deixo o meu e-mail, para receber noticias. Obrigada
Telma Ivanise email: telmaivc@ig.com.br
Martha DElhi
Me chamo Júlio e estou ajudando meu pai a dar de presente a minha mâe um dos primeiros livros que ela leu na vida, que foi exatamente "THELMA A PRINCEZA DA NORUEGA". Como soube aqui no Blog que a Sra. pôs suas mâos, ainda que por pouco tempo, num exemplar deste livro, gostaria de saber se poderia me ajudar a conseguir ao menos uma cópia. Me colocar em contato com o dono do livro ou qualquer outra forma de auxílio.
Obrigado, nosso e-mail é fam_costa@uol.com.br
Depois de ler seu comentário ,acho que vou parar de procurar,pois a história está nas minhas recordações como algo belo incomparavel e não quero mudar isso,é como mudar algo de belo do meu passado, quero guardar esse encanto como esta. obrigado
Esquece o que leu hoje ,lembre do sol da meia noite dos seus verdes anos, ele tem um brilho mais intenso
Adorei o blog vc e incrivel, me inspira, pois quando parei tive pouca disposiçao para manter-me disciplinada, virei uma folgada e agora aos 70 tenho muita dificuldade para começar qualquer atividade.
Parabens pelo belo exemplo, com caloroso abraço
Beth
Parabéns pelo blog!
Cheguei até você por conta de ,também, muito procurar o romance Thelma, a Princesa da Noruega. No passado, por volta do ano de 1936, casamento dos meus pais, ele deu de presente a ela, esse doce romance.Todos os filhos o leram na infância ... e alguém o levou para sempre... Triste em saber que não vou conseguir encontrar outro... será?
Espero sua resposta, por favor!
Meu abraço, Jandira.
Meu e-mail: jandagb@terra.com.br.
cimorandi@bol.com.br
cimorandi@bol.com.br